Como quase tudo considerado erudito, King Crimson não pode ser ouvido sem uma compreensão ou degustação prévia. Cada obra produzida é vai além do seu gênero e se torna uma obra de arte maior do que se propõe. Toda vez que escuto King Crimson tenho a impressão que Robert Fripp e sua trupe se propõe a alçar voos maiores do que a música. É um extremo que nem todos estão preparados ou querem se aventurar.

“Three of a Perfect Pair” foge do unilateral e fala da transformação que acontece no encontro de duas individualidades, ou seja, o par é tão perfeito que se cria algo além. O lado A é mais acessível e o lado B mais experimental. Ou pelo menos, foi assim que Fripp descreveu: “O álbum apresenta dois lados distintos da personalidade da banda, o que causou ao menos tanta confusão para o grupo quanto para o público e a indústria. O lado esquerdo é acessível, o lado direito excessivo”. O lado A era composto por um tema lírico, os sonhos e o seu impacto na vida, o lado B, com uma pegada mais industrial, tecnológica.

A produção de “Three of a Perfect Pair” começou em janeiro de 1983, em Champaign, Illinois, quando eles se reuniram para conversar sobre o novo disco, ver ideias, fazer improvisações e tudo o mais por quinze dias. Eles se encontraram novamente em Devon, Pensilvânia, lá por maio para mais uma tentativa, e logo depois em Londres, no Marcus Studios. Fripp e Belew se reuniram em setembro e só finalizaram o disco nos dois últimos meses do ano de 1983, no Bearsville Studios em Woodstock. O álbum pode ser visto também como a terceira parte da trilogia com a quarta formação da banda, iniciada em 1981 com Discipline e Beat, já que a formação terminou em julho de 1984.

Ele foi lançado em 27 de março de 1984. A capa foi feita pelo Timothy Earnes com o design do símbolo de Peter Willis, e segue a linha de uma dupla na parte da frente, que, segundo Fripp seriam o masculino e o feminino. Na parte de trás do álbum, ela aparece novamente e é complementada por uma terceira parte, seguindo o princípio de pai, mãe e filho. “O título veio do nada. Isso veio à minha mente e foi rapidamente reconhecido pelos caras como um título adequado para a trilogia dos anos oitenta.”, disse Bellew.

Romântica, melancólica, com o vocal um pouco arrastado, e o ritmo quase pop-new age, “Three of a Perfect Pair”, abre e dá título ao álbum. “Model Man” encarna a produção musical dos anos 80 e traz uma pegada bem comercial para o som. Reza a lenda que “Sleepless” teve uma inspiração sobrenatural por conta da dificuldade de Belew em dormir durante a produção no Bearsville Studios. “Ele afirmou que a casa era mal-assombrada e que ele estava tendo alguns sonhos muito estranhos, mas você tem quando está contra o prazo e tem letras para escrever. Adrian ganhou cada centavo por essas palavras.”, disse Bruford. “ Man with an Open Heart” e “Nuages” terminam o lado A, ou left side, e portanto as composições mais bonitinhas e comerciais. É preciso que se entenda que mesmo que esse termo seja aplicado, King Crimson ainda fica muito longe do mercadológico.

O Right Side ou Lado B, ou ainda o lado excessivo, começa com o que foi definido como poema musical “Industry”, a mais longe viagem sonora do álbum. “Foi sugerido a certa altura que entrássemos no estúdio e realmente não prestássemos atenção um no outro, mas ainda tentássemos ir na mesma direção, se é que você me entende”, disse Belew. “É assim que muito do surgiram coisas com sonoridade industrial simplesmente entrando lá e tentando fazer um ‘barulho todo poderoso’, como Robert o chama.”. “Dig Me” é bastante experimental e parece como se fosse uma desconstrução da música em si, já que o vocal se alterna em falado e um backing vocal no que é, ou deveria ser, o refrão. “No Warning” é audívelmente uma manifestação artística. O álbum termina com “Larks’ Tongues in Aspic, Part III”.

“Three of a Perfect Pair” não se torna a terceira parte da dupla perfeita, pelo contrário. A terceira parte é uma divisão clara das personalidades que, em vez de entrarem no consenso criativo, cederam um, a cada lado. Não se vê uma obra completa com as influências de cada parte, mas a junção das duas partes no todo. É visível que as diferenças criativas da banda tenham se tornado tão intensas que foram se distanciando cada vez mais.

King Crimson – Three of a Perfect Pair
Data de Lançamento: 27/03/1984
Gravadora: E.G. Records

Tracklist:
– “Left Side” –
1. Three of a Perfect Pair (4:11)
2. Model Man (3:56)
3. Sleepless (5:20)
4. Man with an Open Heart (3:00)
5. Nuages (That Which Passes, Passes Like Clouds) (4:42)
– “Right Side” –
6. Industry (7:22)
7. Dig Me (2:59)
8. No Warning (3:28)
9. Larks’ Tongues in Aspic, Part III (6:01)

Formação:
Adrian Belew: vocal, guitarra, guitarra fretless, synth
Robert Fripp: guitarra, synth
Tony Levin: baixo, synth, backing vocals
Bill Bruford: bateria e bateria elétrica

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