Essa moça que vos escreve tinha na época apenas um ano de vida, quando o King Crimson lançou seu segundo álbum de estúdio “In the Wake of Poseidon” (1970), que apesar da mudança na formação ainda possui muitas semelhanças com “In the Court of the Crimson King”, seu álbum de estreia, lançado no ano anterior. Sua sonoridade, embora progressiva, é muito psicodélica e introspectiva, com diversas passagens instrumentais. Apesar da ótima receptividade ao seu lançamento, tanto de público, quanto de crítica, houve uma certa resistência a ele por sua semelhança com o primeiro disco, tanto no estilo, quanto no conteúdo. O motivo da semelhança foi porque ao final da tour americana de divulgação do álbum de estreia, em fins de 1969, a banda implodiu. Ian McDonald e Michael Giles se demitiram e Greg Lake idealizou a formação de outra banda com Keith Emerson, a ELP. Não havendo muito tempo para gravarem novas músicas, o jeito foi aproveitar material que já fazia parte do repertório da turnê, tanto que antes de deixarem a banda os músicos concordaram em colaborar.
Após o lançamento do álbum, não havia banda para executá-lo ao vivo. Para resolver o problema os membros remanescentes Robert Fripp e Peter Sinfield convenceram Gordon Haskell para assumir os vocais e o baixo de forma definitiva e em seguida, o baterista Andy McCulloch.
Uma das características mais interessantes está na concepção da arte do disco, chamada de “Os 12 arquétipos” ou “As 12 faces da humanidade”. As fotos usadas foram pintadas por Tammo de Jongh, em 1967, para um livro de Richard Gardner.
O que é retratado nesta arte? As 12 faces da imagem são “O louco (fogo e água)”, “A atriz (água e fogo)”, “O observador (ar e terra)”, “A velha mulher (terra e ar)”, “O guerreiro (fogo e terra)”, “O escravo (terra e fogo)”, “A criança (água e ar)”, “O patriarca (ar e água)”, “The logician (ar e fogo)”, “O coringa (fogo e ar)”, “A encantadora (água e terra)” e “A Mãe-Natureza (terra e água)”.
Em 2010, foi feita por Robert Fripp e Steven Wilson uma reedição com faixas remixadas e adição de faixas bônus.
O álbum se inicia com o primeiro de 3 interlúdios “Peace-A Beginning”, um canto narrativo de 50 segundos. Segue a esta introdução “Pictures of a City”, uma longa faixa jazzística, cheia de nuances, como se fosse uma trilha de um filme de gangster. Traz uma ótima linha de baixo e um acompanhamento de saxofone.
“Cadence and Cascades”, a faixa seguinte, é uma balada, iniciada no violão, trazendo um vocal emocional, quase sussurrado. Ainda tem um belo acompanhamento dos teclados e uma flauta, proporcionando uma atmosfera bucólica.
A faixa título vem em seguida, finalizando o que seria o lado A do LP. “In the Wake of Poseidon” é longa também, mais lenta e densa, com uma ótima execução da cozinha.
O segundo interlúdio “Peace-A Theme” faz a introdução do lado B, uma faixa instrumental lindamente dedilhada no violão. Segue a esta “Cat Food”, a faixa mais agitada do play, provavelmente a melhor faixa, também jazzística, com vocal mais acelerado e a trinca bateria, baixo e teclados funcionando muito bem.
Entra então “The Devil’s Triangle”, um instrumental dividido em 3 partes. A primeira “Merday Morn” em tom baixo, que vai crescendo e finalizando com um ar de mistério. A segunda “Hand Of Sceiron” é um pouco mais marcheada, e finaliza ao som de uma ventania. A última parte “Garden Of Worm” é mais intensa, tensa, com os teclados atribuindo a ela um ar de fuga.
O disco termina com o último interlúdio “Peace-An End”, sussurrada num canto melódico, finalizando com o violão acompanhando os vocais.
No lançamento de 2010 foram acrescentadas 3 faixas. A instrumental “Groon”, “Peace-An End”, com mixagem alternativa e uma versão de “Cadence and Cascades” com os vocais de Greg Lake.
O álbum é um intricado trabalho instrumental, progressivo e psicodélico, um marco para época.
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8/10