Se levarmos em consideração a forma como o King Crimson atravessou todas essas décadas, desde a sua formação, seria complicado falar em termos de fases ou coisas semelhantes. O grupo foi muito dinâmico e distante de qualquer atitude que os aproximasse do conceito de “estático”. Seja em postura ou em sonoridade, desafiando os conceitos mais formais a respeito de como uma banda deve atuar.
Mas, como estamos falando do álbum “Discipline”, podemos abrir uma breve exceção e adentrar no tema sobre fases, pois há um ponto de corte bem preciso aqui. A banda estava há sete anos sem lançar um novo álbum e, na visão do guitarrista e líder Robert Fripp, iria continuar sem lançar por mais alguns, pois a ideia inicial não era retomar o King Crimson. Fripp estava arregimentando músicos para uma nova banda que chamar-se-ia Discipline. Conseguiu manter esse conceito apenas por alguns ensaios, pois brevemente se convenceu de que aquele novo agrupamento não poderia ter outro nome que não fosse King Crimson.
Estávamos em 1981 e o mundo da música apontava os seus holofotes para a New Wave. Como o King Crimson não era dominado pelas mesmas estagnações puristas que engessam tantas carreiras, aquele novo e vibrante estilo foi incorporado ao seu modo de ser. Entre todas as bandas que estavam em ação, uma se destacou mais dentro do resultado de “Discipline”: o Talking Heads. Não foi, porém, por acaso. Fripp já havia participado como convidado da música “I Zimbra”, do álbum “Fear of Music”, de 1979, e Adrian Belew tocou em “Remain In Light”, de 1980, e no disco de estreia do projeto paralelo Tom Tom Club, do casal Tina Weymouth e Chris Frantz, de 1981, além de apresentar-se ao vivo com os Heads.
Foi através de seu trabalho com David Bowie e com o Taliking Heads, que Fripp chegou até Belew e fez o convite para integrar o Discipline. Belew precisou, antes, desvencilhar-se de seus compromissos e a gravação do novo álbum do Crimson teve início simultâneo à finalização da gravação do Tom Tom Club. Fripp já estava acompanhado do baterista Bill Bruford, da encarnação anterior da banda e, para fechar o quarteto, foi chamado o baixista Tony Levin.
A presença deste último ajudou o Crimson a alcançar arranjos ainda mais desafiadores do que nunca, pois o contrabaixo convencional é apenas um de seus instrumentos. Levin, que vinha da banda de Peter Gabriel, costuma utilizar o Chapman Stick, um instrumento de doze cordas que ele ataca com o manuseio dos funky fingers, espécie de mini-baquetas adaptadas aos dedos, gerando um som mais percussivo no instrumento.
O novo quarteto, portanto, era um celeiro de gênios e permaneceu coeso pelo tempo suficiente para criar uma trilogia de álbuns – dos quais este “Discipline” é o primeiro – até entrar em um novo hiato. Pela primeira vez, Fripp dividia a função de guitarrista dentro do grupo e o resultado pode ser notado a partir da faixa de abertura, “Elephant Talk”, mas em “Frame by Frame” a coisa torna-se monstruosa, com uma base elíptica de absurda complexidade.
“Matte Kudasai” é uma bela balada com um leve toque oriental e guitarras etéreas. “Indiscipline”, por outro lado, é uma música mais experimental e complexa, com muitos tempos quebrados. “Thela Hun Ginjeet” é uma lição de contrabaixo, merecendo ser estudada por quem aprecia o instrumento.
O álbum termina com duas instrumentais. “Sheltering Sky” tem Bruford realizando a percussão em tablas, enquanto Fripper abusa dos seus famosos frippertronics, e a faixa título conclui o tracklist progredindo com aquelas paradas e acordes típicos do conjunto, que evoluem e se entrelaçam da mesma foram que sugere a ilustração da capa.
“Discipline” é, decerto, um dos álbuns mais importantes da discografia desse Rei Escarlate e possui um lugar de destaque na preferência dos fãs. O Rock Progressista encontra a sua mais perfeita definição na música do King Crimson.
Discipline – King Crimson
Data de Lançamento: 22/09/1981
Gravadora: Warner Bros
Tracklist:
1 Elephant Talk
2 Frame by Frame
3 Matte Kudasai
4 Indiscipline
5 Thela Hun Ginjeet
6 The Sheltering Sky
7 Discipline”
Formação:
Adrian Belew – guitarra, vocal
Robert Fripp – guitarra
Tony Levin – chapman stick, baixo
Bill Bruford – bateria, tabla