Roadie Metal Cronologia: Kataklysm – Victims of This Fallen World (1998)

Ao decorrer da década de 90, o Heavy Metal como um todo passou por enormes mudanças. Estilos novos surgiram, enquanto estilos consagrados passaram por um sumiço repentino. Muitas bandas clássicas tiveram sua “fase baixa” nessa época, enquanto outras surgiram e/ou floresceram no mesmo período de tempo. Foi, sem um pingo de dúvidas, uma época transitória para a música pesada.

Embora muitas dessas mudanças sejam geralmente vistas como o Metal tomando uma forma mais “mainstream”, com a ascensão do Nu Metal, e muitas bandas lançando seus álbuns mais comerciais nesta época, as mudanças também atingiam ao underground. No Death Metal, um dos estilos mais extremos e mais longe do mainstream possíveis, não foi diferente. Seja com o som cavernoso do Cannibal Corpse, a progressividade que o Death passou a implementar, ou o crescimento da fortíssima e super influente cena Sueca, o Death Metal estava também se espalhando em ramos.

E também fez parte dessa mudança o Kataklysm, protagonista deste texto, pois em 1998 a banda lançava “Victims of This Fallen World”, seu terceiro disco de estúdio e o marco da transição entre duas eras da banda.

A banda vinha de uma mudança interna significante: A saída do vocalista Sylvain Houde, que foi substituído por Maurizio Iacono, que até então tocava baixo na banda. As quatro cordas foram assumidas por Stéphane Barbe, deixando Maurizio como apenas frontman.

A mudança se deu ainda mais significante com o lançamento do disco, que mostrou uma sonoridade vastamente diferente do que o Kataklysm vinha trabalhando até então. Enquanto os dois primeiros álbuns são extremos no sentido mais puro da palavra, e têm uma pegada bem caótica, “Victims of This Fallen World” trouxe uma tonelada de novos elementos para a banda. Além do Groove, aposta na qual muitas bandas estavam colocando suas fichas na década de 90, a banda também incorporou mais melodias e um certo nível de progressividade no seu som. Uma certa influência das novidades recém introduzidas pelo At the Gates também podia ser ouvida, principalmente nas faixas “As My World Burns”, “Imminent Downfall” e “Embracing Europa”. Até pitadas mais alternativas, e quase Industrial pode ser vista na faixa “(God) Head”.

Obviamente, um álbum com tantas mudanças assim está fadado a dividir o público, e assim foi. Porém pode-se dizer que o Kataklysm mais cativou do que espantou, pois este álbum marca os primeiros passos da banda em direção ao estilo do qual adotaria como seu, e angariou uma nova geração de fãs.

Independente de opiniões sobre a nova sonoridade da banda, a verdade é que os canadenses merecem pontos por originalidade. “Victims of This Fallen World” parece simples de início, mas acredite, é um álbum que surpreende o ouvinte faixa após faixa. E logo quando ele parece estar caindo na mesmice na metade do disco, a banda vira tudo de cabeça para baixo e começa a atacar os seus tímpanos com seus trabalhos mais imprevisíveis. “I Remember” é um ótimo exemplo disso, com uma introdução no violino acompanhada de um riff pesadíssimo, progredindo em uma música cadenciada e metódica. A faixa de encerramento “Caged In” tem um Groove quase Nu Metal (talvez próximo até demais para o gosto de alguns), mas eis que no meio da música a banda decide jogar um blastbeat para te deixar esperto. O álbum é repleto desses momentos que te pega de guarda baixa, tornando quase impossível não respeitar a criatividade e a ousadia de injetar tanta coisa nova em um estilo como o Death Metal.

Porém, nem tudo são flores. O álbum também tem seus momentos que não funcionam tão bem. A primeira metade do disco se torna repetitiva rapidamente. As linhas de vocais de Maurizio Iacono também estavam longes de atingir o seu ápice, e é evidente aqui. Não são exatamente ruins, mas carecem de refinamento. E os momentos limpos e falados (alguns quase remetendo a uma tentativa de Rap), nem sempre acertam o alvo também, em momentos conseguindo criar uma atmosfera interessante (como na já citada anteriormente “I Remember”), porém em outros momentos soam esquisitos, desanimados ou, novamente, como mais uma banda de Nu Metal.

No fim das contas, este é um álbum no mínimo intrigante. Os fãs mais puristas podem torcer o nariz, mas a verdade é que o Kataklysm apostou na mudança e na inovação, e conseguiu resultados interessantes. O álbum poderia sim ser um pouco menor e descartar alguns dos momentos mais previsíveis, principalmente da primeira metade. Mas a audição ainda vale a pena, mesmo que apenas para apreciar a criatividade inusitada de uma banda de Death Metal, que decidiu reformular seu estilo para se destacar das demais.

Tracklist

01 – As My World Burns

02 – Imminent Downfall

03 – Feared Resistance

04 – Portraits of Anger

05 – Extreme to the Core

06 – Courage Through Hope

07 – A View From Inside

08 – (God)Head

09 – Embracing Europa

10 – I Remember

11 – World of Treason II (Instrumental)

12 – Caged In

Formação

Maurizio Iacomo – Vocal

Jean-François Dagenais – Guitarra

Stéphane Barbe – Baixo

Max Duhamel – Bateria

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