Até então todas as reviews que fiz para o Roadie Metal Cronologia permaneceram, de uma certa forma, na zona de conforto: bandas que eu nunca havia escutado, mas das quais tinha alguma referência, pois algum amigo escutava e recomendava. Com o Kamchatka, foi bem diferente. Uma banda da qual eu nunca havia ouvido falar nem o nome, que é de um país nem tão comum ( já discutiremos melhor este tópico)… Realmente não sabia o que esperar.
Em primeiro lugar, até ouvir a banda eu tinha certeza que era russa, pelo nome Kamchatka (que curiosamente é o nome de uma península na Rússia). Ao pesquisar, descobri que era uma banda da Suécia, o que já foi uma surpresa por si só. As referências que tenho sobre a Suécia são do metal extremo, sobretudo o Black Metal. E com esse nome eu realmente achei que seria uma banda de death/black metal ou alguma variação. Eu não poderia estar mais enganado.
O estilo do Kamchatka, pelo menos no seu segundo trabalho, “Volume II”, de 2007, é na verdade bem curioso: a banda às vezes se assimila ao grunge (inclusive a voz do vocalista, Juneor, é bem parecida com a do falecido Chris Cornell); em outras vezes toca aquele tipo de som que não sei classificar, mas que é o estilo da banda Black Crowes, um tipo de blues que não é totalmente blues; às vezes toca algo similar a um Stoner; tem alguns elementos bem progressivos; country… Não sei realmente classificar o estilo da banda, não por este álbum. E isso na verdade é ótimo!
O Kamchatka realmente surpreende o ouvinte, que, assim como eu, provavelmente não vai ter nenhuma referência sobre a banda, fazendo cada música ser de um estilo único, mas sem parecer que estão simplesmente tocando o que dá na telha. A banda está buscando o que toda banda deveria buscar: ter seu próprio estilo, que faça com que quem ouça fale “isso é Kamchatka” sem hesitar.
O que é realmente impressionante neste álbum é o trabalho vocal. Não bastando a voz ótima de Juneor, as músicas contam com uma incrível produção dos vocais, com alguns efeitos inusitados como um phaser, até os mais comuns (porém muito bem aplicados) como reverb. Não só na parte de edição, mas o trabalho feito com os backing vocals também é muito bom.
Claro que, apesar de, para mim, os vocais se destacarem, não vamos menosprezar o trabalho instrumental. O Kamchatka é um power trio, o que poderia fazer com que a parte instrumental fosse extremamente simples, mas se tem algo que o Rush e o The Winery Dogs já nos ensinaram é que dá pra fazer um espetáculo mesmo só com três membros. Com a banda em questão não é diferente. Todos os membros tem habilidades invejáveis em seus instrumentos, e conseguem se destacar em todas as músicas. Mesmo com apenas uma guitarra e um baixo, o som fica bem preenchido (e sem precisar de faixas extras na gravação), mostrando que o brilho aqui está na composição e execução da banda.
O curioso deste álbum é que ele tem somente 11 faixas que resultam em uma duração de mais de uma hora, o que significa que, em média, as músicas tem mais de quatro minutos. No padrão mainstream (e do estilo), isso significa que as músicas são um tanto longas. Porém, mesmo assim, o álbum não é nada cansativo. Cada minuto de cada faixa é aproveitável, as músicas são bem pensadas para não terem nenhuma parte longa demais, o álbum no geral flui muito bem. Mesmo a faixa instrumental – que definitivamente não é meu tipo de som, gosto de vocais – não é cansativa, e vai direto ao ponto.
Normalmente eu faço review faixa por faixa dos álbuns, mas a cada faixa de “Volume II” eu tive uma surpresa diferente, então eu quero que os leitores tenham a mesma reação. Porém, comentarei algo que achei interessante: a faixa “Enemy Maker” é um cover de uma banda de metal chamada Dub War. Porém a música foi tão bem rearranjada no estilo do Kamchatka, que você só sabe que é um cover pesquisando, ou se você eventualmente conhecer a banda que fez a faixa original. Isso é um tanto incomum, conhecemos muitas bandas que fazem uma “versão própria” de uma música de outro artista, mas a música fica extremamente reconhecível, pois geralmente é a intenção que o ouvinte reconheça que é uma versão alternativa de outra música. Neste caso não, o Kamchatka não tenta ganhar fãs novos em cima deste cover, eles adaptam ao estilo deles e a música se mistura perfeitamente no resto do álbum.
Para não gostar deste álbum, é só não gostar de música bem feita, simples assim. Eu dificilmente escuto os estilos que são influência para essa banda, e alguns até não me agradam, mas o Kamchatka consegue misturar tudo isso com um resultado tão bom que não tem como não curtir.
Faixas:
01. Who Am I?
02. Breathe
03. Terminus
04. Withstand
05. From Here
06. Enemy Maker
07. Heritage
08. Sweet Relief
09. Pogonophonics
10. Feel
11. Jigsaw
(Inclui uma faixa bônus não listada)
Formação:
Thomas “Juneor” Andersson (guitarra e vocais)
Roger Öjersson (baixo e vocais)
Tobias Strandvik (bateria)