A saída de Rob Halford provocou desconforto. Muito desconforto. A entrada de Tim “Ripper” Owens em seu lugar, que até pouco antes era só mais um em meio à legião de fãs, era motivo de alerta. O que aconteceria com um Judas Priest que havia encontrado seu apogeu criativo em 1990 com “Painkiller”, mas sofreu um golpe tão duro com a saída de um vocalista de tanta personalidade?
Se “Jugulator” (1997) provocou torcidas de nariz entre fãs do mundo inteiro, a expectativa certamente não era das melhores em relação a “Demolition”, que enfim veio a ser lançado em 2001 através da Steamhammer Records.
“Demolition” é uma continuação direta da sonoridade moderna que teve início em “Painkiller” e se acentuou (com bem menos inspiração, é verdade) em “Jugulator”. Era um caminho já se desenhava automaticamente para ser trilhado, caso a banda quisesse mesmo segui-lo. E assim o foi.
Novamente, não temos um álbum exatamente fácil de se apegar. Não há solos memoráveis, refrões com força gravitacional para atrair facilmente as atenções, músicas de referência inquestionável, pilares de uma discografia… não. Mas também “Demolition” não é exatamente ruim, caso goste de algo moderno.
É um álbum de Heavy Metal. Pesado. Realmente esmagador! Mas as músicas geralmente têm andamento cadenciado e distorcido que lembra bastante a bandas que estavam começando a praticar o que se consolidaria como Nu Metal, tais como Isle of Q, Static-X, Adema e afins. Os riffs de K. K. Downing e Glenn Tipton são porradas no peito que o levam a soltar o ar. Mas seus arranjos, aliados à introdução de participativas bases de teclados tocados pelo convidado Don Airey (Deep Purple, ex-Rainbow e Ozzy Osbourne) e ao pulsante contrabaixo de Ian Hill, acabam por resultar em uma atmosfera intensa, fortemente densa, além de moderna.
Por “moderno”, tenha em mente uma musicalidade cheia de sons de teclados que remetem a fábricas, zonas industriais, além de adornos eletrônicos que lembram maquinários, movimentações robóticas e coisas do tipo cibernético. O vocal de Tim “Ripper” Owens também recebe muita intervenção da produção, feita pelo próprio guitarrista Glenn Tipton, criando efeitos sintéticos que variam desde duplicação, distorção, até reverbs que alguns diriam serem um tanto “esquisitos”.
Por falar em Owens, sua performance é exuberante, como sempre. Não é a todo momento que usa todo seu potencial, tal como exigiria um Judas Priest de alto calibre, mas isso se deve à própria diversidade composicional das linhas vocais. Inúmeros trechos chamam vocais suaves e limpos, cantados como se em transe, mas logo se convertem na agressividade de seus drives e na explosão instrumental. Agudos são pouco explorados, o que é uma pena. Quando um vocalista tem facilidade com agudos, sempre queremos que ele os explore mais.
Certamente, “Demolition” é um álbum mais para se degustar na totalidade do que pra destacar essa ou aquela faixa individual. Ele é absolutamente negro. Sua obscuridade e densidade se tornam maçantes a partir de determinado ponto, o que faz com que seus 70 minutos totais de duração sejam um sacrifício desnecessário. O trabalho poderia ser mais curto e ter mais solos. São raríssimos – um novo desperdício quando se tem uma formação com Downing e Tipton.
O experimentalismo praticado aqui não teve o resultado mais carismático. Embora não seja desastroso, ouvi-lo sabendo que é Judas Priest provoca saudades de “Painkiller” (1990), “Defenders of The Faith” (1984), “Screaming For Vengeance” (1982) e “British Steel” (1980). Felizmente (para muitos), esse foi o último disco com Tim “Ripper” Owens na linha de frente antes da volta de Rob Halford para reacender as esperanças dos fãs mais tradicionais.
Formação:
Tim “Ripper” Owens (vocal);
K. K. Downing (guitarra);
Glenn Tipton (guitarra);
Ian Hill (baixo);
Scott Travis (bateria).
Faixas:
01 – Machine Man
02 – One On One
03 – Hell Is Home
04 – Jekyll and Hyde
05 – Close To You
06 – Devil Digger
07 – Bloodsuckers
08 – In Between
09 – Feed On Me
10 – Subterfuge
11 – Lost and Found
12 – Cyberface
13 – Metal Messiah