Quando lançou “Departure”, o Journey completava uma segunda trilogia em sua discografia. Não que houvesse uma conexão intrínseca entre os álbuns de cada período. No presente caso, estamos apenas fazendo um comparativo da produtividade vinculada com o direcionamento.
Os três primeiros álbuns seguiam uma linha mais Progressiva e Jazz Rock; a partir de “Infinity”, cujo principal marco diferencial é a entrada do vocalista Steve Perry, a banda parte para um som essencialmente AOR e Hard Rock e mantém-se trabalhando efetivamente, entregando um disco por ano.
O alcance de vendas que “Departure” obteve revelou aos músicos o acerto das decisões criativas adotadas na nova fase. A presença de um superhit como “Any Way You Want It”, logo na abertura do álbum, mostra que eles sabiam e tinham consciência do que estavam fazendo. A canção tem aquele tipo de vibração pop irresistível para a programação das rádios e ajudou o álbum a atingir posições elevadas nas paradas.
“Walks Like a Lady” não possui aquele minimalismo característico dos Blues mais tradicionais, mas faz uma competente aproximação dentro da abordagem da banda, com toques muito sutis e bonitos de Neal Schon em seu solo. Beleza também pode ser encontrada na última parceria vocal do tecladista e membro fundador, Greg Rolie, com Perry, dividindo as vozes em “Someday Soon”. Esse dueto já estava se tornando uma tradição, estando presente em cada um dos três discos da nova fase, mas a tradição foi interrompida a partir desse ponto, devido a saída de Rolie da formação.
“People and Place” tem momentos que lembram Yes e é uma das melhores e mais elaboradas músicas do disco, tanto quanto “Precious Time” soa como a mais simples, apesar do esforço de Rolie na harmônica. Os segundos iniciais de “Where Were You” me trouxeram instantaneamente a associação com alguma coisa antiga do Judas Priest. Não se trata de uma canção de Heavy Metal, mas tem um andamento mais pesado que as demais.
O conjunto torna a abordar o Blues em “I´m Crying”, dessa vez com mais dor e sentimento. É básico, mas bem melhor do que “Line of Fire”, cujo destaque são os toques de Boogie que Rolie acrescenta no arranjo. A faixa título resume-se em uma breve vinheta instrumental que introduz “Good Morning Girl”, uma balada semiacústica bem curta e solene, antecedendo outra balada, “Stay Awhile”, onde Ross Valory executa uma agradável linha de baixo, acompanhado pelas variações do baterista Steve Smith.
O disco termina com “Homemade Love”, que parece buscar inspiração em Led Zeppelin e talvez pudesse até ter se aproximado mais, caso possuísse uma batida mais vigorosa, apesar de Smith ser competente dentro de sua delimitação. Competência, por sinal, é um termo que, ao ser utilizado para o Journey, pode soar como se estivéssemos sendo complacentes com o talento de seus integrantes. Evidentemente, não é o caso. A escalada de sucesso prosseguiu em sentido ascendente e é preciso apontar em particular para as contribuições de Perry, um vocalista de timbre e carisma únicos, e Schon, com uma inspiração absurda em seus solos e melodias. Ambos foram parceiros de composição em nove das doze canções, construindo em conjunto as feições de um gigante que conquistaria o Rock norte-americano.
Departure – Journey
Data de Lançamento: 29/02/1980
Gravadora: Columbia
Tracklist:
01 Any Way You Want It
02 Walks Like a Lady
03 Someday Soon
04 People and Places
05 Precious Time
06 Where Were You
07 I’m Cryin’
08 Line of Fire
09 Departure
10 Good Morning Girl
11 Stay Awhile
12 Homemade Love
Formação:
Steve Perry – vocal
Neal Schon – guitarra
Gregg Rolie – teclado, harmônica, vocal em “Someday Soon”
Ross Valory – baixo
Steve Smith – bateria
