Quase toda grande banda possui aquele álbum “patinho feio” perdido no meio de sua discografia. Aquele que, por algum motivo ou outro, não agrada tanto a grande massa de fãs quanto os outros álbuns. Várias bandas clássicas lançaram seus “patinhos feios” durante os negros anos 90. E com o Iron Maiden não foi diferente. Neste ano completa-se duas décadas do lançamento de Virtual XI, o décimo-primeiro álbum de estúdio da banda de Steve Harris e que é considerado por muitos o pior da banda.

Logo após a The X-Factour, turnê de divulgação do ótimo álbum The X Factor (1995), a banda entrou no Barnyard Studios, em Essex, Inglaterra para registrar seu décimo-primeiro álbum, sob a batuta do produtor Nigel Green e do próprio Steve Harris. Gravado entre 1997 e fevereiro de 1998, Virtual XI foi lançado em 23 de março e pegou carona na Copa do Mundo da França para se promover. Tanto que, na época do lançamento do álbum, a banda fez uma turnê pela Europa não de shows, mas de jogos de futebol, com a participação de músicos convidados e de jogadores profissionais da Inglaterra. Na mesma época o Iron Maiden estava lançando o jogo Ed Hunter, pegando outra carona na então emergente internet. Tudo isso aconteceu porque, segundo Steve Harris, os fãs da banda são pessoas parecidas com seus integrantes. Então nada melhor do que aproveitar o ano de Copa do Mundo para fazer essa integração com o lançamento do álbum. Cabe lembrar que Steve Harris é torcedor ferrenho do West Ham, time pelo qual o baixista chegou a jogar nas categorias de base durante os anos 70 antes de partir de vez para a carreira musical.

E o assunto aqui é música mesmo! Virtual XI traz oito faixas espalhadas em pouco mais de 53 minutos e que, digamos, trazem consigo uma certa burocracia e refletem até mesmo uma certa falta de inspiração, elemento que havia de sobra em The X Factor. A voz grave e pesada de Blaze Bayley não foi bem aproveitada aqui como no álbum anterior. Um dos elementos para isso é que Virtual XI não traz a carga sombria e densa de The X Factor, elementos que fazem a voz de Blaze se encaixar como uma luva. É festa! É Copa do Mundo!

Em pé: Gers, McBrain, Murray. Agachados: Bayley, Harris

O grande exemplo desta burocracia e falta de inspiração é a faixa de nº 2, The Angel And The Gambler. Um timbre imoral de teclados acompanha a música ao longo de seus nove minutos, sem contar, literalmente falando, que o refrão da mesma é repetido quase 30 vezes. Talvez este tenha sido o motivo das convulsões de Ronaldinho antes da final da Copa. Don’t Look To The Eyes Of A Stranger é diferente de tudo que o Maiden fizera até então (a começar pelo fato de ser tocada em Sol sustenido menor). Mas sofre do mesmo mal por ser longa e repetitiva. Se fosse um pouco mais enxuta e sucinta, seria um grande momento da era Blaze. E Como Estais Amigos, apesar de sua boa intenção, é uma das músicas mais contestadas pelos fãs do Iron Maiden.

É por ser sucinta e direta que Futureal é uma das melhoras faixas do álbum. A música de abertura não chega nem a medir 3 minutos. Lighting Strikes Twice e When Two Worlds Collide são duas ótimas músicas onde Blaze entrega o melhor de sua performance na época e que serviram de inspiração para Zinedine Zidane dar seu show na Copa da França. The Educated Fool por pouco não entra no mesmo time de das duas primeiras músicas citadas no parágrafo anterior, mas sua relativa complexidade foi bem trabalhada e se salva. E falar de The Clansman é chover no molhado, tanto que é uma das poucas músicas da era Blaze que aparecem regularmente nas últimas turnês para serem maltratadas por Bruce Dickinson.

Outro detalhe que depõe contra Virtual XI é sua produção. Aliás, desde que Martin Birch se aposentou o Iron Maiden nunca mais lançou um álbum bem produzido. O som da banda se mostra frágil e raquítico, completamente sem peso. Se houvesse este elemento essencial no álbum, com certeza Virtual XI seria melhor compreendido.

A turnê de Virtual XI foi sofrida para o pobre cantor. Assim como na The X Factour, alguns shows da perna norte-americana da turnê foram cancelados por problemas na voz do vocalista, que sentia a sobrecarga de shows e sofria para cantar as músicas da primeira era Bruce no tom original. Este fato ajudou na demissão de Blaze Bayley em 1999, cuja consequência foi o retorno de Bruce Dickinson a banda, trazendo a reboque seu fiel escudeiro, o guitarrista Adrian Smith (há teorias que defendem que a saída e o retorno de Bruce foram completamente arquitetadas). Pelo sim, pelo não, encerrou-se a era mais melancólica da história do Iron Maiden. Blaze entrou então numa excelente e consistente carreira solo que, mesmo aos trancos e barrancos, mantém até hoje com humildade e profissionalismo. Apesar de sua passagem controversa, o vocalista sempre diz ser eternamente grato a Steve Harris por ser quem ele é hoje.

A volta de Bruce e de Adrian foi o início de uma nova era no Iron Maiden, que se concretizou com o lançamento de Brave New World. Este capítulo em diante você confere a partir de amanhã aqui no Roadie Metal Cronologia.

Virtual XI – Iron Maiden (EMI, 1998)

Tracklist:
01. Futureal
02. The Angel And The Gambler
03. Lightning Strikes Twice
04. The Clansman
05. When Two Worlds Collide
06. The Educated Fool
07. Don’t Look To The Eyes Of A Stranger
08. Como Estais Amigos

Line-up:
Blaze Bayley – vocais
Dave Murray – guitarras
Janick Gers – guitarras
Steve Harris – contrabaixo
Nicko McBrain – bateria

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