Roadie Metal Cronologia: Iron Maiden – Somewhere in Time (1986)

Falar efetivamente do álbum Somewhere in Time, lançado em 29 de setembro de 1986 é fazer uma viagem ao passado, no recheio dos anos 80, e entender à fundo como se processou a criação de um disco com temática futurista, através da sua capa projetada por Derek Riggs, mas que de futuro mesmo só havia a probabilidade de se tornarem grandes lendas (com as sementes plantadas no começo de tudo) e a intenção do uso dos sintetizadores  para guitarra e baixo, o que na época, talvez tornou a banda à frente do seu tempo.

A grande temática de Somewhere in Time é  na verdade a exaltação do momento presente, e não do passado ou do futuro. É um extenso conjunto de letras voltadas sobre as várias situações do “tempo”  e como utilizá-lo e onde ele se encaixa na vida de qualquer pessoa, em qualquer época… Esta mais para “once upon a time” do que para “wasted years”

Se você pensar sobre o que acabamos de fazer e onde nós tínhamos acabado de estar, talvez não fosse tão estranho que na maioria das músicas parecíamos ter feito algo a ver com o tempo – ou o tempo gasto pra fazer tudo ou o tempo gasto aprendendo algo que custava muito. Leia-se nas entrelinhas.” (Adrian Smith – Livro “Run to the Hills” – Mick Wall)

Curiosidades

Somewhere in Time foi  6º disco de estúdio do Iron Maiden, e nasceu logo depois uma pausa de quase 4 meses da banda, (era para ser 6) após a longa e cansativa turnê intitulada World Slavery Tour, do álbum anterior Powerslave. A World Slavery Tour durou aproximadamente 12 meses e exauriu os jovens rapazes da banda, que nem 30 anos de idade tinham completado (com exceção do veterano Nicko McBrain). Enquanto para Bruce Dickinson este período de trabalho e descanso surgiu como uma dúvida e um bloqueio temporário de suas capacidades adequadas à composição para este álbum, Adrian Smith foi colocado em destaque através de suas letras e melodias.

Bruce ficou realmente incomodado, porque suas composições não estavam sendo escolhidas para aquele momento, enquanto Adrian acertava em cheio com as criações. Tudo filtrado e direcionado por Steve Harris, criador da banda.  No final da produção do disco, coube à Bruce na turnê do trabalho, mostrar qualquer inovação, já que não fazia parte estrutural desta obra, inovar num figurino supostamente futurista, exótico, e para muitos de mau gosto; mas que fez parte daquilo que era o mais moderno para época: Uma vestimenta que emitia luzes, uma roupa que era diferente demais e talvez baseado no imaginário de filmes de ficção cientifica.

Mas não se engane, pois tanta modernidade não faria eles perderem os riffs galopantes , a melodia típica e os instrumentais longos e tão bem feitos.  A voz de Bruce em alguns momentos soou exuberante. Somewhere in Time foi um clássico, de uma carreira absurdamente bem sucedida entre o tradicional e novo.

Também foi o primeiro e destacado grande sucesso de vendas de discos da banda no Brasil. Não obstante, isso aconteceu devido à primeira aparição dos caras no país em 1985, no primeiro Rock in Rio.  Em um país onde muitos jovens estavam a conhecer e a produzir metal, descobrir o Iron Maiden em uma de suas melhores turnês, foi mesmo um presente e um encantamento, o que gerou portanto, o interesse, a atração e maior venda desde então do disco no país.

As músicas

O álbum começa com a faixa-título, Caught Somewhere in Time. Na introdução, os sintetizadores de guitarra são usados ​ para sugerir uma “viagem” no tempo, mas ela vai perdendo intensidade ao longo da execução. A guitarra dá uma sensação futurista e mantém um excelente ritmo. Claro, o baixo estava impecável, e Steve Harris faz o seu estilo galopante. A bateria de Nicko McBrain soa muito bem e ajuda os graves a fornecer um ritmo excepcional. Tanto Dave quanto Adrian apresentam excelentes solos, mas esse é o álbum de Adrian e sua performance.

A emblemática , eternamente reconhecida e querida dos fãs, Wasted Years surge com um incrível riff. Não é apenas o primeiro single do álbum, é também a primeira música que Adrian escreveu sozinho na banda. A música é cativante e leve, tanto musicalmente quanto liricamente. Cerca de dois minutos e meio depois, a introdução é repetida e um bom instrumental acontece, o que nos leva a um belo solo de 16 segundos de  Adrian. Percebe-se bem os backing vocals no refrão e eles se misturam à voz de Bruce. Uma música que tornou este disco destacável nos riffs e é sem dúvida, o queridinho de muitos fãs.

As coisas vão evoluindo e a segunda composição de Adrian no álbum começa. Sea of ​​Madness começa com um refrão interessante que mescla as guitarras de Adrian e Dave, que lideram a música antes dos vocais começarem. O canto de Bruce está excelente, especialmente durante o refrão:

Oh, my eyes they see but I can’t believe, Oh, my heart is heavy as I turn my back and leave. “,

O encontro definitivo da guitarra de Adrian com Dave. O trio Bruce, Adrian e Dave se superam e é uma música que merecia bem mais atenção e interesse, do que já se tem.

Heaven Can Wait, é uma faixa longa demais à meu ver, mas traz aquele grito de esperança. É sobre experiências de quase morte, embora seja uma música feliz e empolgante, e usa sintetizadores em toda a faixa. A música tem vários coros que seriam depois, coros dos fãs nos shows. É uma música para concertos!

The Loneliness of the Long Distance Runner é uma canção intensa. As letras retratam uma corrida em busca de algo à se alcançar, um som que acompanha a intenção da letra por ter um início que se desenvolve de forma a ter uma cadência evolutiva e progride, nos fazendo acreditar que nada pode nos impedir de chegar até o fim de qualquer coisa. Do lento e melódico, Bruce leva a canção à velocidade que ela merece. Nessa Harris e Bruce são a dupla de destaque.

“And every breath you take, determination makes, you run, never stop

A sexta música, Stranger in a Strange Land, é um trabalho mais envolvente. É inevitável não ouvi-la constantemente, pelo menos é o que eu faço e está sempre no meu set list das melhores da banda. É um single de autoria de Adrian, e se tornou uma das mais importantes do disco e da carreira, embora não executada como merecia. Foi uma união de todos os integrantes, com uma harmonia excepcional. Bruce mais uma vez encanta nos vocais. A letra fala de um sentido de sobrevivência

Eis que chega o momento de Dave Murray. Dave até esse disco havia escrito ou participado da composição de 3 canções: Sanctuary, Charlotte the Harlot e Still Life. A música, intitulada Deja-Vu, do qual fala do óbvio e tem uma letra simplista demais,  começa com o solo de Dave que acaba mais uma vez abraçando os sintetizadores. A introdução é incrível, embora Bruce não esteja no seu melhor momento no álbum e pode até ser que a canção seja a  preferida de alguns. Apesar de tudo, a dupla Bruce e Dave se destacam.

E depois de tanta coisa interessante surge a excepcional e enigmática Alexander The Great, sendo à pouco tempo explicada por Nicko McBrain sobre a impossibilidade de sua execução ao vivo por ser complexa demais. Para todos os instrumentos! É curioso que a tenham criado com tanta majestade, mas parece que ela estará sempre sujeita à ser ouvida nos seus fones. Épica e abraçando mais uma vez uma das capacidades líricas de Steve Harris em criar lindas canções e letras, fala de Alexandre, o Grande – Rei da Macedônia que conquistou várias terras ainda jovem e todas as suas batalhas foram bem sucedidas. O que nos faz pensar mais uma vez na temática da coragem, determinação e caminho ao sucesso que foi estrutura lírica deste álbum. Com uma longa base instrumental, Adrian Smith simplesmente arrasa em alguns solos e Bruce torna essa canção absolutamente excepcional, nos levando à desejá-la eternamente em um palco, mesmo que isso nunca aconteça. Com mais de 8 minutos de execução, foi uma chave de ouro para encerrar esta obra de arte que eternizou o trabalho desta banda.

Análise final

Somewhere in Time com toda certeza foi uma avanço sistemático e corajoso na carreira da banda. Após o espetacular lançamento de Powerslave, o que poderia ser melhor do que ser diferente? A capa de Derek Riggs, as nuances de sintetizadores, a ótima qualidade de gravação, a  oportunidade do guitarrista Adrian destrinchar sua capacidade lírica, a conquista de um patamar histórico para a banda que jamais iria se declinar, (apenas mudar a sua cara ao longo dos anos) e a firme performance da banda, tudo isso fez com que este seja um dos grandes clássicos da banda!

Embora não seja meu álbum preferido, pude ver ao longo de várias conversas de fãs, que ali se encontra qualquer fascínio indefinível. Em função disso, músicos ou apenas ouvintes, rendem à esse momento da banda uma eternidade inevitável. Minha maior opinião acerca deste trabalho é que eles estavam todos experientes, embora tão jovens e definitivamente não estavam preocupados com o futuro ou presos no passado. Estavam estavam completos no momento presente, naquilo que viviam, o que tornou este trabalho ATEMPORAL.

FICHA TÉCNICA

1986
01. Caught Somewhere In Time
02. Wasted Years
03. Sea Of Madness
04. Heaven Can Wait
05. The Loneliness Of The Long Distance Runner
06. Stranger In A Strange Land
07. Deja-Vu
08. Alexander The Great

Remasterização em 1995, com CD bonus

01. Reach Out [Dave Colwell cover]
02. Juanita [Marshall Fury cover]
03. Sheriff of Huddersfield
04. That Girl

INTEGRANTES 

Vocalista – Bruce Dickinson

Guitarra, sintetizador, voz de apoio – Adrian Smith

Guitarra, sintetizador – Dave Murray

Baixo, sintetizador, voz de apoio – Steve Harris

Bateria – Nicko Mc Brain

Manager de banda e estúdio

Empresário – Rod Smallwood

Produtor – Martin Birch

VIDEO

Somewhere on Tour 

https://www.youtube.com/watch?v=qBEBeRAdkQw

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