Roadie Metal Cronologia: Iron Maiden – Seventh Son Of A Seventh Son (1988)

Escrever sobre o último álbum da era clássica e de ouro do Iron Maiden é uma honra e um privilégio sem igual, principalmente tratando-se de um disco que foi lançado em uma conjuntura internacional e nacional com fatos marcantes e acontecimentos que influenciaram e definiram os rumos de povos do mundo todo.

No entanto, a análise desta obra-prima não pretende ser definitiva ou a última palavra no assunto, pelo contrário, é mais uma humilde contribuição na reflexão sobre um dos álbuns de Heavy Metal mais importantes da história. O “Sétimo Filho do Sétimo Filho” é lançado no ano de 1988, mais precisamente no dia 11 de abril, ano em que o mundo passava por transformações políticas, econômicas, culturais e sociais adversas e importantes.

1988 foi mais um ano de uma década inteira de crises na URSS, que já vinha sofrendo o colapso do seu regime, principalmente após o desastre de Chernobyl, que acelerou sobremaneira o processo de desmanche do sonho utópico de uma sociedade sem classes, simbolicamente marcado pela queda do muro de Berlim no ano seguinte e a extinção da União Soviética em 1991. No mesmo ano, o Brasil através da Assembleia Constituinte, instalada no ano anterior, trouxe ao país a nova Constituição, promulgada em 05 de outubro, concretizando o retorno da cidadania através da retomada dos direitos e garantias fundamentais que foram ignoradas na Ditadura Militar. Ano em que no Chile, através de um plebiscito, o povo chileno disse não à mais um mandato para o ditador Pinochet. Ano da vitória do Bush (pai) nas eleições americanas. Ano em que se encerrava a guerra entre Irã e Iraque após oito anos de conflitos com um saldo de um milhão de mortos.

Neste contexto de acontecimentos tão marcantes, o Iron Maiden concretiza seu 7º álbum de estúdio, 1º álbum conceitual, último registro do fabuloso guitarrista Adrian Smith na banda (antes da volta em 1999), já que o mesmo andava descontente com os rumos que a banda estava tomando naquele momento. Seventh Son Of A Seventh Son foi gravado no Musicland Studios, em Munique na Alemanha e produzido por Martin Birch (DEEP PURPLE, RAINBOW, WHITESNAKE, BLACK SABBATH, BLUE ÖYSTER CULT).

O “Sétimo Filho do Sétimo Filho” marca o renascimento da Donzela de Ferro, com uma reação positiva dos fãs e público em geral, excedendo até mesmo as expectativas da banda. Para muitos foi e continua sendo o melhor álbum que eles já lançaram. O álbum teve uma vendagem extraordinária, resultando no seu sexto disco de platina. No entanto, os Estados Unidos não abraçaram o som mais refinado e progressivo que o Maiden apresentava com essa obra-prima. Vivia-se a onda de bandas pesadas como METALLICA, MEGADETH, SLAYER e ANTHRAX, que foram influenciadas pela Donzela de Ferro, mas era a vez de tentar superá-los, sendo classificados pela imprensa da época como bandas de thrash metal, fazendo parecer que o novo álbum do Maiden soasse comercial e amolecido, por conta do uso de sintetizadores, que na verdade dão um charme todo especial e não o contrário, mas isso só é valorizado hoje.

Outro ponto importante do álbum é justamente a contribuição intelectual de Bruce Dickinson nas letras, já que de forma geral e resumida podemos observar questões filosóficas, tais como: visões proféticas, a luta do bem contra o mal, o misticismo, a reencarnação, a vida após a morte, o poder e ocultismo. Cada faixa desse majestoso disco narra uma parte da vida do “Sétimo Filho”, ou seja, o requinte fica por conta da inspiração nas letras, contando a história de vida do sétimo filho do sétimo filho, que um dia viria a terra, segundo a tal profecia, com poderes sobrenaturais para fazer grandes coisas e mudanças. Concomitantemente, assim sendo, teremos Deus e o Demônio (bem e mal) disputando uma criança para torná-la um soldado na terra.

Disputa essa que inicia-se na primeira faixa do disco, Moonchild, com uma rápida introdução acústica e a voz de Bruce, seguido pelo som dos sintetizadores que explode com uma ótima abertura, falando sobre o nascimento do “Sétimo Filho do Sétimo Filho”. Vocal melódico e uma dupla de guitarras de Adrian Smith e Dave Murray matadoras, o baixo preciso de Steve Harris e a bateria poderosa de Nicko McBrain.

Em Infinite Dreams, segunda faixa, uma linda introdução com a dupla de guitarras, ganhando peso aos poucos e a voz de Bruce Dickinson forte e alta. Na sequência a explosão da faixa com Steve Harris detonando no baixo com sua habitual cavalgada lembrando os clássicos Powerslave (1984) e Somewhere In Time (1986). As guitarras intercalando-se de forma magistral, identidade própria do Maiden com solos precisos e suaves.

Terceira faixa, Can I Play With Madness, Bruce inicia a música com sua voz melodiosa e poderosa, com destaque para o baixo de Steve Harris e com refrão bem grudendo e histórico, é impossível não lembrar dela. Faixa curta, mas uma das mais lembradas desse disco incrível.

The Evil That Men Do, 4ª bomba do Maiden, faixa matadora, poderosa, marcante com riffs magistrais e geniais dos guitarristas, bateria sincronizada, baixo estupendo de Harris, o vocal lindo de Bruce, música clássica e eternamente lembrada.

Agora o bicho pega, Seventh Son A Seventh Son, a 5ª música, faixa-título, uma obra prima, soa épica, soa suave, liricamente perfeita, em dois momentos, os sintetizadores são utilizados de forma inteligente e na dosagem correta, o restante da banda mantem o mesmo nível do som, ela fica lenta na segunda parte e retoma a forma clássica do Maiden fazer música, muitas vezes considerada uma faixa longa demais, mas ela é assim porque teria que ser assim, diferente não seria essa faixa tão incrível e soando como um dos pontos épicos do disco o restante são críticas e gostos pessoais de resenhistas mundo afora, Seventh Son A Seventh Son é faixa para ser lembrada sempre.

The Prophecy, 6ª faixa, sendo a única composição de Dave Murray neste disco, com riffs mais simples, diferente um pouco do restante do disco, mas soberba, Murray no fim arrebenta com essa faixa, tendo uma parte acústica super sensível no final, fechando com chave de ouro.

The Clairvoyant, sim, ele, Steve Harris, mestre e gênio do baixo inicia a mesma, com a guitarra mais baixa e aumentando aos poucos. Detona-se com a explosão do refrão e o riff clássico, competência total de Bruce nos vocais, faixa importante do disco e um momento de ouvir com cuidado, ouve-se todos os instrumentos com uma suavidade e uma maestria desenvolvida pela banda de forma límpida. Sintetizadores utilizados de forma precisa e no tempo correto sem soar exagerado.

Only The Good Die Young, 8ª e última faixa, lembrando um pouco a 7ª faixa, com mais rapidez nos riffs e solos arrasadores. Música linda de se ouvir, com refrão que marca presença e gruda na mente.

Retomando um pouco para nossa conclusão e de forma resumida o que diz cada letra, sendo em Moochild o demônio que manda um aviso para os pais da criança, do tipo não adianta escapar, ou em Infinite Dreams, o pai do sétimo filho, que tem visões que não entende, ou em Can I Play Madness, em o pai do sétimo filho que busca explicações para suas visões e não gosta do que ouve, em The Evil That Men Do, quando a criança nasce e o pai morre, ou em Seventh Son O A Seventh Son, no nascimento de uma criança com poderes sobrenaturais, onde o bem e o mal disputam a criança, ou em The Prophecy, em que o garoto se dá conta de seus poderes destrutivos e tenta de todas as formas alertarem a todos da profecia, mas ninguém lhe ouve, ou em The Clairvoyant, onde o mesmo garoto torna-se vidente e passa a ter controle dos seus poderes e esse mesmo poder poderá destruí-lo e fechando com Only The Good Die Young, uma reflexão geral sobre tudo que se passou, nos traz além de um álbum conceitual, o 1º da carreira do Maiden, mas sobretudo um disco todo pensado e produzido com uma inteligência e proposta lírica única e indiscutivelmente incrível de se ouvir, na minha sincera opinião, um dos álbuns mais importantes dessa banda maravilhosa e histórica, o Iron Maiden, simplesmente nota 10.

Formação:
Bruce Dickinson – vocal
Adrian Smith – guitarra
Dave Murray – guitarra
Steve Harris – baixo
Nicko McBrain – bateria

Faixas:
01. Moonchild
02. Infinite Dreams
03. Can I Play With Madness
04. The Evil That Man Do
05. Seventh Son Of A Seventh Son
06. The Prophecy
07. The Clairvoyant
08. Only The Good Die Young

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