Após uma sequência invejável de álbuns nos dourados anos oitenta, a Donzela de Ferro decide abandonar os sintetizadores e teclados que tiveram papel extremamente importante nos trabalhos “Somewhere in Time” (1986) e “Seventh Son of a Seventh Son” (1988) para conceber um registro mais cru e simples. Gravado em meados de setembro de 1990, nos estúdio Barnyard, em Essex, Inglaterra e lançado em 01 de outubro do mesmo ano, “No Prayer for the Dying” pode ser resumido como uma “volta ao básico” para o Iron Maiden. Até mesmo a ilustração de capa já evidencia tamanha mudança. Após longas e exaustivas turnês recheadas de palcos incríveis, bem como todo tipo de recurso e conceito utilizado nos shows dos álbuns anteriores, Steve Harris e sua trupe decidem se aventurar em um terreno mais simplório.
Marcando a saída do guitarrista Adrian Smith, que apenas retornaria a banda em “Brave New World” (2001) e a entrada de Janick Gers, que era guitarrista da carreira-solo do vocalista Bruce Dickinson, “No Prayer for the Dying” é a oitava entrega de estúdio dos mestres britânicos do Heavy Metal. Esse é um daqueles trabalhos que divide e muito as opiniões, possuindo pessoas que o adoram e outras que o odeiam com a mesma intensidade. Sabemos bem que gosto é uma questão particular de cada e que de fato ele pode variar muito de pessoa para pessoa, no entanto, é notável que esse álbum realmente se diferencie muito dos anteriores e talvez esse seja um dos principais motivos de fazer muitos torcerem o nariz. Contudo, devo dizer que isso é uma pena, pois é um registro bem interessante e recheado de composições de grande quilate. Por isso, convido você, caro leitor, a embarcar junto comigo, – Steve Harris e Cia… E Eddie! – nessa pérola produzida no início dos anos noventa.
“Tailgunner” é a faixa incumbida de dar início ao trabalho e faz isso de forma extremamente eficiente. Logo de imediato poder ver que a proposta da banda foi soar mais direta ao ponto e fizeram isso com exímio, com cada integrante fazendo aquilo que melhor sabe fazer. A “cozinha” encabeçada pelas quatro cordas do “boss” Steve Harris e pelo divertidíssimo baterista Nicko McBrain é precisa e contagiante, e a dupla de guitarras composta por Dave Murray e o até então estreante Janick Gers se demonstra bastante entrosada, mandando “riffs” afiados e melodias marcantes. Também é muito importante falarmos a respeito dos vocais de Bruce Dickinson, que ainda que execute os seus típicos agudos, investe mais em “drives” em seu vocal nessa nova empreitada musical. O resultado? 100% satisfatório!
Os arranjos “felizes” e “coloridos” da grudenta “Holy Smoke” surgem em seguida, dando continuidade ao álbum. Trazendo uma letra que critica os escândalos televangelistas que permearam a década de oitenta, essa composição é pura diversão e não há como ouvir esse som sem remeter ao despretensioso videoclipe que foi produzido para promovê-la. Novamente a banda capricha nas melodias e brinda o ouvinte com um refrão simples e viciante. Na sequência, temos uma mudança de horizontes quando ecoam os acordes iniciais da faixa título, “No Prayer for the Dying”. Essa faixa se inicia de forma cadenciada, com belíssimas harmonias de guitarra, recheadas do “feeling” que sempre caracterizou a banda, acompanhados por teclados bem inseridos. Em sua metade, a composição ganha mais peso e velocidade e permite a banda brilhar ainda mais.
A estupenda “Public Enema Number One Public Enema Number One” surge logo em seguida, trazendo um andamento empolgante e um refrão feito para ser cantado a plenos pulmões. Simplesmente sensacional! O trabalho prossegue com “Fates Warning”, uma faixa que novamente traz um desempenho impecável de todos os integrantes, como solos de guitarras inspirados e bem encaixados, bateria e baixo devidamente alinhados e vocais perfeitos. “The Assassin” é uma composição bem interessante também e é dona de uma atmosfera poderosa. Logo em seu início, temos linhas pulsantes de baixo que já empolgam o ouvinte para o que está por vir. Os vocais rasgados de Dickinson também casam perfeitamente com a proposta desse som, resultando em uma experiência musical genial.
Começando de maneira lenta e progressiva, “Run Silent Run Deep” é outra composição típica da banda, reunindo todos os elementos que fazem a banda ser o que ela é, “feeling” interminável, melodias marcantes e poderosas e criatividade. Por sua vez, “Hooks in You” traz um ritmo que contagia o ouvinte com uma facilidade muito grande. Dizem que menos é mais e, muitas vezes, pode ser mesmo, pois com arranjos mais simples e diretos surgem diversas músicas de qualidade e que empolgam sem muito esforço.
O álbum vai chegando a sua reta final! A penúltima faixa desse trabalho é também um de seus maiores sucessos, “Bring Your Daughter… to the Slaughter”, composição que pertencia originalmente à carreira solo de Bruce Dickinson e foi utilizada na trilha sonora de “A Hora do Pesadelo 5: O Maior Horror de Freddy” (1989). Essa faixa é um verdadeiro deleite! Dickinson desfila o seu timbre mais rasgado com exímio e toda a banda executa um desempenho acima de quaisquer suspeitas. Logo após, temos “Mother Russia”, uma composição que novamente reúne bons e eficientes ingredientes. Seus arranjos exalam um clima épico e bastante atmosférico em determinados trechos e é com essa música que o álbum se encerra, de forma satisfatória e coerente.
Ainda que muitos o considerem um disco mediano ou abaixo da média do que os ingleses do Iron Maiden são capazes de fazer, “No Prayer for the Dying” é um disco que merece ser conferido sem preconceitos diversas vezes. Todas as faixas são boas e interessantes à sua maneira e o fato de serem mais diretas e simples que às composições de seus trabalhos mais complexos e progressivos já é um atrativo por si só, fazendo de sua audição uma experiência prazerosa e jamais cansativa. Se você nunca deu a devida atenção a esse oitavo trabalho de estúdio da Donzela ou pior, jamais parou para ouvir o álbum por completo, não perca o seu tempo e faça isso agora!
Up the Irons!
Nota: “No Prayer for the Dying” possui duas versões de capa, uma lançada na época de lançamento do álbum, em 1990 e outra utilizada para sua versão remasterizada, em 1998. Na primeira, Eddie está saindo do túmulo e enforcando um coveiro, enquanto na segunda versão apenas temos a figura da mascote da banda saindo túmulo, sem a presença do coveiro da ilustração original. É interessante mencionar também que o Eddie volta a possuir traços que se assemelham um pouco mais aos das primeiras capas dos discos da banda, se diferenciando totalmente das versões que aparecem nos álbuns “Piece of Mind” a “Seventh Son of a Seventh Son”.
Escrito por David Torres
Tracklist:
01. Tailgunner
02. Holy Smoke
03. No Prayer for the Dying
04. Public Enema Number One
05. Fates Warning
06. The Assassin
07. Run Silent Run Deep
08. Hooks in You
09. Bring Your Daughter… to the Slaughter
10. Mother Russia
Banda:
Bruce Dickinson (Vocal)
Dave Murray (Guitarra)
Janick Gers (Guitarra)
Steve Harris (Baixo)
Nicko McBrain (Bateria)
Músico Convidado:
Michael “Count” Kenney (Teclados)