Roadie Metal Cronologia: Iron Maiden – Brave New World (2000)

Nos anos que se seguiram desde a saída do vocalista Bruce Dickinson em 1993, pouca paz teve o Iron Maiden em relação a público e mídia. A passagem de Blaze Bayley pela banda – rendendo os álbuns “The X Factor” (1995) e “Virtual XI” (1998) – não foi das mais brilhantes para os ouvintes, não apenas pelo novo intérprete vocal ser desprovido do mesmo carisma e versatilidade do lendário Dickinson, mas também porque, criativamente, a banda se encontrava desgastada e desestimulada. Por mais que algumas faixas se destacassem – tal como “Sign of The Cross” e “The Clansman” – e hoje em dia os dois trabalhos cheguem a ser mais respeitados e compreendidos do que na época em que foram lançados, de um modo geral, os discos não agradaram em sua totalidade como os ingleses comumente faziam. Para a maioria, foi uma fase para esquecer.

As apresentações ao vivo de Blaze Bayley não vinham convencendo, e o baixista e líder Steve Harris começava a ceder à pressão pública e a mudar de ideia quanto às ambições relacionadas ao homem do microfone. Somando isso à volta de um contato mais aproximado com Bruce Dickinson, contato esse bastante estimulado pelo produtor Rod Smallwood, eventualmente Harris fez ao Blaze um convite para se retirar da banda em janeiro de 1999. O pretexto, segundo ele, era que sua performance estava bem abaixo das expectativas durante a turnê, mas o guitarrista Janick Gers bifurca a ideia, defendendo que aquilo se devia ao fato do vocalista cantar músicas muito fora de seu tom natural.

De qualquer forma, tudo aconteceu extremamente rápido. Mal Blaze Bayley estava demitido – para a alegria de um planeta inteiro –, Bruce Dickinson já estava com seu glorioso e ultra bem-vindo retorno oficializado – e essa velocidade já indica que tudo estava planejado, não houve tanta naturalidade como argumenta Harris. Junto do renomado frontman, agora de cabelo curto, retornou também o guitarrista Adrian Smith, uma das peças mais importantes na criação e na técnica de um Iron Maiden que encravou a bandeira do Reino Unido no cume do Heavy Metal mundial.

A expectativa era acontecer mais uma demissão: a de Janick Gers, já que o guitarrista Dave Murray estava na banda desde o início e, com a volta de Smith, o conjunto ficaria “com guitarras demais”. Porém, incapaz de descartar talentos e com a boa relação entre os integrantes, o Iron Maiden acabou por oficializar, pela primeira vez, uma formação com seis membros, onde três são guitarristas!

Iron Maiden 1

Mídia e fãs ficaram completamente extasiados com o retorno de um dos vocalistas mais expressivos da história à uma das bandas mais expressivas da história! Assim como o público, a banda também estava empolgada com o descarregamento da atmosfera negativa que vinha pairando sobre os seus céus havia quase 10 anos e, finalmente, os ventos sopravam a favor. Esperava-se grandes feitos do Iron Maiden com a volta da “formação original + 1”. E foi isso que tivemos.

Não apenas os ingleses lançaram um grande álbum; lançaram o álbum que, para tantos, é o melhor da carreira!

“Brave New World”, produzido por Kevin Shirley (muito criticado hoje em dia, mas aqui fez um primoroso trabalho), desceu dos céus em 2000 como uma carregada nuvem de peso na forma do rosto do mascote Eddie, pronta para despejar sobre nossas cabeças – e, consequentemente, ouvidos – a sonoridade de um Iron Maiden vívido e renovado, de volta ao auge.

Desde “The X Factor”, a banda começara a introduzir carregadas influências de Progressive Rock na sonoridade, resultando principalmente em músicas mais extensas. Com a “nova” formação, cogitou-se a volta ao Heavy Metal melódico de outrora. Entretanto, determinada e sem olhar para trás como a banda é, tais elementos continuaram a ser explorados (e ainda o são até hoje), gerando, como resultado, uma musicalidade especialmente coesa e esmagadora: um Progressive Heavy Metal de qualidade, competência e beleza jamais vistos.

Esse é certamente o trabalho mais pesado da banda, tanto nos arranjos quanto na produção concisa que realça esse aspecto. Empolgação e empenho exalam dos autofalantes ao longo de todos os 67 minutos do disco, que apesar da extensa duração, não cansa em nada a experiência do ouvinte. Três guitarras enriqueceram as bases, estenderam solos, alternaram mais quem rouba a cena em que momento, e ainda por cima, casaram com as porradas do contrabaixo de Steve Harris e o modo único e técnico de Nicko McBrain tocar sua bateria.

Iron Maiden 2

Bruce Dickinson já não era mais tão jovem, então parte de sua versatilidade da época de ouro foi deixada para lá, mas isso não significou um Bruce apático – o que é impossível, dada sua técnica e teatrismo. Sua voz estava mais encorpada, mais madura (no sentido da idade), mais grave, mas tons elevados continuaram sendo frequentemente explorados, já que quase sempre canta alto.

Uma performance brilhante de vocalista a instrumentistas deu vida a um álbum que esmaga e que, como todo bom Heavy Metal, não precisa de recursos extras demais roubando a cena para que determinado clima seja alcançado. Se teclados aparecem, eles estão suaves na base, somente como pano de fundo, a exemplo de “Blood Brothers”, cuja beleza e profundidade de fato clama pelas orquestrações que recebe. Com a primeira frase, me refiro a músicas como “The Nomad”, que transmite um clima desértico por meio de arranjos característicos nas guitarras.

Desde Blaze, o Iron Maiden pegou ênfase na mania de repetir um pouco demais os refrões. Vide “Brave New World”, “Dream of Mirrors” e “The Mercenary”, por exemplo. Não chegam a cansar, não são repetidos exageradamente como acontece na “The Angel and The Gambler”, do álbum “Virtual XI”, só que esse fator poderia ser um pouco mais suavizado. Mas esse problema que, diante de toda a magnitude do trabalho, é micro, não interfere a performance, graças à redenção musical.

Daqui saíram grandes hinos reverenciados até hoje, sendo impossível destacar apenas duas ou três faixas. Das dez presentes aqui, pelo menos sete são intensamente reverenciadas até onde, sendo que “The Mercenary”, “The Fallen Angel” e “Out of The Silent Planet” não ficam muito atrás. Só são menos comentadas, mas têm gigante competência. As outras sete, frequentemente lembradas, são “The Wicker Man”, “Ghost of The Navigator”, “Brave New World”, “Blood Brothers”, “Dream of Mirrors”, “The Nomad”, e a fantástica “The Thin Line Between Love and Hate”, que preserva com autoridade a mania do Iron Maiden de encerrar álbuns com músicas épicas, bombásticas. É de tirar o fôlego! Só clássico, não é?!

Com “Brave New World”, o Iron Maiden conseguiu, em plenos anos 2000, lançar um verdadeiro clássico, coisa que, nessa época e ainda hoje, os outros dinossauros metálicos têm grande dificuldade de fazer, tendo seus álbuns essenciais lançados principalmente nos anos 70, 80, e alguns poucos nos 90, como Black Sabbath, Megadeth e Metallica.

O rendeu muitas premiações ao conjunto londrino, alcançando ouro em oito localidades: Brasil, Canadá, Finlândia, Alemanha, Grécia, Polônia, Suécia e Reino Unido.

Mais uma turnê mundial sequenciou o lançamento, tendo passagem inclusive pelo Brasil, com aquela memorável apresentação no Rock In Rio de 2001 que virou CD e DVD. É considerada por muitos, inclusive por mim, como a melhor apresentação do Iron Maiden já registrada em meios oficiais.

É impossível não dar nota 10.

Iron Maiden 3

Formação:
Bruce Dickinson (vocal);
Adrian Smith (guitarra);
Dave Murray (guitarra);
Janick Gers (guitarra);
Steve Harris (baixo);
Nicko McBrain (bateria).

Faixas:
01 – The Wicker Man
02 – Ghost of The Navigator
03 – Brave New World
04 – Blood Brothers
05 – The Mercenary
06 – Dream of Mirrors
07 – The Fallen Angel
08 – The Nomad
09 – Out of The Silent Planet
10 – The Thin Line Between Love and Hate


https://www.youtube.com/watch?v=dunrYNlqPGc

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