Falar de uma banda como o Iron Maiden nunca é fácil. Costumo dizer que, pelas paixões que a mesma desperta, ela não possui fãs, mas torcedores. Para esses, críticas à banda serão sempre infundadas, pois tudo que a mesma lança recebe a pecha de perfeito. O Iron nunca errou, não erra e não existe a mínima possibilidade de um dia vir a errar e seu álbum mais fraco nunca será passível de receber uma nota menor que um 9.
O Maiden faz parte da minha formação como fã de Metal e se tem uma banda que escutei como poucas nos meus últimos 27 anos de vida, acumulando desde material oficial até bootlegs, seja através de material físico ou digital, foram eles. Mas não, eu não sou um torcedor. Talvez seja por justamente gostar tanto, que eu seja igualmente crítico com sua obra.
No meu caso, meu parâmetro de excelência se chama Seventh Son of a Seventh Son e justamente por isso, por saber do que são capazes de fazer, bato forte em alguns trabalhos pós-anos 90. A Matter Of Life And Death é o terceiro trabalho lançado pelo Iron Maiden após o retorno de Bruce Dickinson e Adrian Smith e nele, os sinais de desgaste da fórmula que vinha sendo adotada em seus últimos trabalhos, que já havia dado as caras em Dance Of Death, se mostram mais acentuados.
Não, definitivamente esse trabalho não é um desastre na discografia do Iron, já que esse posto é indiscutivelmente pertencente ao péssimo e equivocado Virtual XI, mas ao meu ver está bem aquém da capacidade criativa que todos sabemos que o Maiden possui. Seus grandes pecados são não possuir músicas que realmente causam impacto (apesar de sim, possuir boas canções) e um certo excesso, principalmente no que tange às introduções intermináveis de algumas canções, o que acaba tornando tudo um pouco cansativo e modorrento em diversos momentos.
Entre os bons momentos aqui presentes, temos a faixa de abertura, “Different World”, que segue bem o padrão de “The Wickerman”, mais direta, apesar de não possuir a mesma força desta, “The Pilgrim”, outra que remete à fase Brave New World, graças ao seu orientalismo que em alguns momentos nos faz recordar de “Nomad”, “The Longest Day”, forte e com boas melodias de guitarra e a boa “The Legacy”.
Já na categoria “Opa, algo aqui não deu tão certo!”, cito “These Colours Don’t Run”, faixa dentro da média, mas que peca pelo seu refrão fraco, “Brighter than a Thousand Suns”, que tinha tudo para ser talvez o grande destaque de AMOLAD devido a sua solidez e ótimas melodias de guitarra, mas que acaba soando cansativa devido a seus quase intermináveis 9 minutos (era só terem tirado uns 2 minutos), “The Longest Day”, outra que padece do mesmo problema e “Out of the Shadows”, uma balada completamente descartável, ou como prefiro definir, uma “Wasting Love” que deu erro. As demais composições entram na categoria “Elas estão no CD?”.
A produção de Kevin Shirley erra a mão como sempre e faltou agressão e crueza às músicas. Não entra na cabeça o porquê de até hoje insistirem com ele, mas beleza, a torcida (e Steve Harris) aprova, então segue o jogo. Não gosto de suas produções para o Maiden, fica tudo muito limpo, asséptico demais para meu gosto.
Uma vez me definiram A Matter Of Life And Death como sendo um The X Factor com uma produção excessivamente mais limpa e com Bruce Dickinson nos vocais. E pensando com calma, talvez seja bem isso. Como dito lá em cima, não é um mau álbum, mas o resultado poderia ser muito superior caso tivessem tolhido certos excessos. Ao final, o que sobra é um álbum razoável, aprovado pela grande massa da torcida, mas reprovado por fãs chatos, velhos e ranzinzas como eu. Pouco, muito pouco para uma lenda.
Formação:
Bruce Dickinson (vocal);
Adrian Smith (guitarra);
Dave Murray (guitarra);
Janick Gers (guitarra);
Steve Harris (baixo);
Nicko McBrain (bateria).
Faixas:
01. Different World
02. These Colours Don’t Run
03. Brighter than a Thousand Suns
04. The Pilgrim
05. The Longest Day
06. Out of the Shadows
07. The Reincarnation of Benjamin Breeg
08. For the Greater Good of God
09. Lord of Light
10. The Legacy
