2005 foi um ano especial para os caras do Grave Digger, ano da comemoração dos 25 anos de carreira, que resultou em um DVD ao vivo, o 25 to Live, numa tour que passou pelo Brasil.
Sendo peça fundamental no cenário metal alemão dos anos 80, fazendo parte importante da Primeira Onda de Heavy Metal da Alemanha ( FWOGHM – First Wave of German Heavy Metal), os caras do Grave Digger mostraram que ainda estavam e estão bem. Lançando material importante e relevante ininterruptamente desde seu início.
Inclusive lançando álbum novo em 2020, o “Fields Of Blood“. Lembrando que neste ano a banda completa 40 anos de carreira).
Vamos então ao álbum em questão, o vigoroso “The Last Supper“.
Álbum que (de acordo com a banda) quebra um pouco a sequência de álbuns conceituais que dominavam os lançamentos até então, e aborda de maneira generalizada os últimos momentos de Jesus Cristo na terra, como podemos observar no nome do álbum (A última ceia) e também nos títulos de algumas faixas: Passion, The Last Supper, Crucified, Divided Cross e The Night Before . Essa abordagem a respeito de Cristo pode ser notada também pela bela ilustração da capa (feita pelo bem solicitado artista Gyula Havancsak) que mostra um Jesus triste, reflexivo e observado pela figura da morte.
Em The Last Supper, essa formação apresenta composições coesas, letras inteligentes e refrões muito bem elaborados. A voz característica e inconfundível do Chris Boltendahl mantém a personalidade da banda protegida, apesar das “modernidades” inseridas na parte instrumental, onde podemos notar que o Power Metal tradicional da banda abriu um pouco de espaço para um “Hard/Trash” muito bem elaborado e executado, guiado pelo belo trabalho de Manni Schmidt nas guitarras com riffs cortantes.
As faixas seguem uma linha de padrão estrutural que se quebram em momentos pontuais por conta de inserção de belas passagens de piano ou então com solos virtuosos e cheios de “feeling bluesy”, mas o Power Metal se mantém presente, é claro.
Em um contexto geral, é possível observar que a banda buscou novos ares, porém, sem se arriscar demais (como fizeram em Stronger Than Ever de 1988, onde “flertaram” com o Hard Rock que era moda na época, inclusive adotaram um visual “glam” e mudaram o nome para apenas Digger).
Evidente que em The Last Supper, algum tipo de reação negativa pode ter ocorrido por conta de alguns fãs mais ortodoxos, porém, com certeza esse direcionamento trouxe mais vigor e vitalidade a banda. E apesar de não ter sido um sucesso comercial extremo, essa obra contribuiu e muito para a discografia dessa que com certeza é uma das lendas vivas mais influentes do fértil cenário alemão de música pesada.
Na minha opinião, The Last Supper foi influenciado de maneira positiva pelo controverso e famigerado álbum “Endorama”, do Kreator. Entretanto, os conterrâneos tiveram uma recepção péssima com esse lançamento de 1999. Os fãs de Kreator odiaram esse direcionamento mais gótico, moderno e comercial na época, tanto que nos lançamentos posteriores o Kreator voltou a fazer as pazes com a brutalidade em suas músicas, o que deixou seus fãs felizes. Um detalhe interessante, é que em Endorama a voz do Mille Petroza lembra e muito a voz Chris Boltendahl.
No caso do Grave Digger, esse experimento funcionou melhor, pois seu estilo permite tais aventuras musicais sem gerar tanta estranheza por parte dos fãs. Particularmente, eu gosto muito desse tipo de atitude artística dos músicos.
Em resumo, The Last Supper é um belíssimo trabalho, com produção impecável e que conta com os clássicos refrões marcantes e perfeitos para cantarmos em coro e de modo uníssono nos shows.
Destaque para a faixa título e “Hundred Days”.
Nota: 7,8