Acho que foi em 1987 ou 88 que eu li o livro “O Talismã”, escrito a quatro mãos por Stephen King e Peter Straub. Não vou dizer que tenho lembranças nítidas de tudo, mas consigo rememorar personagens, frases e momentos da história como se estivesse segurando agora o livro nas mãos. Em 2003 foi publicada, no Brasil, a sequência da estória, intitulada “A Casa Negra”, que eu adquiri e li quase imediatamente.

Apesar de ser uma obra mais recente, não recordo de absolutamente nada desta última. Li bem depois, mas não permaneceu na lembrança muito tempo após sua conclusão, ao contrário da parte original. Estou falando disso para dizer que essa coisa de fazer partes II, III – sei lá quantas – de um disco consagrado, é um subterfúgio que raramente obtém algum retorno real, seja artístico ou de vendas. Parece funcionar apenas quando as ditas partes são lançadas imediatamente em sequência, mas fora isso, não rende mais do que um frisson passageiro. E lembremos que as maiores obras conceituais já feitas, tipo “The Wall” ou “Tommy”, nunca precisaram ter seus conceitos prolongados.

Mas bandas e artistas consagrados tem caído nessa armadilha, como Alice Cooper, Queensryche, King Diamond… e Gamma Ray, que é o objeto de nosso texto. O disco “Land Of The Free”, lançado em 1995, foi um dos pontos altos da carreira da banda e representa a primeira vez que Kai Hansen assumiu os vocais no Gamma Ray, mas chamar o disco de 2007 de “Land Of The Free II” não torna este nem melhor, nem pior. Teria os mesmos efeitos caso recebesse um outro título. A musicalidade típica do conjunto está lá e – deve-se dizer – fica bem melhor quando o Gamma Ray soa como Gamma Ray.

Como assim? Isso não deveria ser óbvio? Bem, deveria, mas não é. Intercalados ao longo de todo o disco estão trechos em que a banda insere referências tão escancaradas que nem deveriam ser chamadas dessa forma. É quase um jogo de gincana, onde a tarefa é identificar e nomear o momento em que surge cada uma. E nem é algo tão difícil, porque aparentemente eles sequer se esforçam para disfarçar.

Começa muito bem, com “Into The Storm”. Um Metal tradicional sem invencionices e que, exatamente por isso, cativa de imediato, mas na sequência surge “From The Ashes”, uma música que soa absolutamente como Iron Maiden, com o Gamma Ray verdadeiro se fazendo notar apenas no refrão inconfundível. “To Mother Earth” já é puramente da prole dos alemães, com os solos dobrados e refrão otimista. “Rain” e “Leaving Hell”, por serem um pouco mais sóbrias, são ainda melhores.

Até que chega “Empress”, cujo refrão nos transmite uma impressão de Accept que, lá na frente, deixa de ser impressão e torna-se certeza, quando tem início um trecho completamente calcado em “Balls To The Wall”. Parece que, a partir daí, foram destravadas quaisquer amarras, pois a seguinte, “When The World” inicia com o riff de abertura de “Flash Of The Blade”, do Iron Maiden, e notas inspiradas em “The Loneliness of the Long Distance Runner” mais à frente. Para não perder o pique, “Opportunity” faz citações de “Rime of the Ancient Mariner”.

Talvez para dar uma pequena pausa, “Real World” é bem discreta em sua citação de Judas Priest. “Hear Me Calling” tem a eficiência de mostrar que o Gamma Ray não precisa de qualquer subterfúgio dessa espécie para entregar música empolgante e de qualidade, enquanto que “Insurrection” fecha o disco de forma competente. Ainda há um trecho de “Exciter”, do Priest, mas à essa altura a gincanice já se tornou entediante. É um disco bom, no fim das contas, só que poderia ser melhor. A nota a ser concedida não visará qualificar o trabalho como um todo, mas apenas o tanto de Gamma Ray que pudemos encontrar nele.

Formação

Kai Hansen – vocal/guitarra

Henjo Richter – guitarra/teclado

Dirk Schlächter – baixo

Dan Zimmermann – bateria

Músicas

01.Into The Storm

02.From The Ashes

03.Rising Again

04.To Mother Earth

05.Rain

06.Leaving Hell

07.Empress

08.When The World

09.Opportunity

10.Real World

11.Hear Me Calling

12.Insurrection

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