É engraçado como as coisas que dizem respeito ao gosto são inconstantes e lógicas são totalmente subvertidas de vez em quando. Enquanto existem álbuns que somente o tempo faz uma parte do público começar a gostar ou entendê-lo, há outros que num primeiro momento causam certo impacto, mas o arrastar do tempo esfria as coisas. Algo assim ocorre com o álbum homônimo do Dream Theater, lançado em 2013 pela Roadrunner Records.
Okay, Dream Theater é Dream Theater. Banda relevante, principal referência do Progressive Metal – um grupo já montado para dar certo desde sua gênese. Qualquer coisa que lancem causa bastante rebuliço a princípio, e isso não é uma crítica – apenas sua relevância transbordando. No entanto, nem sempre todo o frenesi se mostra tão justo depois de algum tempo.
Ainda me recordo de quando “Dream Theater” foi anunciado; toda a expectativa, toda a especulação sobre como poderia ser um próximo trabalho com Mike Mangini, todas as brincadeiras manjadas sobre as canções longas… e a coisa ficou ainda mais vivaz quando a single “The Enemy Inside” foi liberada. Uma boa faixa, mas que à época pareceu melhor do que realmente é – ou então ela talvez seja uma música que, ouvida isolada, fica melhor do que inserida em um contexto mais amplo. Música tem dessas coisas.
O negócio é que quando o disco foi finalmente ouvido na íntegra pelo grande público, elogios não faltaram, especialmente de minha parte. Era a conjuntura do momento, que facilitava a gostar. Agora, pouco mais de três anos mais tarde, as percepções e pensamentos são um pouco diferentes e negativadas. “The Enemy Inside” é uma canção à parte, aparentemente pré-composta de maneira a ser divulgada como single e mascarar a lentidão e pouca atratividade das demais faixas. Claro, existem exceções ainda de pegada e ótimos arranjos e solos de guitarra e teclados de John Petrucci e Jordan Rudess em faixas como a instrumental “Enigma Machine”, mas de geral, as canções são intensas e sem grande beleza na base ou nos solos. James LaBrie exibe linhas vocais bem limpas, altas e sustentadas de forma estendida… cadenciado. Bem feijão com arroz.
Alguns elementos tinham tudo pra abrilhantar o trabalho, como os solos tocados à base de aplicativos de iPad por parte de Jordan Rudess (algo inicialmente introduzido com ar de inovação no disco anterior, “A Dramatic Turn of Events”, de 2011) e principalmente as orquestrações inseridas cá e acolá ao longo do registro, com maior incidência na gigantesca “Illumination Theory” (de “breves” 22 minutos de duração), mas acaba que esses recursos não chegam a melhorar tanto assim a coisa. A sensação que fica é de um Dream Theater sem inspiração, de saco cheio, e cujas partes que são mais elétricas assim o são pela própria facilidade de composição dos membros mesmo – lembremos que esses caras são feras no improviso.
Além de “The Enemy Inside”, basicamente, apenas “Illumination Theory” desequilibra um pouco e torna os 68 minutos totais da versão regular do trabalho realmente interessantes. A longa faixa, que encerra o trabalho, fica especialmente melhor a partir da metade, quando se ouve melhor aquilo que se espera realmente do Dream Theater, com seu estilo excêntrico e original.
O Dream Theater é fantástico. Uma das minhas bandas preferidas. Mas aqui, nesse registro homônimo, depois de passado todo o frenesi e, consequentemente, permitindo uma análise mais racional, bem… é duro de ouvir inteiro. Não é ruim, mas também não é tão bom assim. Tem que ser excessivamente fascinado pela banda, estar com muita paciência ou ter uma ligação emocional com o álbum por algum motivo diverso. Porque se você for fã antigo… oh, well.
Formação:
James LaBrie (vocal);
John Petrucci (guitarra);
John Myung (baixo);
Mike Mangini (bateria);
Jordan Rudess (teclados).
Faixas:
01 – False Awakening Suite
02 – The Enemy Inside
03 – The Looking Glass
04 – Enigma Machine
05 – The Bigger Picture
06 – Behind The Evil
07 – Surrender To Reason
08 – Along For The Ride
09 – Illumination Theory
10 – The Enemy Inside (Instrumental) (Bonus Track)
