Antes de entrar na análise do trabalho em questão é preciso salientar algo importantíssimo que não foi citado, o fato da importância do Dorsal Atlântica para o Metal Brasileiro, este grupo que capitaneado pela mente e musicalidade de Carlos “Vândalo” foi pioneira, num tempo em que não havia cena, lojas de música pesa e escassas lojas até para se conseguir instrumentos adequados ao Metal no Brasil! E O trio Dorsal Atlântica estava lá construindo a cena, e o mais louvável, desde sempre criando uma sonoridade própria e diferenciada, desde o início eles não buscaram copiar as bandas “mais quentes” da época daí o fato de se tornarem uma banca “Cult” no Metal Brasileiro.
Porém Carlos sempre um sujeito inteligente e sensato dava entrevistas polêmicas, inteligentíssimas e não é exagero dizer que a “atitude” metal do publico jovem do Metal Brasileiro naquele tempo foi muito influenciada pelas palavras de Vândalo, quando citava coisas como “não somos vendidos à mídia”, se ouve algum dia uma luz moral no Metal Brasileiro, com Certeza foi Carlos e seu Dorsal.
Entendido isso, é mais fácil abrir caminho para tentar entender que “Searching for the Light” foi um disco icônico na discografia da banda, bem como para o Metal, a profundidade e conteúdo de suas letras (agora em inglês) era algo magistral e sua musicalidade original, diferenciada, maravilhou e compreensivelmente assustou naquele início de anos 90 sobretudo se lembrarmos que o mundo musical começava a fazer surgir o horroroso e mal fadado movimento Grunge…
Não por menos a gravadora norteamericana “Wild Rags”, que primava por ter em seu cast, bandas diferenciadas e imediatamente se interessou em lançar “Searching for the Light” no exterior. O diferencial já começa por sua capa um jovem na entrada de um túnel numa alusão ao ser quando nasce dentro de um útero… O homem em busca da luz…da evolução, segundo palavras de Carlos Lopes à revista Rock Brigade.
Adentrando ao “túnel” de Searching for the Light temos o que o Dorsal sempre foi: – Uma salada bem equilibrada de estilos com uma abordagem original! Assim como as letras, a construção das composições está mais intrincada, em contraste com refinamento dos arranjos carlos queria para este trabalho uma sonoridade mais “suja e malévola” como o mesmo disse: “Eu sempre me admirei com a sonoridade dos primeiros discos do “Celtic Frost”, uma aura pesada e densa, comentou à época.
O disco abre com a pesada “Hierarchic Democracy”com todos os músicos mostrando serviço, Metal e Hardcore em uma simbiose harmônica de peso e melodia! Tente ouvir e não gritar junto a plenos pulmões junto refrão!
“Fighting in Gangs” traz o baterista Hardcore em plena forma abusando dos pedais duplos, mais cadenciada e evidenciando o peso. “Misery Spreads ” evidencia toda a técnica da guitarra de Carlos Lopes e mostra o excelente letrista que o músico sempre foi, sua crítica social é pesada e densa, refinada e consistente algo como podemos observar nas letras de “From Enslavement to Obliteration” do Napalm Death…
“Not to Leave the Power” nesta faixa quem mostra serviço é Claudio Lopes com seu baixo técnico e elegante, dando suporte ao ataque de guitarras de riffs rápidos e cortantes nos preparando para ” Only One Of Them (Must Be Left)” a melhor faixa do disco, se riff hipnótico e sua construção são algo irretocável, sendo uma epítome de todo o trabalho e evolução do Dorsal, faixa fantástica onde Carlos e Claudio exibem toda sua técnica!
E a hipnose de riffs não da trégua nas violentas e rápidas “Gathered Prisoners” e “Childish Boots and Steps” pedradas certeiras, mezzo Thrash Metal e Crossover!
As rápidas e “emergenciais” “The Ones Left Screaming” e “History Starts (To Take a Route)” finalizam a odisséia não deixando pedra sobre pedra.
Searching for the Light não foi um trabalho fácil em sua época e tampouco hoje, afinal estamos em frente a uma obra desafiadora e inovadora que quebrou parâmetros, não que o Dorsal houvesse enveredado por um Metal Cerebral, mas toda a riqueza de detalhes e originalidade requerem uma degustação mais atenta, assim ao banger mais atento vale a pena conferir esta que sem dúvidas é uma das maiores obras do Metal tupiniquim e mundial, com certeza!
Formação:
Carlos “Vândalo” Lopes – Guitars, Vocals
Cláudio “Cro-Magnon” Lopes – Bass
Toninho “Hardcore” – Drums
Faixas:
1 – Hierarchic Democracy
2 – Fighting in Gangs
3 – Misery Spreads
4 – Not to Leave the Power
5 – Only One of Them (Must Be Left)
6 – Gathered Prisoners
7 – Childish Boots and Steps
8 – The Ones Left Scream
9 – History Starts (To Take a Route)
