No fim dos anos 80 e início dos 90, nasciam algumas bandas escandinavas que dariam muito o que falar. Se não pela sonoridade animalesca desenvolvida diretamente da influência daquela “exótica” iniciada pelo Venom nos anos 80, dariam o que falar pelo conteúdo lírico e principalmente pelas polêmicas envolvendo anti-cristianismo, satanismo militante e ataques à religião que não se restringiriam apenas ao âmbito verbal. Era o Black Metal em sua ascensão.
Em Oslo, capital norueguesa, foi fundada em 1993 uma banda que se aproveitaria da influência das bandas emergentes de Black Metal que vinham se destacando no cenário local (podendo se estender também à Suécia), sobretudo aquelas que ampliavam os horizontes do que fazer com a crueza da vertente. Essa banda viria mais tarde a se tornar o maior representante e principal referência quando o assunto é Symphonic Black Metal, e certamente, todo ser humano familiarizado com o Metal já ouviu falar sobre ela: Dimmu Borgir. Conta-se que o título faz referência a um local de formações vulcânicas situado na Islândia, onde as lendas afirmam estarem presentes os portões para o inferno. “Dimmu” significa “escuro”, “sombrio”, enquanto “borgir” é o plural de “borg” e varia em suas definições, mas sempre transita pelos significados (no singular) “fortaleza”, “castelo”, “cidade”, “colina rochosa”, e por aí vai.
De qualquer forma, esses “Castelos Sombrios” trabalharam rapidamente em sua arquitetura e elevação. Em 1994 já haviam lançado três demos e o EP “Inn I Evighetens Mørke”, até que em 1995, com a formação consistindo em Shagrath (vocal e bateria), Erkekjetter Silenoz (guitarra), Tjodalv (guitarra), Brynjard Tristan (baixo) e Stian Aarstad (teclados), velozmente chegou o álbum de estreia “For All Tid”, lançado originalmente através da No Colours Records.
Provavelmente, a maioria que conhece a banda apenas mais ou menos está acostumada a ouvir um Dimmu Borgir em sua plenitude, maduro, desenvolvido, cheio de personalidade e identidade próprios, com musicalidade violenta e muito bem produzido – inclusive nos teclados e orquestrações – e letras em inglês. Mas no primeiro álbum, não é exatamente toda aquela violência e peso que temos – o que não significa dizer que estou fazendo uma crítica negativa -, e a língua cantada é a nativa: o norueguês. É apenas um tanto diferente.
Em “For All Tid”, o Dimmu Borgir era mais orgânico, muito mais próximo das raízes puras e pagãs do Black Metal do que se tornaria mais tarde. Os teclados, tão imprescindíveis à identidade da banda, estão presentes e com decisiva latência, mas o restante é o mais genuíno Black Metal, similar ao executado por outras bandas puras do gênero. Palhetadas alternadas velozes e veementes, bateria pegada, baixo apoiando na mesma velocidade e vocal gutural rasgado com reverberação, aquele eco que faz o ouvinte se sentir em meio aos bosques noruegueses no auge do inverno. A combinação entre Black Metal e a parte sinfônica dos teclados resulta numa musicalidade atmosférica bastante intensa, obscura e imersiva, com claras referências ao Burzum.
Mesmo que conte com músicas agressivas como deve ser um bom Black Metal, o disco é também repleto de passagens mais amenas, cadenciadas e ricamente atmosféricas. Algumas outras variações que deslocam o trabalho da homogeneidade que contém são vocais alguns vocais limpos graves e de postura mais narrativa por parte de Shagrath, aparecendo tanto na introdução “Det Nye Riket” quanto em “Over Bleknede Blåner Til Dommedag”. Há espaço também para canções como “Glittertind”, que é instrumental, e até mesmo manifestações musicais um tanto não-relacionadas diretamente com o Black Metal, como o Punk inserido na música “Hunnerkongens Sorgsvarte Ferd Over Steppene”.
Fora essas diferenciações, que são sempre bem-vindas em quase qualquer trabalho, “For All Tid” é um álbum bastante retilíneo, cujo brilho talvez seja melhor apreciado por ouvintes mais puristas do ramo. É dito isso principalmente devido à qualidade de produção, que não é das melhores. Os sons ambientais são bons, já que não trabalham exatamente com graves (o que torna a introdução ainda mais fabulosa e misteriosa), mas quando entra o Black na segunda faixa, “Under Korpens Vinger”, logo surgem as limitações produtivas. Contudo, se entender o que está sendo feito, isso não atrapalha e é um grande pró do trabalho, por mais que o conjunto norueguês viesse a se refinar, moldar-se e se tornar um dos verdadeiros reis do Black Metal norueguês.
Apenas a faixa “Raabjørn Speiler Draugheimens Skodde” foi reaproveitada do EP anterior, mas em uma edição futura, as outras duas (“Inn I Evighetens Mørke” partes um e dois) foram adicionadas, bem como outras quatro faixas bônus ao vivo.
Puro, envolvente, direto, imersivo. O Dimmu Borgir definitivamente iniciou sua carreira com o pé direito.
Formação:
Shagrath (vocal e bateria);
Erkekjetter Silenoz (guitarra);
Tjodalv (guitarra);
Brynjard Tristan (baixo);
Stian Aarstad (teclados).
Faixas:
01 – Det Nye Riket
02 – Under Korpens Vinger
03 – Over Bleknede Blåner Til Dommedag
04 – Stien
05 – Glittertind
06 – For All Tid
07 – Hunnerkongens Sorgsvarte Ferd Over Steppene
08 – Raabjørn Speiler Draugheimens Skodde
09 – Den Gjemte Sannhets Hersker
10 – Inn I Evighetens Mørke Part 1 (Bonus Track)
11 – Inn I Evighetens Mørke Part 2 (Bonus Track)
12 – Spellbound (Live) (Bonus Track)
13 – Tormentor of Christian Souls (Live) (Bonus Track)
14 – Master of Disharmony (Live) (Bonus Track)
15 – Metal Heart (Accept Cover) (Live) (Bonus Track)