O Deep Purple já estava com dois excelentes trabalhos lançados em 1969, “Shades of Deep Purple” e “The Book of Taliesyn”, que ajudaram a transformar o rock’n’roll em art music com suas ideias e ousadia. Mas a banda precisava crescer a um ponto mais alto e, para isso, contava com dois gênios incansáveis, Jon Lord e Ritchie Blackmore, que desejavam elevar a música do grupo a um nível mais elétrico, pesado e sinfônico. Essas características começaram a ganhar mais ênfase aqui, em seu terceiro álbum, “Deep Purple”.
Gravado no De Lane Lea Studios, em Kingsway, Londres (ING), o último disco da MARK I foi lançado primeiramente nos Estados Unidos em junho de 1969, pela “Tetragrammaton Records”, e depois em setembro no Reino Unido, pela Harvest Records.
Após lançarem o single “Emmaretta” que precedeu ao lançamento do ‘full length’, o quinteto formado pelos demais integrantes, Rod Evans (vocal), Nick Simper (baixo) e Ian Paice (bateria) saiu em cumprimento de uma turnê pelo Reino Unido intercalando o tempo que tinha entre shows e sessões de estúdio.
No álbum há grandes orquestrações, solos primorosos e a típica acidez daquela fase, mostrando que o Deep Purple ainda estava imergido na magia do rock progressivo e psicodelismo, como na canção que abre o disco, “Chasing Shadows”, onde Paice se destaca com sua habilidade canhota. Mas aquela olhada para o futuro, como se quisessem criar algo de diferente, vinha com a pegada ‘bluesy’ de “Why Didn`t Rosemary” e na “hard sessentona”, “The Painter”. Pode se dizer que a obra-prima de Jon Lord, “Concerto for Group and Orchestra” (1969), teve seus embriões em músicas como “Fault Line” e “April”, que exalam todo o experimentalismo e genialidade de quem trouxe para o mundo do rock a suficiência e eficiência da música clássica, e que, logicamente, gerou desagrado a Blackmore que não queria a sua guitarra em segundo plano.
No álbum há um único cover que foi escolhido para a música “Lalena” do cantor escocês Donovan. Isso refletiu mais na capacidade dos músicos que, na época, começavam a exalar ideias próprias pelos poros e incluí-las em seu repertório, o que não aconteceu com intensidade nos álbuns anteriores encharcados de regravações. Durante a concepção do álbum “Deep Purple” muita coisa legal rolou, como o convite para sair com o Rolling Stones em turnê pelos EUA, o que não aconteceu devido a imprevistos com o lançamento do álbum “Let it Bleed” da turma de Mick Jagger, e outro convite para saírem como ‘headlines’ em shows pela América do Norte, onde no Canadá seu álbum foi distribuído pela Polydor Records.
Apesar de muito sucesso nos palcos, nos EUA o Deep Purple não conquistou boas críticas da imprensa com o lançamento deste terceiro álbum, chegando a ocupar o posto 162 da Billboard 200. Culpa-se a gravadora americana de não ter investido na divulgação como devia, pois o selo estava com poucos recursos. Na Inglaterra, também não obtiveram bons resultados, pois a imprensa britânica estava de olho no lançamento de “Concerto for Group and Orchestra”, que trazia além de tudo, algo de novo para o rock. Por isso, o álbum “Deep Purple” foi ofuscado em quase todo mercado europeu, conseguindo disco de ouro apenas em 1990 na Alemanha.
Atualmente, é um álbum muito elogiado pela imprensa em geral e foi uma peça importante para a transformação da própria banda que, na época, demitiu em segredo Rod Evans e Nick Simper para a chegada de uma nova era na história do grupo, que você verá nas próximas resenhas.
https://www.youtube.com/watch?v=svIWKwU2-Co
Músicas:
Chasing Shadows;
Blind;
Lalena;
Fault Line;
The Painter;
Why Didn’t Rosemary?;
Bird Has Flown;
April;
Emmaretta (versão remasterizada do CD, 2000).