Roadie Metal Cronologia: Dark Tranquility – Haven (2000)

Existe uma forte identificação cultural quando o nome de um local é utilizado para definir ou delimitar as características musicais que ali mais se destacaram. O New York Hardcore, o Thrash da Bay Area, as viagens lisérgicas da Madchester ou até mesmo o Kraut Rock são alguns exemplos. Dentro da história mais recente do Metal, um dos seguimentos mais relevantes, e que permanece ativo até o nosso tempo presente, é o chamado Gothemburg Sound, dentro do qual surgiram nomes importantes e bem sucedidos como In Flames e Dark Tranquility.

Essa nomenclatura se confunde, em parte, com o próprio conceito de Death Metal melódico, visto a sua origem e correspondência com a popularização do estilo. Músicas com guitarras traçando melodias inspiradas principalmente em Iron Maiden, mas com vocais carregados de agressividade gutural. Essa fórmula se manteve pelos primeiros trabalhos de cada uma das bandas emergentes, mas foi, saudavelmente, migrando para outras experimentações de estilo, necessárias para que se firmassem suas identidades. O Dark Tranquility prossegue nesse caminho, correndo riscos e eventualmente acertando ou errando. “Haven”, seu quinto álbum, lançado em 2000 pela gravadora Century Media, traz exemplos de ambos resultados.

Desde a inversão de vocalistas que ocorreu junto com o In Flames, após as estreias de cada uma, o Dark Tranquility ainda não tinha passado por uma mudança significativa de integrantes e isso ocorreu previamente a gravação desse álbum. Após “Projector”, o guitarrista Fredrik Johansson abandonou o barco e Martin Henriksson migrou de sua posição nas quatro cordas para a guitarra. Mikael Niklasson assumiu o baixo e o tecladista Martin Brändström veio complementar a formação. Assentada a poeira, o disco pôde começar a ser gerado e o seu começo não poderia ser mais promissor: “The Wonders At Your Feet” é uma grande faixa de abertura dentro de seus compactos três minutos de duração. Aliás, essa é a média de tempo entre as canções, sendo que apenas duas ultrapassam a marca dos quatro minutos.

“Not Built To Last” mantém o mesmo padrão de dinâmica e o ouvinte vai sendo capturado aos poucos pelo disco. “Indifferent Suns” surge um pouco mais diferenciada, sendo mais orientada pela condução dos teclados, mas é em “Feast Of Burden” que o disco tem sua primeira faixa desnecessária, com um riff sem muito carisma e um andamento que parece não se decidir se pretende ser acelerado ou não. “Haven”, a faixa-título, torna a trazer os teclados para o primeiro plano, com um arranjo grandioso mas que não justifica o seu destaque nominando o álbum, sendo que a seguinte, “The Same”, tem resultados bem melhores nesse tipo de condução, mas nada ainda que recupere o ânimo despertado lá no começo. Ânimo esse que, ao chegar em “Fabric” e “Ego Drama”, já começa a ser mais intensamente testado, em duas músicas que não conseguem despertar nenhuma reação mais entusiasmada, havendo alguma recuperação apenas em “Rundown” e na emocional “Emptier Still”.

“At Loss For Words” oferece uma boa opção de encerramento para o disco, como uma adequada síntese da criatura Dark Tranquility nessa fase de sua carreira, fazendo com que a audição do disco seja concluída em um nível mais elevado. “Haven” repousa na condição de um trabalho entre o mediano e o bom. Tem grandes momentos, mas traz algumas faixas que não permitem que o disco decole plenamente. O que passa sem restrições pelo crivo do ouvinte é a atuação de Mikael Stanne. O vocalista consegue encaixar o seu gutural de forma variada e que mantém o nosso interesse em sua interpretação. E esse interesse é o que faz com que a banda prossiga ainda em atividade, sendo detentora de grande e merecido prestígio. Embora seja uma posição com a qual muitos devem discordar, o êxito de um trabalho não precisa estar atrelado apenas a excelência das canções, mas também à disposição em fugir da zona de conforto. O Dark Tranquility sente-se à vontade para assumir esse papel e, só por isso, já merece uma grande parte dos créditos que lhe damos.

Formação

Mikael Stanne − vocal

Niklas Sundin − guitarra

Martin Henriksson − guitarra

Michael Nicklasson − baixo

Martin Brändström − teclado

Anders Jivarp − bateria

Músicas

01.The Wonders at Your Feet

02.Not Built to Last

03.Indifferent Suns

04.Feast of Burden

05.Haven

06.The Same

07.Fabric

08.Ego Drama

09.Rundown

10.Emptier Still

11.At Loss for Words

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