Como explicar que uma banda que apresenta uma música bruta, violenta, absurdamente agressiva, e com letras que apostam no gore e no macabro, além de capas verdadeiramente repulsivas, e que nunca fez 1mm sequer de concessões para aplacar a fúria dos mais conservadores, tenha conseguido não só se tornar uma lenda dentro de seu estilo, como também vender mais de 2 milhões de cópias durante toda a sua carreira? Talvez a resposta já esteja implícita dentro da própria pergunta, ou talvez o sucesso se dê pelo fato de que, liricamente, consigam adentrar no lado mais obscuro que todo ser humano possui. Quem sabe não seja uma junção de tudo isso dito acima? O que importa é que, no final, Cannibal Corpse e Death Metal, são não só sinônimos, como também garantia de música de qualidade.
Vindo daquele que era para muitos, até então, seu melhor trabalho, o selvagem Bloodthirst (99), a missão do Cannibal Corpse não era das mais simples. Como superar um trabalho que já vinha sendo considerado clássico por muitos fãs? Bem, não dá para dizer que Gore Obsessed conseguiu essa façanha, mas é inegável que ele possui uma posição de grande destaque dentro da discografia da banda. Obstante alguns afirmarem que a banda grava o mesmo álbum a mais de 30 anos, a verdade é que quem faz tal afirmação, ou desconhece a carreira do grupo, ou simplesmente o faz de forma mal intencionada. Por mais que existam características que transpassem todos os seus álbuns, afirmar que trabalhos como Eaten Back to Life (90), Gore Obsessed e Red Before Black (17) apresentam exatamente a mesma coisa, é equivocado.
A verdade é que nos 2 trabalhos anteriores o Cannibal Corpse vinha evoluindo sua música, e Gore Obsessed marca essa evolução de forma definitiva. Mantendo suas características básicas, ou seja, aquele Death Metal selvagem, pútrido e extremo, conseguiram se mostrar mais focados e técnicos, adicionando uma dose de complexidade maior em suas canções, sem que as mesmas se mostrassem menos furiosas. George “Corpsegrinder” Fischer se mostra monstruoso como sempre, e a essa altura, não cabia mais comparações com Chris Barnes. Sem desmerecer a fase inicial da banda, que é clássica, mas dificilmente teriam conseguido chegar ao nível de hoje em dia, com seu antigo vocalista. Jack Owen e Pat O’Brien despejam riffs frenéticos e furiosos, além de solos brilhantes, o que me faz lamentar até hoje a decisão do primeiro de seguir seu rumo fora da banda, por mais que Rob Barrett também seja brilhante. Quanto a parte rítmica, não tem muito o que falar, pois ela é a melhor do Death Metal. Alex Webster e Paul Mazurkiewicz são monstruosos, e esbanjam técnica, precisão e peso.
“Savage Butchery” dá início ao trabalho com riffs furiosos e implacáveis, sendo seguida pela enérgica e caótica “Hatchet to the Head”. Com uma bateria explosiva, “Pit of Zombies” se destaca pelos riffs com um pé no Thrash; “Dormant Bodies Bursting” é violenta e com um ótimo baixo, e “Compelled to Lacerate” se mostra implacável e dona de algumas levadas mais complexas. “Drowning in Viscera” mostra força, peso e velocidade, e a grotesca (no bom sentido) “Hung and Bled” consegue alternar bem momentos mais velozes com outros mais cadenciados. A corrosiva “Sanded Faceless” possui riffs que são a epítome do Death Metal; “Mutation of the Cadaver” é outra onde o baixo brilha, enquanto “When Death Replaces Life” é cadenciada e bem sombria. Encerrando, temos a bruta e acelerada “Grotesque”, que conta com algumas passagens mais cadenciadas em seu meio. Algumas versões chegaram a sair com uma faixa bônus, “No Remorse”, cover do Metallica, que ficou bem legal.
No fim, Gore Obsessed pode até não conseguir superar Bloodthirst, mas de forma alguma torna ele um trabalho menor, já que marca o avanço definitivo do Cannibal Corpse, seu ponto de maturidade. Como isso vem acompanhado de uma música que inegável qualidade, acaba-o tornando um trabalho mais do que obrigatória na coleção, não só dos fãs da banda, como daqueles que apreciam um bom Death Metal.
Tracklist:
01. Savage Butchery
02. Hatchet to the Head
03. Pit of Zombies
04. Dormant Bodies Bursting
05. Compelled to Lacerate
06. Drowning in Viscera
07. Hung and Bled
08. Sanded Faceless
09. Mutation of the Cadaver
10. When Death Replaces Life
11. Grotesque
Formação:
– George “Corpsegrinder” Fisher (vocal)
– Jack Owen (guitarra)
– Pat O’Brien (guitarra)
– Alex Webster (baixo)
– Paul Mazurkiewicz (bateria)