Existem discos que só conseguem nascer devido a uma insistência quase que divina por parte de algum membro da banda. “Dactylis Glomerata” do Candlemass é um exemplo, pois mesmo com vários empecilhos o fundador e baixista Leif Edling não desistiu de seu objetivo abrindo assim novos horizontes para sua banda. Acompanhe:
Devido a várias baixas (inclusive de vendas) Leif toma a decisão de encerrar os trabalhos com o Candlemass após a turnê de “Chapter VI”. O restante do grupo (Jan Lindh, Mats Bjorkman e Lars Johansson) seguem suas vidas dando início a uma nova banda chamada “Zoic”, lançando no ano de 1996 o álbum “Total Level of Destruction”. Já Leif forma o grupo Abstrakt Algebra, tendo como membro o guitarrista Mike Wead além do vocalista Mats Levén. Em 1995 o Abstrakt Algebra lança um álbum homônimo repleto de capricho, porém que não agrada o público de Leif tão acostumados ao estilo do Candlemass.
Os problemas pessoais e financeiros começam a assolar a vida de Leif que não consegue emplacar com o Abstrakt Algebra, até porque o lançamento do segundo álbum da banda foi prejudicado pela horrível mixagem, sem contar que o produtor fugiu deixando as contas do estúdio para o grupo, fazendo com que Leif fique à beira da falência.
Quando o baixista já estava quase sem esperança, a gravadora “Music For Nations” se oferece para financiar um novo álbum do músico, porém com uma condição, a de que a gravação fosse lançada com o nome do Candlemass. Sem muitas escolhas, Leif decide (com um sorriso nos lábios) acatar a condição da gravadora.
A escolha dos músicos para a gravação foi outro desafio, Mats Bjorkman e Lars Johansson foram convidados, mas devido a seus projetos pessoais declinaram. Leif então corre atrás dos músicos da Abstrakt Algebra, o baterista Jejo Perkovic e o tecladista Carl Westholm aceitam o convite, porém o vocalista Mats Levén é obrigado a recusar pois estava gravando um álbum com Yngwie Malmsteen, deixando a vaga para o excelente Björn Flodkvist. Mike Amott do Arch Enemy foi recrutado para o posto de guitarrista, completando assim o time que gravaria “Dactylis Glomerata” o disco que marcaria a volta do Candlemass.
Usando como ponto de partida as composições que haviam sido feitas para o álbum do “Abstrakt Algebra”, a banda entra nos estúdios da “Swedish Radio Broadcasting” para retrabalhar as músicas já compostas além de escrever outras inéditas. Tudo vinha de vento em popa, inclusive com participações ilustres como no caso de Ian Hauglan do Europe, porém os problemas estavam longe de acabar, e mais uma vez as dívidas com o estúdio atrapalham o processo criativo e de gravação, inclusive alguns overdubs nas linhas vocais tiveram de ser finalizados em outro local.
Dezoito meses depois (levando em consideração as sessões com o Abstrakt Algebra) através de muito sofrimento e suor, é lançado em 17 de fevereiro 1998 “Dactylis Glomerata” o sexto álbum de estúdio dos pioneiros do Doom Metal Candlemass. O título do disco “Dactylis Glomerata” foi escolhido por Leif por ser o nome de uma planta provinda do hemisfério norte no qual ele era alérgico. A ideia era fazer um paralelo entre o sofrimento causado pela alergia à planta e o sofrimento que ele enfrentou para gravar o álbum.
A crítica, tanto por parte das mídias especializadas quanto pelos fãs, foram praticamente neutras. Mesmo a banda mantendo sua característica pesada e sombria, a incorporação de temas progressivos acabaram fazendo com que boa parte dos fãs se afastassem do material, transformando o mesmo num fracasso comercial. Creio que o “ar” de disco solo tenha cooperado negativamente, visto que Leif era o único membro da formação original.
Particularmente eu gosto muito de “Dactylis Glomerata”, principalmente pela introdução dessa “pegada” mais progressiva chamada por Leif de “Doom Abstrato”. Não podemos negar que as linhas cruas de guitarra junto a esse clima “novo” trouxeram para o trabalho algo diferenciado, além de ser um prenúncio do estilo que Leif adotaria em seu futuro projeto “Krux”.
https://www.youtube.com/watch?v=fkVeGLRSJ5s&t=164s
Faixas como “Wiz”, “Lidocain God”e “Karthago” são composições dignas de aplausos pela carga emocional e climática, sem contar que fazem jus ao termo Doom Metal presenteando os amantes do estilo com muita competência e cadencia. Em 2006 o álbum foi relançado no formato duplo com algumas faixas bônus, essas canções eram as gravações daquele que seria o segundo álbum do Abstrakt Algebra que foram deixadas de lado devido os problemas na mixagem do segundo disco.
Faixas:
“Wiz”
“I Still See the Black”
“Dustflow”
“Cylinder”
“Karthago”
“Abstract Sun”
“Apathy”
“Lidocain God”
“Molotov”
Membros:
Björn Flodkvist (Vocal)
Carl Westholm (Teclados)
Jejo Perkovic (Bateria)
Leif Edling (Baixo)
Michael Amott (Guitarra)
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7/10