Assim como muitos consideram o produtor George Martin como “o quinto beatle”, podemos imputar a Eirik “Pytten” Hundvin o título de “o segundo Burzum”. Se você está achando esta minha comparação esdrúxula, ou mesmo considerando-a uma heresia, a de mencionar Beatles e Burzum num mesmo parágrafo, explico, antes que você pense que este escriba é louco (não que eu tenha problemas quanto a isso): da mesma forma que o primeiro foi essencial durante toda a carreira e evolução dos Garotos de Liverpool, Pytten foi peça importante para que o Burzum se tornasse uma das bandas mais influentes para o Black Metal.

Sim, porque Pytten produziu e/ou masterizou todos os álbuns do Burzum até Umskiptar (2012) e fez dos seus conhecimentos de estúdio uma ferramenta para que Varg Vikernes pudesse pôr em prática suas ideias de Black Metal sujo e atmosférico. O primeiro adjetivo por si só descreve melhor os dois primeiros álbuns da banda, Burzum (1992) e Det som engang var (1993), trabalhos dotados de crueza, simplicidade, sujeira e rebeldia ímpares. Pytten soube canalizar todos estes elementos presentes na música de Vikernes através de suas técnicas no lendário Grieghallen Studios para ajudar a consumar estes dois álbuns como expoentes do Black Metal, especialmente o primeiro.

Todavia, em entrevista ao site Metal Discovery concedida em 2012, Vark Vikernes declarou que não conseguia mais ouvir seus dois primeiros álbuns, sob as alegativas de que seus vocais estavam péssimos em Burzum e que a qualidade técnica de Det som engang var era péssima. Detalhe que, quando ele menciona “qualidade técnica”, ele faz referência a si mesmo, e não ao produtor Pytten. Eis as motivações para que ele gravasse From The Dephts Of Darkness, que traz regravações de músicas destes dois álbuns, com qualidade técnica muito superior e com a atual interpretação de Vikernes enquanto cantor, performando vocais que mais se aproximam de um gutural convencional.

Não, não é que Varg e Pytten, com a colaboração de Davide Bertolini resolveram fazer uma mixagem cristalina e limpa em From The Dephts Of Darkness. A sujeira está lá; do contrário, não teríamos a essência da música do Burzum bem explorada. Mas a produção deste álbum de regravações é melhor e menos empoeirada que as originais. Os instrumentos estão mais nítidos aos ouvidos e a performance de Varg está mais segura principalmente na bateria. Os vocais, estes nem se falam!

Das onze faixas, três são interlúdios inéditos (The Coming, Sassu Wunnu e Call Of The Siren) e duas são regravações de Det som engang var (Key To The Gate e Turn Of The Sign Of The Microcosm). O restante são regravações de faixas do debut. E, a não ser que você seja um fã “die hard” da era noventista da banda, é bastante gratificante ouvir versões regravadas e melhor produzidas de Feeble Screams From Forests Unknown, Ea, Lord Of The Dephts, da maravilhosa e negra Spell Of Destruction, A Lost Forgotten Sad Spirit (que conta agora com vocais limpos misturados aos guturais) e My Journey To The Stars.

From The Dephts Of Darkness prova que Burzum não era só conhecido por conta das polêmicas envolvendo Varg Vikernes ou se tornou influente nos anos 90 pelas produções extremamente sujas e porcas. Este álbum mostra com clareza os elementos musicais que tornaram o Burzum relevante para o Black Metal, em especial para a vertente depressiva que veio a se tornar sua especialidade em Hvis Lyset Tar Oss e Filosofem. Por falar nestes dois álbuns, seria interessante também ouvir regravações de faixas de ambos. Pena que Varg não está mais interessado em militar no Heavy Metal. Ele agora se preocupa em ser youtuber e desenvolvedor de RPG’s em seu rancho na França. Se a sua única justificativa para não ouvir Burzum são as péssimas produções das gravações originais, quem sabe você não se agrade ao ouvir From The Dephts Of Darkness?

Detalhe: no encarte de From The Dephts Of Darkness, Varg dedica este álbum ao seu velho companheiro Pytten. Homenagem merecida e pertinente. E não, Pytten sempre esteve longe das polêmicas que envolveram a gangue de Varg nos anos 90.

Burzum – From The Dephts Of Darkness
Data de lançamento: 25 de novembro de 2011
Gravadora: Byelobog Productions

Tracklist:
01. The Coming (Introduction)
02. Feeble Screams From Forests Unknown
03. Sassu Wunnu (Introduction)
04. Ea, Lord Of The Dephts
05. Spell Of Destruction
06. A Lost Forgotten Sad Spirit
07. My Journey To The Stars
08. Call Of The Siren (Introduction)
09. Key To The Gate
10. Turn The Sign Of The Microcosm (Snu mikrokosmos’ tegn)
11. Channelling The Power Of Minds Into A New God

Line-up:
Varg Vikernes – vocais, guitarras, baixo, bateria, teclados

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