Mil novecentos e oitenta e seis havia sido um ano de ouro para quem curtia Thrash Metal. No continente americano tivemos “Master of Puppets” (Metallica), “Peace Sells… But Who’s Buying?” (Megadeth), “Reign In Blood” (Slayer), “Game Over” (Nuclear Assault), “Doomsday For The Deceiver” (Flotsam and Jetsam), “The Dark” (Metal Church), “Power and Pain” (Whiplash), “Darkness Descends” (Dark Angel), “Beyond The Gates” (Possessed), “Rrröööaaarrr” (Voivod)… Já na Europa, haviam sido lançadas pérolas como “Pleasure To Kill” (Kreator), “Obsessed By Cruelty” (Sodom), “Eternal Devastation” (Destruction), “Zombie Attack” (Tankard), “The Force” (Onslaught), “Possessed By Fire” (Exumer) e “The Upcoming Terror” (Assassin).
Sendo assim, por mais que viesse de dois álbuns de destaque, o bom “Fistful of Metal” (1984) e o ótimo “Spreading The Disease” (1985), seria impossível que Joe Belladonna (vocal), Scott Ian (guitarra), Dan Spitz (guitarra), Frank Bello (baixo) e Charlie Benante (bateria) não sentissem a pressão de lançar um grande álbum, afinal, se não o fizessem, corriam o risco de ficar para trás e perder terreno para a concorrência. Precisavam superar o trabalho anterior e ao menos igualar o poder de fogo de seus pares no ano anterior. Conseguiriam? A resposta a isso saiu no dia 22 de março de 1987 e se chamava “Among The Living”.
Vejam bem: os fãs que me perdoem… “Spreading The Disease” é um grande álbum, mas nele ainda faltava algo ao Anthrax, uma coisinha chamada identidade. Foi com “Among The Living” que o Anthrax se definiu como Anthrax. Encontrou seu estilo, sua cara. Se não fosse ele, seriam apenas mais uma banda de Thrash Metal que lançou bons trabalhos nos anos 80 e se perdeu no underground, como algumas citadas logo no início desta resenha e que lançaram grandes álbuns nesse mesmo período. O espaço cronológico 1986/1987 separou os meninos dos homens e o Anthrax ficou no segundo grupo.
Mas o que faz de “Among The Living” um dos maiores clássicos do Metal e um álbum chave para a carreira do Anthrax? Bem, vejamos: Belladona se encontrava em seu ápice aqui, tendo conseguido unir melodia e agressividade em seus vocais, nesse que foi seu melhor desempenho. Nas guitarras, Dan e Scott estavam “soltando faíscas pelos cascos”. A quantidade de riffs presentes aqui é algo impressionante. Rápidos, complexos, memoráveis, você inevitavelmente fica de queixo caído ao observar o trabalho da dupla. Na parte rítmica, Frank Bello consegue imprimir linhas agradabilíssimas com seu baixo, que está bem audível, algo raro em gravações de Thrash na época e Charlie Benante… Bem isso é um caso à parte. O cara está simplesmente animal, seu desempenho é fantástico em “Among The Living”, ouso dizer até mesmo o melhor de um baterista em um álbum de Thrash (e olha que a concorrência é duríssima). Técnico, rápido, agressivo e pesado ao extremo.
A estrutura das canções procura fugir do convencional até então, os riffs, como já dito, surgem em profusão e temos muitas mudanças de tempo. Junto disso, ótimas melodias, coros e alguns dos refrões mais marcantes do estilo. Além disso, falar o quê de um álbum uma sequência de abertura com “Among The Living”, “Caught In A Mosh”, “I Am The Law” e “Efilnikufesin (N.F.L.)”, além de “Indians”, “A.D.I./Horror of It All” e “Imitation of Life”, todos verdadeiros hinos? E sejamos sinceros, mesmo as duas músicas não citadas, “A Skeleton In The Closet” e “One World”, estão acima da média de 90% das bandas do estilo.
Na produção, ninguém menos que Eddie Krammer, que trabalhara com nomes do porte de Led Zeppelin, Triumph, Kiss, Jimi Hendrix, The Beatles, The Rolling Stones, David Bowie, Peter Frampton, Santana e Sir Lord Baltimore. Ao lado de Paul Hammingson, também foi o responsável pela mixagem. Já na masterização, outra lenda: ninguém menos que o saudoso George Marino, um gênio que trabalhou com nomes lendários da indústria musical, como Kiss, AC/DC, John Lennon, Alice Cooper, Stevie Wonder, Gregg Allman, Led Zeppelin, Queen, Bee Gees, Aerosmith, Ozzy Osbourne, The Allman Brothers Band fora Guns n’ Roses, Mötley Crüe, Bon Jovi, Journey e mais centenas e centenas de outros nomes. É muito pequena a chance de você não ter escutado ao menos de 50 a 100 álbuns que contaram com seu trabalho de masterização. Já a capa foi obra de outra saudosa lenda, Don Brautigam, responsável por capas e logos de nomes como AC/DC, ZZ Top, Rolling Stones, Metallica (é dele a capa de “Master of Puppets”), Chuck Berry, James Brown, dentre diversos outros. Um time digno da importância de “Among The Living”.
Original, criativo, rápido, raivoso, inovador, honesto, divertido. Qualquer uma dessas palavras pode definir “Among The Living”. Particularmente, eu prefiro outra bem mais interessante. Clássico!
Formação:
Joey Belladonna (vocal);
Dan Spitz (guitarra);
Scott Ian (guitarra);
Frank Bello (baixo);
Charlie Benante (bateria).
Faixas:
01 – Among The Living
02 – Caught In A Mosh
03 – I Am The Law
04 – Efilnikufesin (N.F.L.)
05 – A Skeleton In The Closet
06 – Indians
07 – One World
08 – A.D.I./Horror of It All
09 – Imitation of Life
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9/10