E cá estamos novamente, abrindo a Roadie Metal Cronologia com Annihilator e um verdadeiro clássico aos amantes do Heavy Metal tradicional com nada menos do que seu explosivo ‘Alice In Hell‘, álbum de 1989, lançado pela Roadrunner e produzido por Jeff Waters. Este com certeza é um registro que marcou a vida de tantos Headbangers, assim como esta que vos fala, e por muitos é considerado o melhor registro da banda em sua história.

 

  Deveríamos começar falando sobre as músicas deste patrimônio do metal certo? Errado! vamos começar falando sobre a banda, afinal o caminho para o seu lançamento foi realmente tortuoso.

 Annihilator começou como o projeto juvenil do talentoso Jeff Waters, o prodígio guitarrista canadense que não perdeu tempo em sua jornada e aos 13 anos já ministrava suas primeiras aulas, o que foi apenas um passo para aos 18 já estar compondo e pronto para colocar este monstro em atividade.

  Em parceria com o cantor John Bates a composição da primeira música da banda foi concluída, “Annihilator”, porém guardada a sete chaves até integrar o álbum “King of the Kill” de 1994, e precisou de um esforço maior de Jeff que assumiu a bateria, afinal não tinha quem o fizesse. Chegará o ponto de novos integrantes assumirem seus lugares e assim Paul Malek e Dave Scott integrarão o time tomando seus postos como baterista e baixista respectivamente, concluindo o que seria o primeiro demo da banda “Psyco Metal Kills”, o mesmo era o ensaio do que seria “Crystal Ann” e “Burns Like A Buzzasaw Blade”, com suas versões arcaicas. Infelizmente pouco tempo depois o baterista foi demitido e assumindo seu lugar entrou Richard ‘Death’, mas se por um lado tudo parecia seguir em frente por outro se transformou rapidamente em um furacão que quatro semanas depois teve como resultado a separação total do grupo.

(Um passeio rápido para alguns anos a frente)

 Como eu disse no princípio a história desta banda passa longe de uma corrida ao topo sem grandes buracos pelo caminho e passaram-se dois anos, até que Jeff voltasse aos estúdios para a gravação de uma demo, sendo assim encontramos “Phantasmagoria” gravada em 1986 com a única ajuda de Paul Malek na bateria. Jeff então decidiu mudar-se de Ottawa para Vancouver, onde gravou parte do primeiro álbum “Alice In Hell” com Ray Hartmann (bateria) e Dennis Dubeau (vocal). Com a formação da nova banda, o grupo conseguiu um contrato com a Roadrunner Records. Mas será que agora tudo seguiria? Errado novamente! Por incrível que pareça a banda passou por modificações e antes mesmo que o grupo acertasse todos os detalhes Dennis foi substituído por Randy Rampage e entraram ainda Dave Davis (guitarra) e Wayne Darley (baixo), mas bem vindas as substituições que levaram finalmente ao lançamento em 1989 de ‘Alice In Hell‘ gerando boas turnês abrindo para bandas como Onslaught e Testament.

 Agora sim, podemos finalmente voltar ao álbum e suas maravilhosas nove faixas estridentes vinte oito anos após seu lançamento. Então subam o volume pois este é um papo de headbanger para headbanger e com direito a vitrola aplaudindo ao receber este marco.

 Como todo apreciador do meio o primeiro encanto é a capa, um tanto quanto simples é evidente mas ao mesmo tempo aterrorizante e reflexiva com a doce Alison descendo as escadas em um conceito de Jeff Waters. O prazer de ouvir este recorde já parte daqui acredite. E a introdução não poderia deixar por menos com a delicada e melancólica “Crystal Ann” e seus 1:40 minuto de violões de náilon, o passeio começa aqui. Seria neste ponto onde a macabra Alice(Alison) cai no precipício?

 Uma fração te levará a contagiante e enérgica “Alison Hell“, confesso, esta redatora que vos fala é extremamente suspeita ao falar desta música pois foram incontáveis noites de pescoço dolorido ao curtir este som nos mais distintos lugares, somando a isso lembranças incríveis de quem descobriu cedo o Heavy Metal e se apaixonou perdidamente por estes riffs poderosos, este dedilhado clássico e esta voz gritante e com uma grande dose de ópera, é claro sem contar esta linha pulsante do baixo e bateria.

 Acredito que não precisa ser um seguidor do estilo para compreender perfeitamente a razão pela qual este som marcou tantas gerações do metal e serviu como padrão para todos, exatamente isso, todos os trabalhos que a banda lançou posteriormente. Sem contar o vídeo clipe que faz parte da coleção de todos os Headbangers.

 Confira abaixo:

 Mas como eu sempre digo, nada dentro do Annihilator é tão simples, e se por um lado encontramos uma música poderosa por outro encontramos uma história real e eis aqui uma curiosidade sobre Alison Hell, a música conta sobre uma garotinha em Montreal, Canadá, que tinha o medo noturno comum de ver o bicho-papão. Depois de ignorar seus apelos por conforto e segurança, os pais de Alison só puderam dizer: “Nós pensamos que era somente uma fase que ela estava passando“. Sua ignorância permitiu que a loucura de Alison pudesse se desenvolver gradualmente ao ponto de não ter volta(esquizofrenia).

 Observando agora a comparação com o conto literário Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll com Alison tudo se torna um tanto triste quando transportada como composição para o meio musical, no entanto também serviu como alerta aos pais para que prestassem mais atenção aos medos e anseios de seus filhos, e acredite, isto pode ser muito mais sério do que se imagina e são inúmeros os casos de transtorno infantil por este motivo que para muitos não passa de frescura dos pequenos mas que pode afetar significativamente seu futuro. Lembro-me inclusive de um artigo muito interessante de alunos da Faculdade Mackenzie ao qual buscaram compreender a profundidade que bandas do metal abordavam certos assuntos, interligando de forma cautelosa a preparação e bagagem cultural que aparecem em forma de rimas ou até mesmo de citações diretas, tendo relação com grandes histórias, livros, obras e personalidades. E neste artigo é claro Alison foi citada para meu espanto,  dissipando determinados paradigmas, intolerâncias e preconceitos para com o estilo musical selecionado, e é claro, ainda contaram com John Bates na interpretação e construção dos sentidos presentes na faixa e indo muito além do mundo das Alices já retratadas.

 Leia um pouco mais sobre o assunto AQUI.

 Se por um lado Headbanger de coração por outro mãe devota, mas voltemos ao que interessa enquanto a cortante “W.T.Y.D.” (Welcome to Your Death)” entra em cena como um refresco energizante após uma longa noite, o mesmo para “Wicked Mystic“. Neste momento se torna preciso mencionar que este álbum é quase em sua totalidade velocidade, faixa após faixa. Sem contar “Burns Like a Buzzsaw Blade”  que já nasceu clássica.

 Em “Word Salad” pulamos por um instante para uma linha mais cadenciada em sua introdução, mas não se acostume, tudo muda rapidamente para um Thrash metal mais furioso e assim seguirá até um tenro solo. E se tem algo que o Annihilator fez com maestria neste álbum é surpreender na linha instrumental, com picantes e inusitados “cortes” de ritmo. Tantos detalhes explicam o porque deste ser o disco de estreia mais vendido da história da Roadrunner Records na época, vendendo mais de 250,000 cópias, sendo superado em 1994 pelo “Burn My Eyes“, do Machine Head.

 Em todo o álbum observamos o decorrer da história de Alison, e se a esquizofrenia que a levou ao fim tinha que ser mencionada em “Schizos (Are Never Alone) Parts I & II” ela ganhou seu tenebroso lugar.

 Vamos somar mais um fato curioso sobre este álbum, após o lançamento de “Rust in Peace“, do Megadeth,  Dave Mustaine afirmou que nas idas ao estúdio para gravar tal álbum, a fita de “Alice” não saía do carro e por duas vezes Waters foi convidado a se juntar ao Megadeth, tendo recusado nas duas ocasiões por preferir manter o foco no Annihilator.

 Enfim chegamos a “Ligeia“, aqui sentimos o peso sinistro da triste história desta garota, e uma boa dose de fúria começa a nos aproximar do fim deste massacrante álbum.

A doença caiu sobre Ligeia
e todos sabiam que ela iria morrer
a meia-noite veio para lançar o seu descanso, adeus;
sonhos de ópio, anos de angústia, tomei outra noiva
pra substituir o que eu tinha, Ligeia, por quê?

                                                        -Ligeia

  Como dito anteriormente este trabalho consiste em peso, velocidade e rispidez, e não poderia ser diferente em sua faixa final “Human Insecticide“. e por mais que a banda jamais tenha tido qualquer intenção de se envolver nesta história em caráter pessoal seu padrão para o conto se tornou uma marca que refletiu em diversos grupos, servindo como parâmetro para muitos músicos dentro do metal.

 Alice In Hell evidentemente não acumula apenas elogios, duras críticas sempre foram feitas sobre o vocalista Randy Rampage, baixista da lendária banda de hardcore punk D.O.A .

  No mais a resposta é unanime, este é um álbum definitivamente essencial e energético de Thrash metal que não pode ficar de fora da sua prateleira. É absolutamente impiedoso e um dos melhores da banda. Já nasceu sendo um clássico!

 Mas calma não corra ainda! Como eu lhe disse mais de uma vez durante esta resenha o Annihilator sempre foi uma caixinha de surpresas e na reedição deste álbum em 1998 um bônus foi incluído com três faixas (“Powerdrain” Demo,”Schizos (Are Never Alone)Parts I & II” Demo e “Ligeia” Demo) que você também pode conferir abaixo nesta edição completa:

 E para você que leu até o fim e que continuará acompanhando diariamente a Roadie Metal Cronologia do Annihilator e não entendeu como uma banda tão potente desde seu primeiro trabalho não emplacou como grandes nomes do metal fica a minha dica para o DVD Annihilator – Ten Years in Hell lançado em 2006 e que trás além de muitas faixas, detalhes, Backstage, entrevistas, e um depoimento muito interessante de Jeff Waters contando sobre os problemas e a história da banda.

 Hora de desligar a vitrola, até a próxima!

 Membros da banda na época:

  • Jeff Waters – Guitarras, baixo e vocal de apoio
  • Ray Hartmann – Bateria
  • Randy Rampage – Vocal principal
  • Wayne Darley – Baixo

Participações

  • Anthony Brian Greenham – Guitarra
  • Dennis Dubeau – Vocal de apoio

 

Tracklist:
1. “Crystal Ann”
2. “Alison Hell”
3. “W.T.Y.D.” (Welcome to Your Death)
4. “Wicked Mystic”
5. “Burns Like a Buzzsaw Blade”
6. “Word Salad”
7. “Schizos (Are Never Alone) Parts I & II”
8. “Ligeia”
9. “Human Insecticide”
Conheça a banda(hoje com outra formação)
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