Roadie Metal Cronologia: Amorphis – The Karelian Isthmus (1992)

Começamos hoje a jornada pela discografia de mais um nome icônico do cenário mundial da música pesada: Amorphis!

Formada em 1990 na Finlândia, o Amorphis surgiu de uma série de troca de membros de outras bandas da cena local. Basicamente, havia uma banda de Thrash Metal chamada Violent Solution, onde dois músicos-chave para esta história tocavam: Tomi Koivusaari e Jan Rechberger. Tomi deixou a banda em 1990 para formar a banda de Death Metal Abhorence, e foi substituído por Esa Holopainen. Pouco tempo depois, o Violent Solution se separou, com Rechberger e Holopainen optando por formar uma nova banda de Death Metal, por eles nomeada de Amorphis, e chamaram Koivusaari para assumir os vocais. Após a gravação de uma demo, o Abhorrence também a viria a acabar, deixando Koivusaari com mais tempo para trabalhar com o Amorphis. Acontece que a bendita demo havia rendido uma oferta de contrato com a gravadora Relapse Records para a finada banda. Aproveitando a oportunidade, os membros do recém-formado Amorphis enviaram uma demo deles em resposta para a gravadora, conseguindo assim transferir o contrato para a nova banda, e garantindo um lançamento mundial para o seu álbum de estréia: “The Karelan Isthmus“.

Embora a história inicial da banda seja este emaranhado de músicos e contratos, a sonoridade da mesma em sua estréia era surpreendentemente focada e original para uma banda que estava apenas começando. Com suas 10 faixas, a banda parecia saber exatamente qual tipo de som queriam fazer.

Apesar de uma referência clara do Death, que na época inovava com o seu o Death Metal técnico, e também uma pitada de Bathory nas passagens mais lentas e melódicas, e ainda um tom de guitarra e afinação próximos ao Entombed, o Amorphis fazia parte do embrião de um movimento mundial que se consolidaria nos anos seguintes, trazendo o Death Metal para um cenário mais melódico e menos caótico.

Escutando este disco em 2019, o mesmo pode não parecer a coisa mais inovadora do mundo, mas imagino que isso lá em 1992 deve ter pego a comunidade do Metal de surpresa. Pois o fato de hoje termos tantas bandas apostando nesta sonoridade que os Finlandeses fizeram há 27 anos atrás mostra o quão a frente de seu tempo eles estavam. Para se ter uma ideia, o disco precede os clássicos “Heartwork” do Carcass, e “Terminal Spiritual Disease” do At the Gates, ambos discos seminais do Death Metal Melódico.

Apesar de hoje sabermos que a banda viria a se afastar um pouco do Death Metal, favorecendo um som mais puxado para o folk, ali no primeiro disco já tínhamos a semente de uma de suas características icônicas: O uso de letras inspiradas em folclore e mitologia. Neste disco há um foco maior na mitologia celta, ao invés da narrativa folclórica finlandesa que veríamos nos trabalhos vindouros.

No geral, o disco é extremamente uniforme. Todas as músicas seguem geralmente a mesma linha, unindo melodia e um certo groove com passagens mais rápidas e agressivas típicas do Death Metal. Blastbeats são incorporados de uma maneira dosada, de forma a dar mais dinamismo às canções. O timbre de guitarra pesadíssimo e cheio de “buzz” lembra o som típico da cena sueca.

O álbum também conta com o uso dosado de teclados, na maior parte apenas como auxílio para a criação de passagens épicas e atmosféricas, mas nunca interferindo com o peso. O som do disco é pesado e “expeço”, auxiliado pelos guturais de Tomi Koivusaari, que permanecem graves e cavernosos durante o disco inteiro.

Toda esta uniformidade garante ao disco uma qualidade estável ao longo de suas 10 faixas, tornando difícil a escolha de um destaque. Minhas favoritas são “The Gathering“, que abre o disco e tem uma boa mistura de tudo o que está por vir, tendo peso, melodia e agressividade, “Grail’s Mysteries“, que já chega com mais energia e um riff marcante, se expandindo para um som que muito me lembrou a primeira fase do Opeth, “Warrior’s Trial” com sua abertura pesada e sinistra, e “The Lost Name of God” que mistura melodias de guitarra fortíssimas com passagens mais extremas.

A mesma uniformidade sonora pode, porém, fazer com que o álbum soe repetitivo para alguns ouvintes. Não foi um problema tão grande assim para mim, mesmo porque não é um trabalho tão longo, durando pouco mais de 40 minutos. As faixas em si, que raramente quebram a barreira dos 3/4 minutos, evitam aquela sensação de que o disco está se arrastando demais e caindo na redundância.

The Karelian Isthmus” é um ótimo disco de estréia, e tem uma qualidade rara entre lançamentos deste tipo: Originalidade. Embora o Amorphis talvez não seja tão relembrado como um dos pioneiros do Death Metal Melódico/Progressivo, temos este play como prova. Basicamente, se você curte esta linha mais moderna do Death Metal, você deve a si mesmo uma audição deste disco, mesmo que o som atual da banda não te agrade. Palavras de uma pessoa que dormiu durante o show deles no Roça’n Roll!

Tracklist
01 – Karelia – 0:45
02 – The Gathering – 4:15
03 – Grail’s Mysteries – 3:05
04 – Warriors Trial – 5:07
05 – Black Embrace – 3:43
06 – Exile of the Sons of Uisliu – 3:46
07 – The Lost Name of God – 5:34
08 – The Pilgrimage – 4:42
09 – Misery Path – 4:20
10 – Sign From the North Side – 4:57

Formação
Tomi Koivusaari − vocal, guitarra base
Esa Holopainen − guitarra solo
Olli-Pekka Laine − baixo
Jan Rechberger − bateria, teclado

Nota: 8,5

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