Apesar de o Alice In Chains frequentemente ser enquadrado no movimento Grunge, nunca o considerei parte deste movimento, musicalmente falando. Sempre achei que o seu som é um Stoner/Doom, devido ao peso das guitarras, o ritmo lento e cadenciado e as atmosferas desérticas e por vezes chapadas. Tanto é que esta banda é a única daquele movimento que consta nos arquivos do Encyclopaedia Metallum, site conhecido por ser rigoroso e exigente no ser ou não ser Heavy Metal. Ouvir Alice In Chains me conduz por aquelas rodovias que cortam os desertos americanos, com cordilheiras cobreadas a acidentar o horizonte, por volta do crepúsculo.
É mais ou menos esta a imagem que minha mente formula sempre que ouço, por exemplo, seu mais recente trabalho de estúdio, The Devil Put Dinosaurs Here, lançado em maio de 2013 pela gravadora Capitol. Neste seu quinto full-length, a banda oriunda de Seattle esbanja o melhor do seu Stoner Rock em doze faixas (muito!) que alternam sons pesados e desesperados com outras faixas mais amenas, criando aquele clima de sarau na beira da estrada em torno de uma fogueira. Há momentos que a sequência das músicas amenas quebra fortemente o colosso levantado pelas faixas pesadas. Mas, de qualquer forma, o Alice In Chains não costuma decepcionar, e The Devil Put Dinosaurs Here sustenta com força o legado musical da banda.
Produzido por Nick Raskulinecz (Rush, Trivium, Ghost, etc.), mixado por Randy Staub (Metallica, Mötley Crüe, etc.) e masterizado por Ted Jensen (miríade de bandas), The Devil Put Dinosaurs Here carrega uma sonoridade suja e empoeirada, ao mesmo tempo altamente nítida, exaltando os baixos de Mike Inez e misturando com louvor os bases pesadas de Jerry Cantrell com seus solos e efeitos altamente reverberizados que são sua marca registrada. Além disso tudo, este disco sacramenta o nome do cantor Willian DuVall como a voz do Alice In Chains, que havia estreado no álbum anterior, Black Gives Way To Blue. O cara simplesmente arrebenta com seu timbre carregado de feeling!
A música Hollow é um Doom Metal que abre os trabalhos com peso e melancolia, cujas dobras vocais entre Duvall e Cantrell emergem condensadas em meio ao ambiente inebriante. Em seguida vem a frenética Pretty Done e a marcante Stone, que é comandada inteiramente pelo contrabaixo de Mike Inez. Não tem como não se contorcer todo ao comando da puxada do riff.
A primeira música mais leve é Voices. Guiada por violões, a música é de uma simplicidade e eficiência ímpares. O clima mais alegre que Voices trouxe é logo quebrado pelo Stoner psicodélico da faixa-título, onde os efeitos de Cantrell criam ondas que carregam o ouvinte através de poeiras atemporais. Um Blues sabbathiano é o retrato da música Lab Monkey, enquanto um Hard Rock ozzyano conduz a faixa Low Ceiling (consegue-se imaginar Ozzy Osbourne cantando as linhas vocais de DuVall nesta faixa. Vale lembrar que ambos Cantrell e Inez já trabalharam com o vocalista da banda que criou o Heavy Metal, o Doom e o Stoner).
Breath On A Window é outro Stoner, desta feita mais agitado e com ótimas e grudentas linhas vocais e bases de guitarras. Scalpel é uma música com jeitão de balada e quebra o ótimo ritmo que suas antecessoras levantaram. Phantom Limb levanta novamente o peso derrubado pela faixa anterior e tem uma cara de Metallica nos timbres e palhetadas, mas logo em seguida se desenvolve seguindo a velha influência sabática que o Alice In Chains sempre carregou e que a faz se destacar como a melhor banda do cenário musical de Seattle dos anos 90. Tudo isso ainda corroborado pelo solo que o próprio DuVall executa. Se DuVall também toca, Cantrell também canta. Hung On A Hook traz os vocais bem encaixados de Jerry Cantrell a iniciá-la, retratando uma cabeça a rodar em puro estado de melancolia e desprezo. E finalmente, Choke é mais uma música cansativa que encerra o disco. Bem que este álbum poderia ser mais curto, enxuto e direto, convenhamos.
Não obstante, The Devil Put Dinosaurs Here marca de vez a volta do Alice In Chains, sendo prova de que a banda continua com a mesma inspiração dos anos 90, mesmo sem Layne Staley, que pensava que a vida era curtição sem preocupação, quando na verdade se deparou da pior forma possível que era o contrário. Willian DuVall tem uma grande voz e concorre em pé de igualdade com as guitarras bem encaixadas de Cantrell. Barra pesada para a cozinha formada pelo baixista Mike Inez e pelo baterista Sean Kinney, que conseguem ser mais barra pesada ainda. A arte de capa, que varia de cor e de ponto de vista da caveira paleolítica que a estampa, dependendo da versão do disco e do orçamento do comprador, foi obra de Ryan Clark.
No mesmo ano de lançamento de The Devil Put Dinosaurs Here, o Alice In Chains veio ao Brasil para se apresentar no Rock In Rio. Atualmente, Willian DuVall se encontra ocupado em seu novo projeto, o Giraffe Tongue Orchestra, ao lado de integrantes do Mastodon, The Dillinger Escape Plan e The Mars Volta.
Pois bem. Apesar da curta discografia, que não reflete o tempo de atividade da banda, que foi fundada em 1984, o Alice In Chains se tornou uma das mais influentes e renomadas bandas dos anos 90 para cá. Sua sonoridade simples, mas exuberante, segue iluminando e convidando seus fãs e ouvintes à reflexão, ora com mais peso, ora com mais leveza. Aguardemos os próximos atos deste quarteto.
The Devil Put Dinosaurs Here – Alice In Chains (Capitol Records, 2013)
Tracklist:
01. Hollow
02. Pretty Done
03. Stone
04. Voices
05. The Devil Put Dinosaurs Here
06. Lab Monkey
07. Low Ceiling
08. Breath On A Window
09. Scalpel
10. Phantom Limb
11. Hung On A Hooke
12. Choke
Line-up:
Willian DuVall – vocais, guitarras
Jerry Cantrell – guitarras, vocais
Mike Inez – contrabaixo
Sean Kinney – bateria