“From The Inside” poderia ter sido um recomeço, mas foi apenas um intervalo dentro do turbilhão que a vida de Alice Cooper vinha passando. O tratamento de internação, que inspirou aquele disco, teve efeito por um tempo, mas, quando a recaída aconteceu, pareceu cobrar os juros correspondentes ao período de sobriedade.
A fase representada pelos quatro álbuns que vão de “Flush The Fashion” até “DaDa” é nomeada pelo cantor como seus anos de “blackout”. Alice diz que compôs, gravou e excursionou, mas que não se lembra de ter feito nada disso. A situação estava tão crítica que a turnê de “Special Forces” foi a última a ser realizada antes de “Constrictor”, resultando em dois álbuns lançados sem serem divulgados na estrada.
Esse momento da carreira guarda, pelo menos, uma coerência dentro de si mesmo. Se falta conexão entre os álbuns e o restante da discografia, essa pode ser aferida entre os mesmos, quando vistos como subconjunto. “Flush The Fashion” acenava para a New Wave e “Special Forces” seguia a linha. Havia um pouco mais de agressividade, claro, para fazer jus ao tema explorado, com o cantor e banda encarnando guerrilheiros chiques, com boinas e olhares de cima para baixo.
Alice absorvia e regurgitava a cultura do tempo que o cercava. Eram os anos 80 no seu começo, e teclados e baterias eletrônicas foram incorporados aos arranjos. A performance dos músicos cuidava para que o verniz áspero não fosse negligenciado. Special Forces passou a ser também a denominação da banda e era necessário que esse nome representasse determinação de ordem.
A primeira faixa não perde a oportunidade de ser impositiva. “Who Do You Think We Are” são palavras que trazem arrogância embutidas em si e foram incorporadas na melhor música do disco. Uma batida marcial com progressões melódicas de suspense, marcante a ponto de fazê-la ser recuperada em turnês no futuro.
“Seven & Seven Is” é uma cover da psicodélica banda Love, modernizada eletronicamente, fazendo contradição com a pegada Punk minimalista de “Prettiest Cop on the Block”. “Don’t Talk Old To Me” tem partes que poderiam ser comparadas ao tipo de música que o grupo americano Devo fazia. Melhor assim do que a desnecessária inclusão de “Generation Landslide ‘81”, gravada ao vivo no estúdio e sem dizer muito a que veio, apresentando-se inferior a sua versão original contida no álbum “Billion Dollar Babies”.
“Skeletons In The Closet” abre a segunda metade do disco e, por algum tempo, foi considerada para ser a faixa título, mas não possuindo força suficiente para tanto. Mesmo “You Want It, You Got It”, que margeia um tipo de synthpop pré-histórico, soa mais relevante. Felizmente, “You Look Good in Rags” surge para nos lembrar de que este é, afinal, um disco de Rock, possuindo um clima quase stoneano em seus riffs. A dualidade existente entre estas duas últimas músicas, intercalando o Pop robótico com o Hard distorcido, é repetida nas faixas seguintes, “You’re a Movie” e “Vicious Rumours”, terminando esta última com a repetição do refrão de “Who Do We Think We Are”.
Eram as Forças Especiais que permaneciam no seu patrulhamento. Quem sabe se o Alice Cooper de maquiagem negra e camisa de força não era refém das mesmas? Isso explicaria a razão de “Special Forces” ser o melhor entre os discos do “blackout”!
Formação:
Alice Cooper (vocal);
Mike Pinera (guitarra);
Danny Johnson (guitarra);
Erik Scott (baixo);
Craig Krampf (bateria);
Duane Hitchings (teclado)
Músicas:
01. Who Do You Think We Are
02. Seven and Seven Is
03. Prettiest Cop on the Block
04. Don’t Talk Old to Me
05. Generation Landslide ‘81
06. Skeletons in the Closet
07. You Want It, You Got It
08. You Look Good in Rags
09. You’re a Movie
10. Vicious Rumours