Uma hora ou outra, o preço é cobrado.
Dentro do ritmo de produção típico dos anos 70, Alice Cooper vinha na sequência de inserir um clássico após o outro dentro da história do Rock’n’Roll, mas a estrada do sucesso começou a exigir cada vez de um artista que, devido aos abusos monumentais de álcool, começou a ter menos para oferecer.
O disco não é ruim, claro, apenas não tem a inspiração dos anos que lhe antecederam. Nem mesmo o parceiro Bob Ezrin, consagrado produtor, conseguiu colocar a coisa nos devidos trilhos. Aliás, Bob assina oito das dez composições presentes, então tem uma grande parcela de responsabilidade com o resultado.
Alice Cooper, por si só, é um personagem assumido pelo cantor Vincent Furnier. O nome que aparece nas capas dos discos é desse personagem. Portanto, não deixa de ser curioso ver o personagem criar um subpersonagem. “Lace and Whisky” apresenta a figura de Maurice Escargot, uma espécie de detetive particular, inspirado pelo Inspetor Clouseau (de “A Pantera Cor-de-Rosa”) e por investigadores dos filmes noir. O fato de Escargot ser alcoólatra serviu para aproximá-lo um pouco mais da realidade.
Mas Cooper não explorou tão bem a persona de Escargot, ao contrário do que David Bowie fazia tão bem, e o conceito é apenas superficialmente tratado no álbum.
O problema de muitos discos é a má distribuição de suas músicas. Em “Lace and Whiskey” você quase pode enxergar a linha descendente sendo desenhada. O álbum transparece claramente dividido em três partes bem delimitadas, começando bem, tendo um miolo regular e um final fraco. A sequência de abertura, com “It´s Hot Tonight”, “Lace and Whiskey” e “Road Rats” deveria ter sido o padrão para orientar o tipo de material que o restante do disco deveria possuir. Aí o álbum teria outra avaliação!
“Damned If You Do” chegou a aparecer em algumas coletâneas, mas não chega a ser uma canção memorável. A balada “You and Me”, por outro lado, é muito agradável e bonita, merecedora de estar ao lado do que Alice já fez de melhor nesse tipo de composição, como “I Never Cry” ou a vindoura “How You Gonna See Me Now”.
“King of the Silver Screen” tem algumas variações em seu andamento, mas que não ajudam a tornar a faixa mais interessante, deixando-a cansativa e sem parecer ter um sentido para onde se dirigir. “Ubangi Stomp” é um cover de Charles Underwood, e seu ritmo Rockabilly torna-a irresistível e divertida. Foi necessário ser assim, pois daí pra frente é apenas ladeira abaixo…
“(No More) Love At Your Convenience” é uma pífia tentativa de aproveitar um naco da onda Disco do final da década, mas, apesar de sua inconsistência, não soa tão esquecível quanto as duas últimas, “I Never Wrote Those Songs” e “My God”. Talvez Alice devesse ter se inspirado no título de suas próprias obras e nunca ter escrito estas canções… Meu Deus!
Enfim, “Lace and Whiskey” é um trabalho irregular, que tem bons momentos e outros sofríveis. Se o cantor já vinha vivenciando a luta com seus próprios demônios, está tornou-se mais aguerrida e findou com a sua internação voluntária para tratamento. Foi a atitude certa, em um momento onde não havia outras opções. O resultado seria materializado em um álbum bem superior no futuro próximo.
Banda:
Alice Cooper (vocal);
Dick Wagner (guitarra);
Steve Hunter (guitarra);
Tony Levin (baixo);
Allan Schwartzberg (bateria)
Músicas:
01. It’s Hot Tonight
02. Lace and Whiske
03. Road Rats
04. Damned If You Do
05. You and Me
06. King of the Silver Screen
07. Ubangi Stomp
08. (No More) Love at Your Convenience
09. I Never Wrote Those Songs
10. My God