A primeira vez que vi o norte-americano Alice Cooper no palco foi em Belo Horizonte, em 2000 quando fui surpreendida com um evento intitulado “The British Rock Symphony” realizado pelo produtor David Fishof, do qual Alice Cooper, Jon Andersn, Alan Parsons e Tony Hadley dividiam o mesmo palco para uma turnê que pretendia-se a resgatar o interesse das pessoas por canções inglesas de sucessos, entre elas canções dos Beatles. O concerto foi com um coro e orquestra inesquecíveis. Foi naquele momento que aquele homem já com seus ainda 52 anos, expressaria tão veemente para mim sua maior característica: sua expressão corporal e teatral no palco, com um chicote, o rosto pintado e uma roupa preta seminua, a mostrar sua virilidade madura. Mas vamos falar de “Easy Action”, o segundo álbum de sua carreira.
1970 foi o ano em que as pessoas realmente começaram a falar sobre Alice Cooper. Sua aparição ao vivo no filme “Diary of A Mad Housewife” e a imortalização no D.A. O filme de Pennebaker de sua aparição em Toronto capturou sua melancólica maneira típica e franzina, com jeito típico extrovertido que impressionou muitas pessoas. Alice Cooper se tornaria uma grande figura do mundo do Rock, seu futuro estava a ser lançado. Começando por ser ainda o “grupo” Alice Cooper, era o inicio de um grande momento em sua carreira.
Em comparação com a debochada estréia de “Pretties For You“, é a rapidez das canções e a habilidade de composição e interpretação do grupo Alice Cooper que chamam a atenção. Assim vemos que eles conseguiram melhorar drasticamente num espaço de apenas um ano. Easy Action não é um álbum perfeito, mas a evolução do primeiro para o segundo álbum é algo a se destacar. Este é um álbum de acompanhamento pouco conhecido da banda Alice Cooper para o seu álbum de estréia pouco conhecido, lançado em 1970, apenas um ano antes do crítico e comercial álbum clássico “Love It To Death”.
Ao contrário da estréia, que foi de 38 minutos de ruído quase inaudível, cada música no Easy Action é diferente do resto. Mas este é um álbum de transição, vendo a banda amadurecer da fase “experimental” para a incrível fase de composição do Hard Rock, então há uma mistura de ambos os aspectos ao longo do álbum.
A primeira música é “Mr. And Misdemeanor“, que soa muito com o Alice Cooper que se manifestaria em álbuns posteriores. É um Rock de ritmo médio, meio progressivo que tem acompanhamento de piano, mas a coisa mais importante que você notará é a primeira aparição de sua voz e sua marca registrada que se desenvolveria nos demais álbuns da carreira. Uma das influências de Cooper no inicio da carreira sempre foi Frank Zappa, o que vê-se claramente sua similaridade.
A próxima música, “Shoe Salesman“, é mais envolvente, com uma melodia bastante acústica mas ainda assim não é clássica e com letras surpreendentes. “Still No Air” soa um pouco como uma sobra do primeiro álbum com os arranjos estranhos e ruídos pouco ortodoxos na guitarra, mas ainda é executado muito melhor do que qualquer coisa nesse álbum.
“Below Your Means” na minha opinião é uma das músicas do Easy Action que é muito bem trabalhada e atua como um verdadeiro vislumbre da futura direção musical da banda. Tipo de uma música estranha com uma melodia cativante e alguns arranjos de guitarra grandes antes de se transformar em algo mais envolvente. Pode se comparar com o Welcome To My Nightmare. “Return Of The Spiders“, a próxima música, é uma referência ao final da década de 60, quando a banda ainda estava na escola e se chamava The Spiders. Eles com certeza aumentaram o tempo da música… é só conferir o baixo “hiperativo” de Dennis Dunaway e a empolgante bateria de Neal Smith, com os exageros vocais de Alice!
O interessante no tal grupo original de Alice Cooper é que cada um dos integrantes da banda desenvolveu seu próprio estilo de tocar e facilmente reconhecível. Esta é uma das poucas bandas onde o trabalho de bateria e baixo consistentemente capturam tanto o centro das atenções, quanto as guitarras e vocais. Isso vem muito da competência do baixista Dennis Dunaway. O curioso é que você não consegue realmente definir o som da banda; ao contrário da maioria das bandas de Hard Rock da época, pois parece não haver nenhuma influência forte no Blues, mas sim um som mais teatral.
O fim do disco é ainda mais psicodélico, o que promove uma característica de sua época e gerando curiosidade pelos desenvolvimentos futuros.
Para finalizar. é interessante pegar este álbum para ouvir e perceber que a época em que foi feito, a ligação deste artista com os Beatles, acontecia de forma sutil mas nada não surpreendente, e sabe-se que até mesmo John Lennon era seu fã. Embora tenha citado a influência de Zappa, considero que para um inicio de carreira e para intitular uma nova forma de apresentar um Hard (psicodélico) Rock, com características um bocado peculiares, é fato de que Alice Cooper vinha com um projeto evolutivo do qual determinaria sua figura pública, única e com artifícios próprios. Mas, como dito no início do texto, sua ligação com o universo do Rock setentista esbarrava com o berço do Rock londrino de Liverpool, ao mesmo tempo que alimentava-se da jovem influência na altura de um ar progressivo e concreto, o que define ao artista Alice Cooper um estilo absolutamente original.
https://www.youtube.com/playlist?list=PLm9smEh4bd5huyyJy_vQwZi-clE3rIyqT
Banda:
Alice Cooper (vocal);
Glen Buxton (guitarra);
Michael Bruce (guitarra, piano e backing vocal);
Dennis Dunaway (baixo);
Neal Smith (bateria)
Músicas:
01. Mr. And Misdemeanor
02. Shoe Salesman
03. Still No Air
04. Below Your Means
05. Return Of The Spiders
06. Laughing At Me
07. Refrigerator Heaven
08. Beautiful Flyaway
09. Lay Down And Die, Goodbye