O disco anterior, Dirty Deeds Done Dirt Cheap (1976), vendeu muito bem na Austrália, terra natal da banda. O álbum foi um sucesso por lá, entrou no Top 5. Mas o impacto ainda era pequeno na Grã-Bretanha, enquanto que nos Estados Unidos, o AC/DC ainda não agradava, e a poderosa Atlantic Records já não depositava tanta confiança no trabalho da banda por aqueles lados.
Foi o empresário Michael Browning que recebeu uma ligação um tanto preocupante. Phil Carson, responsável pela Atlantic Records na Europa – e que ainda não tinha a intenção de desistir do AC/DC -, foi incumbido pelo lado norte-americano da gravadora de dar a notícia: a Atlantic Records nos Estados Unidos não tinha gostado de Dirty Deeds, e o contrato da banda seria rescindido.
Mas após conversas e mais conversas com Neshui Ertgun, um dos donos da major, Carson conseguiu convencer a Atlantic a dar mais uma chance para o grupo australiano, mas seria apenas mais um disco. Sem problemas. Em janeiro de 1977, a banda voltou aos estúdios Albert, em Sydney, e, em duas semanas, finalizou um dos discos mais marcantes de sua carreira: Let There Be Rock. Aquele que o biógrafo da banda, Mick Wall, no livro AC/DC – A Biografia (GloboLivros), chamou de “o primeiro disco verdadeiramente explosivo do AC/DC”.
“One two three. Ruby, Ruby, where you been so long”. Com essa frase, Bon Scott dá o pontapé inicial do álbum com Go Down – música sobre uma groupie chamada Ruby. E aí surge uma sequência de clássicos, chega a parecer uma pequena coletânea. Dog Eat Dog, Let There Be Rock, Hell Ain’t a Bad Place to Be e Whole Lotta Rosie tornaram-se marcas registradas do grupo. O então baixista Mark Evans declarou: “As músicas eram basicamente escritas no estúdio. Nunca gravávamos demos. Mas para mim foi um disco divisor de águas. Tinha muita coisa boa antes, claro. Porém foi com Let there be rock que a banda realmente encontrou seu espaço e começou a se tornar AC/DC”.
O álbum foi lançado na Austrália em março de 1977, mais precisamente no dia 11 de março, uma sexta-feira, no teatro Rainbow. Em abril a banda iniciou uma turnê de doze dias abrindo para o Black Sabbath. Tinha tudo para ser um novo degrau na carreira dos australianos. Mas as coisas não correram bem e, após uma discussão entre Malcolm Young e Geezer Butler, o AC/DC foi mandado embora da turnê de forma prematura.
Pouco tempo após esse incidente, enquanto a banda estava em Londres, o baixista Mark Evans seria demitido. A alegação utilizada por Malcolm Young foi, segundo o biógrafo Mick Wall, a de que o músico “estava ganhando sem fazer nada, com todos os benefícios e sem contribuir com nada notável”. Tão logo Evans deixou o posto, testes para um novo baixista começaram. Alguns nomes foram sugeridos, como, por exemplo, Glenn Matlock, à época recém demitido do Sex Pistols, Paul Gray (Eddie and the Hot Rods) e Collin Pattenden ( ex-Manfred Mann’s Earth Band), mas o escolhido acabou sendo um operário inglês chamado Cliff Williams.
Apesar de não ter tido um número de vendas tão grande na Austrália – foram menos de 25 mil cópias e não alcançando nem o Top 20 das paradas -, Let There Be Rock foi o primeiro disco do AC/DC a entrar nas paradas britânicas, em 17º lugar. Lá também o disco foi lançado com uma nova capa, uma imagem lateral colorida da banda tocando ao vivo – mais tarde a imagem seria utilizada em todas as novas edições do álbum.
Já nos Estados Unidos, país em que até ali a banda não tinha tido muito sucesso, o lançamento ocorreu em 15 de junho de 1977, e a banda já precisava pensar em uma turnê norte-americana. E, no dia 27 de junho, o AC/DC fez seu primeiro show nos Estados Unidos, no World Armadillo Headquarters, abrindo para os canadenses do Moxy. Let There Be Rock atingiu a modesta posição 154 nas paradas norte-americanas, mas foi o começo de uma viagem sem volta, e, em três anos, a banda já se tornaria uma das maiores bandas de rock no país.
Let There Be Rock é, se dúvida alguma, o responsável por alavancar a carreira do AC/DC. Um verdadeiro disco de Rock, composto e gravado rapidamente, cheio de energia, diversão e feeling. Uma obra que merece ser reverenciada por qualquer amante da boa música.
Formação:
Bon Scott (vocais);
Angus Young (guitarra solo);
Malcolm Young (guitarra base);
Mark Evans (baixo na versão internacional);
Phill Rudd (bateria na versão internacional)..
Faixas:
01 – Go Down
02 – Dog Eat Dog
03 – Let There Be Rock
04 – Bad Boy Boogie
05 – Overdose
06 – Crabsody in Blue
07 – Hell Ain’t a Bad Place to Be
08 – Whole Lotta Rosie
Referência bibliográfica:
WALL, Mick. AC/DC: a biografia. 1ª edição. – São Paulo: Globo Livros, 2014.