Um dos maiores clássicos da discografia do Angra e do Metal nacional. Assim pode ser definido o segundo álbum da banda, “Holy Land”, de 1996. A mistura de Metal com percussão, que dá uma cara mais “abrasileirada”, é um dos motivos para colocá-lo entre os maiores da cena tupiniquim e mundial. Clássicos como “Nothing To Say”, “Silence And Distance” e “Make Believe”, mostram porque o Angra é uma das bandas mais importantes que temos em solo brasileiro.
Falando nos clássicos, o álbum já começa com a dobradinha “Crossing/Nothing To Say”. A primeira é uma breve introdução. Vale ressaltar a ambientação com canto de pássaros e o barulho do mar, além de um coro de fundo. A faixa foi composta por Giovanni Pierluigi da Palestrina, um compositor italiano da época da Renascença. Uma belíssima faixa de abertura.
“Nothing to Say” é um dos maiores hits da história do Angra e sempre está presente no setlist. A música começa com influências de ritmos nordestinos, como o baião. Um dos destaques é o baixo de Luis Mariutti, que tem outros bons momentos ao longo do disco, como em “Carolina IV” e “Z.I.T.O.”, mas vou falar delas mais adiante. A voz de Andre Matos estava em seu auge. Elementos de música clássica surgem após o solo, provando o ecletismo do vocalista, principal compositor desta formação.

A próxima é “Silence And Distance”, que começa como uma balada, só com Andre Matos com voz e piano. A música fica mais pesada e tem um dos melhores refrãos de “Holy Land”. O solo de guitarra de Kiko Loureiro, assim como o de “Nothing To Say”, é um dos melhores do álbum, mostrando que o músico estava em ótima fase.
“Carolina IV” é a mais longa e uma das melhores do disco – com pouco mais de 10 minutos – e já começa com muita percussão. Há umas vozes de fundo cantando em português para Iemanjá, a “rainha do mar” segundo o candomblé. Por volta de 2:20 a bateria de Ricardo Confessori muda o ritmo da música. Como é de praxe em faixas longas, há alternância entre momentos calmos e intensos.
A letra conta uma história de uma dupla de amigos que sai com sua tripulação a bordo de uma caravela chamada Carolina IV em busca de novas aventuras. A mistura de Metal com música clássica, embora não seja novidade, é muito bem executada pelo Angra, não só neste álbum, mas em praticamente toda esta primeira fase da banda.
A belíssima “Holy Land” é uma das melhores baladas que o Angra já fez. O começo nos faz pensar que estamos em aldeias indígenas por causa do som do chocalho. Logo entram o piano e a voz de Andre Matos. Mais elementos de música brasileira estão presentes, como a capoeira. A faixa justifica o nome do álbum, pois resume bem a proposta, que é de músicas mais trabalhadas e muitas referências à cultura do Brasil.
“The Shaman” é uma das minhas favoritas do “Holy Land”. Chega a arrepiar. É uma das mais complexas e pesadas do disco. Há muita percussão aqui, além de uma narração que seria uma voz do próprio shaman – ou xamã, numa versão aportuguesada – invocando espíritos da natureza, sem falar dos já presentes ritmos brasileiros, que podem ser notados em praticamente todo o álbum.
A próxima é uma das mais conhecidas da carreira da banda e até rendeu um clipe. Apesar de ser um clássico, “Make Believe” destoa um pouco das outras por não ter essa mesma carga de brasilidade. O piano tem o maior destaque. As guitarras são mais contidas e o baixo tem uma participação maior, assim como a bateria.
“Z.I.T.O.” traz de volta o peso. É uma música intensa e rápida, das melhores do álbum. Há um certo mistério sobre o significado da sigla. Muitas teorias circulam na internet como, por exemplo, que “Z.I.T.O.” seria um pacto entre os membros do Angra ou que poderia significar Zur Incognita Terra Oceanus, entre outras. Seja qual for, a banda não revela de jeito nenhum. O solo de Kiko Loureiro mostra mais uma vez que o guitarrista estava em um de seus melhores momentos, não só na banda como em sua carreira.
A lindíssima “Deep Blue” é outra que arrepia. Começa só com voz e órgão, além de violino. As guitarras de Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt aparecem brevemente e a calmaria retorna em seguida. Por volta de 2:45 só se ouve o órgão e uns coros de fundo, além de percussão. É uma das músicas mais trabalhadas do álbum, mas dizer isso de um disco que é praticamente em sua totalidade cercado de complexidade de arranjos chega a ser redundante. O solo de guitarra, mais um que prova a excelência técnica de Kiko Loureiro, é maravilhoso, o melhor de “Holy Land”. Um dos seus pontos altos sem dúvida.
“Lullaby For Lucifer” é uma balada bem curtinha com voz e violão. Uma boa faixa que conclui o álbum da mesma forma que começou, com sons de pássaros e das ondas do mar. “Holy Land” é um dos álbuns mais importantes do Metal nacional, indispensável para quem é fã de boa música. Aqui a qualidade é acima da média. O nível de complexidade que a banda atingiu lírica e instrumentalmente credencia este álbum ao status de clássico não só brasileiro como mundial.
Formação:
Andre Matos (vocal, teclado, piano, órgão e arranjos de orquestra);
Rafael Bittencourt (guitarra, backing vocal);
Kiko Loureiro (guitarra, backing vocal);
Luis Mariutti (baixo);
Ricardo Confessori (bateria e percussão).
Faixas:
01 – Crossing
02 – Nothing To Say
03 – Silence And Distance
04 – Carolina IV
05 – Holy Land
06 – The Shaman
07 – Make Believe
08 – Z.I.T.O.
09 – Deep Blue
10 – Lullaby For Lucifer