Resenhando é um quadro criado por mim, Helton Grunge, que visa ir a fundo nas análises sobre os trabalhos, tentando evidenciar o que ele tem de melhor, suas características mais marcantes e tentando deixar claro para o público por que ele precisa ouvir. O trabalho escolhido para a resenha de hoje foi Viva (2019) da banda Barão Vermelho.

Viva (2019) é o décimo terceiro álbum de estúdio da banda de Rock and Roll nacional chamada Barão Vermelho. Este é o primeiro trabalho autoral da banda após 15 anos e traz de volta à banda um dos membros formadores, o tecladista Mauricio Barros; além de ser o primeiro trabalho do novo vocalista e guitarrista da banda, o Rodrigo Suricato.

O novo vocalista teve a difícil missão de substituir um dos pilares do trabalho desde o início, o guitarrista e também vocalista Frejat. O músico decidiu seguir carreira solo, porém os outros integrantes do Barão gostariam de retomar o trabalho, então foi uma saída amigável. O último trabalho de estúdio de Frejat com a banda foi o Barão Vermelho (2004) que contou com faixas como Cara a Cara e Cuidado, faixas que estiveram no último disco ao vivo do Barão Vermelho, o MTV ao Vivo Barão Vermelho (2005).

Quando Rodrigo Suricato assumiu os vocais e a guitarra da banda certamente fora um grande desafio. Era a primeira vez que a banda não contava com o guitarrista Frejat e muitos fãs não aceitaram a continuação da banda sem ele. Fizeram alguns shows juntos, fizeram algumas regravações de músicas antigas da banda, agora na voz do novo vocalista e, só depois, decidiram criar um novo trabalho.

Viva (2019) é um álbum diferente de tudo o que o Barão Vermelho já havia gravado até então. Nos primeiros trabalhos da banda, a maioria das letras eram compostas por Cazuza; assim que a banda perdeu seu primeiro vocalista que decidiu seguir carreira solo em 1985, a banda precisou recomeçar e contou com outros letristas convidados para suprir a grande perda que tiveram, pois Cazuza era um grande letrista, um poeta de sua geração. Agora, em 2019, a banda decidiu trabalhar de forma diferente: todas as composições foram feitas pelos integrantes da banda, sem ajuda externa, apenas os quatro membros atuais trabalharam juntos para criarem e lançarem o novo trabalho.

A formação da banda Barão Vermelho no álbum Viva (2019) contou com Maurício Barros nos teclados e vocais, Guto Goffi na bateria, Fernando Santos na guitarra e Rodrigo Suricato nas guitarras e vocais (Fernando e Suricato gravaram o baixo no estúdio, agora a banda segue com um baixista contratado nos shows).

O álbum contou com a produção do músico e produtor Maurício Barros (tecladista do Barão Vermelho). Antes desse projeto, ele já havia trabalhado como co-produtor de trabalhos anteriores da banda, além de ter produzido trabalhos próprios e de outros músicos, como o ex-guitarrista e vocalista do Barão o Roberto Frejat.

Em uma entrevista feita pelo canal do Youtube chamado Alta Fidelidade, os integrantes Fernando Magalhães e Guto Goffi falaram sobre o novo trabalho, explicando as escolhas feitas nele. Dentre tudo o que foi falado, Guto citou a ideia da capa do álbum que conta com um garoto negro tocando um violino. Ao explicar qual a ideia, ele falou, dentre outras coisas, sobre as principais referências musicais da banda desde seus primórdios, dizendo que a banda escuta Rock and Roll desde sempre, mas também sempre escutou ritmos como o Blues e R&B, originariamente criado por negros.

Guto citou também a importância dos negros no que veio a ser o Rock and Roll nas décadas seguintes, destacando que, diferente de outras bandas brasileiras que começaram a prestar atenção no estilo e criaram seus trabalhos a partir da explosão do Punk influenciados por bandas como The Clash, Ramones e Sex Pistols, o Barão Vermelho já bebia de fontes primordiais do estilo.

Para saber um pouco mais sobre como a banda segue na estrada após todos esses anos e tudo sobre o álbum Viva (2019), basta clicar abaixo e conferir a entrevista na íntegra.

O álbum Viva (2019) conta com 9 faixas autorais e novas da banda, trazendo uma ideia distinta de trabalhos anteriores. Diferente das letras ácidas e escrachadas de Cazuza e diferente das letras mais românticas de Frejat, a banda atualmente traz uma ideia mais positiva, mais alegre, com boas reflexões e uma sonoridade cheia de esperança e com algumas experiências sonoras.

O trabalho não apresenta tanto peso quanto trabalhos anteriores, no geral ele soa um pouco mais Pop do que outros álbuns da banda. É como se Rodrigo Suricato trouxesse mais de suas características para a banda num todo do que a sonoridade da banda o tenha influenciado na agressividade, na distorção e no peso das músicas.

Viva (2019) talvez seja a forma de o Barão Vermelho ainda se mostrar relevante no que diz respeito a trabalho autoral, uma vez que a banda poderia se esconder dentro dos próprios sucessos que, mesmo assim, continuaria fazendo shows e mais shows pelo país. Viva (2019) talvez seja o que a banda precisava para se manter na ativa, para se manter viva.

Abaixo faremos um breve faixa a faixa sobre o trabalho, descrevendo um pouco sobre cada música, seu instrumental e sua letra.

A primeira faixa do álbum é Eu Nunca Estou Só e se inicia com um riff de violão bem melódico e suave. Em seguida a voz se inicia de forma leve e a faixa vai se desenrolando aos poucos, sendo bem marcante e direta na temática e explicando porque não existe mais solidão para o eu lírico da canção. A faixa ainda conta com uma participação especial do rapper BK que coloca suas rimas rápidas; esta é a primeira participação especial do álbum. A letra trata sobre a importância dos amigos, dos familiares e da lembrança dos conselhos de pessoas que passaram pela nossa vida e nos ajudaram muito, além da importância da arte em nosso cotidiano. O desenrolar da música é bem cadenciado, poderia apresentar um pouco mais de peso por ser uma faixa de início de álbum de uma banda de Rock and Roll, mas no geral é uma ótima música, mesmo eu não sendo fã da mistura de Rock com o Rap.

Em seguida, a banda apresenta Por Onde Eu For. Esta segunda música fala de superação após o término de um relacionamento ou a briga e perda de uma grande amizade, fala sobre superar os problemas, seja onde for. A levada da música é mais agitada que a anterior, a letra e a melodia são muito boas, mas creio que falte um pouco de distorção nas guitarras, um pouco de peso para casar um pouco melhor com a ideia da faixa. Mesmo assim, o trabalho é bem direto e casa bem com a mensagem da música.

A terceira faixa é Jeito. Esta música é guiada por um riff intenso de violão bem marcado. A música fala sobre como passar a mensagem por meio de música, ou seja, a letra fala sobre o que a própria música deveria fazer, da importância de se passar uma boa mensagem com as letras. A melodia é bem intensa e muito bem trabalhada, falando o que precisa ser dito e feito.

Tudo por Nós 2 é a faixa mais Rock and Roll do trabalho. Com um bom riff marcante de guitarra, com uma base que apresenta peso, esta é a faixa do álbum que mais apresenta uma cara de Barão Vermelho das antigas mesmo, tendo uma melodia escrachada, frases marcantes e com uma vibe bem positiva, com letras que trazem boas reflexões e trazem à tona o que toda a experiência de vida após muitos anos de estrada, pois diferente do que o Rock and Roll costuma apresentar, esta música diz “Com menos açúcar, menos cigarros, menos remédios e menos carros”, deixando evidente aquela ideia mais positiva dita por mim no início. A faixa conta com Rodrigo Suricato e Maurício Barros dividindo os vocais da música e apresenta a experiência e maturidade em seu conteúdo.

Em Um Dia Igual ao Outro, a intensidade e tensão com fortes influências do Blues que aparecia constantemente no início da carreira da banda está de volta. Não, a faixa não é exatamente um Blues, mas dá para notar que tem uma boa influência do estilo no desenrolar da faixa e na temática que ela traz. Os teclados de Maurício são a maior referência desta influência de Blues. A reflexão de um cotidiano que se repete, dos problemas sociais, da busca por respostas, dos problemas causados por aqueles que têm poder e abusam dos que precisam de resoluções para seus problemas; a faixa é daquelas que vai direto ao ponto, “toca na ferida” e expõe em carne viva a podridão do homem em busca de poder, em busca de dinheiro.

Vai Ser Melhor Assim é aquele típico desabafo após um término de relacionamento que não tinha mais para onde ir. Não há remorso, não há mais motivos para dor, apenas seguir em frente diante de tudo o que aconteceu, levando todo o aprendizado e deixando aquela sensação de que “foi bom enquanto durou”.

A sétima faixa é a Castelos, aqui vemos a letra intensa e direta de uma música que poderia facilmente fazer parte de um álbum antigo da banda Barão Vermelho. A faixa fala da vulnerabilidade de estar em um bar, de ser uma pessoa entregue aos problemas e aos fracassos afogando as mágoas em bares, com sua vida boêmia. Esta música tem os vocais gravados por Maurício Barros, tecladista e cofundador do Barão Vermelho. A música começa calma e vai crescendo, trazendo à tona as mágoas do eu lírico.

A penúltima faixa do álbum Viva (2019) é A Solidão Te Engole Vivo e tem a letra mais intensa do trabalho. A música é a que mais se aproxima da letra de Meus Bons Amigos, música que foi sucesso e faz parte do álbum Carne Crua (1994), um dos álbuns de mais peso da banda. A letra fala sobre a importância das amizades em nossa vida, fala sobre os problemas caudados pela depressão, pela ansiedade e pela solidão. O tema é delicado e é muito bem abordado, ela é intensa, bem melódica e direta.

Para encerrar o álbum a faixa escolhida foi Pra Não Te Perder. Uma faixa toda baseada no violão, calma, intensa e dramática. É a balada esperançosa de despedida deixada pela banda para encerrar o primeiro trabalho que uniu Suricato à sua nova banda. A faixa conta com a participação da cantora e compositora Letrux dividindo os vocais com a banda.

Por fim, vale pontuar que é um ótimo álbum e certamente seria sucesso caso fosse lançado nos tempos em que o Rock fazia parte do mainstream. Porém, vale a pena o registro para os amantes do Rock and Roll e os amantes da banda Barão Vermelho que sempre foi muito competente para lançar álbuns e principalmente para fazer ótimos shows.

É sempre um desafio uma banda tão renomada lançar um álbum de inéditas, mas o Barão Vermelho mais uma vez não decepcionou lançando um ótimo trabalho. Talvez com menos peso, mas a essência da banda ainda se encontra presente e podemos ver que há força de vontade para criar novas músicas. Enfrentar os problemas, enfrentar a desconfiança e lutar pelo que acredita é uma atitude Rock and Roll e disso o Barão Vermelho entende.

Para saber mais sobre o processo de composição do álbum Viva (2019) basta conferir os vídeos abaixo.

Confira avaixo as informações de Viva (2019) do Barão Vermelho.

Barão Vermelho – Viva

Data de Lançamento: 16 de Agosto de 2019

Gravadora: NBV PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA

Tracklist

01. Eu Nunca Estou Só
02. Por Onde Eu For
03. Jeito
04. Tudo por Nós 2
05. Um Dia Igual ao Outro
06. Vai Ser Melhor Assim
07. Castelos
08. A Solidão Te Engole Vivo
09. Pra Não Te Perder

Formação:

-Rodrigo Suricato (guitarra, violão, baixo e voz)
-Guto Goffi (bateria e percussão)
-Maurício Barros (teclados, sintetizadores e voz)
-Fernando Magalhães (guitarra e baixo)

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