Resenha: Yearning – With Tragedies Adorned (1997)

O Doom Metal é um dos filhos do Heavy Metal que melhor absorve influências alheias ao que já é tradicional no Metal. O chamado Atmospheric Doom Metal traz, como o nome indica, atmosferas melancólicas e soturnas criadas por fundos bem encaixados de teclados ou timbres de guitarras, retratando em música todo o sentimento presente nas letras geralmente sentimentais e pessoais.

Em 1994, na cidade de Riihimäki, na Finlândia, Juhani Palomäki funda o Flegeton, que em 1996 muda o nome para Yearning, quando da assinatura de contrato com a gravadora francesa Holy Records. Em fevereiro de 1997, é lançado o primeiro álbum da banda, With Tragedies Adorned.

Os arranjos melodiosos e sentimentais presentes neste álbum transportam o ouvinte a mais profunda introspecção, além de lhe deixar com a sensação de que você está realmente na beira de um lago no interior da Finlândia em pleno outono. Incursões acústicas aparecem frequentemente durante as músicas, deixando transparecer também a influência da natureza nas composições de Palomäki. Isso fica bem claro na abertura com a faixa Remnants Of The Only Delight, um Doom Metal clássico, com riff introspectivo e trilhas de teclado que criam a tal atmosfera a qual o gênero se refere.

Ao longo da audição do álbum, alternam-se momentos de empolgação e de monotonia, dependendo de quanto Metal existe na música. As cinco primeiras faixas do play são de entusiasmo e introspecção ao mesmo tempo: bases pesadas, solos com guitarra dobrada e cozinha com ritmos consistentes, acompanhados das camas de teclados (fazendo papeis de “camas” mesmo, criando os climas, onde as guitarras deitam e rolam) e dos vocais graves e melancólicos de Palomäki, criam um Doom Metal de muito respeito. Destaques para a faixa acima citada, para Flown Away e para The Temple Of Sagal, que expira no riff um certo charme do Blues.

As faixas 6 e 7, Release e In The Hands Of Storm, respectivamente, quebram o bom ritmo de suas antecessoras, focando muito na atmosfera e deixando um pouco de lado o Metal. O encerramento com a épica Canticum é digna dos grandes clássicos Doom, com várias alterações de ritmo e um final, digamos, fúnebre.

Vale destacar a ótima produção e mixagem do disco, que deixou todos os instrumentos bem nítidos e evidenciando as ótimas linhas de contrabaixo. Destaque também para os vocais de Yuhani Palomäki, alternando vocais limpos graves e vocais guturais, daqueles de fazer o ouvinte sentir toda a escuridão presente em sua mente.

O grande desafio de se fazer Atmospheric Doom é fazer música atmosférica e introspectiva, mas sem esquecer de mostrar energia (afinal, é Metal, não é mesmo?) Neste primeiro disco, O Yearning mostrou não só que é capaz de fazer isso com perícia, mas deixou para a posteridade um disco magnífico.

O Yearning hoje não mais existe. Palomäki cometeu suicídio em 2010, enquanto o Yearning estava em hiato e ele se dedicava ao terceiro álbum do Colosseum, sua outra banda, esta de Funeral Doom. Como era o único membro original e principal mentor do Yearning, esta teve seu fim forçosamente decretado, assim como o Colosseum. Mas suas curtas discografias estão aí, para inspiração de mentes que desejam fugir do comum do Heavy Metal e entrar em novas dimensões. Mas sem sair do Metal.

With Tragedies Adorned – Yearning (Holy Records, 1997)

Tracklist:
01 – Remnants Of The Only Delight
02 – Bleeding for Sinful Crown
03 – Flown Away
04 – Haze Of Despair
05 – The Temple Of Sagal
06 – Release
07 – In The Hands Of Storm
08 – Canticum

Line-up:
Juhani Palomäki – vocais, guitarras, teclados
Tero Kalliomäki – guitarras
Petri Salo – contrabaixo
Toni Kostiainen – bateria
Lady Tiina Ahonen – flauta (adicional)

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