Olhando em retrospecto a carreira do White Zombie, eu consigo estabelecer algum paralelo com o que aconteceu com outras bandas. Mercyful Fate, por exemplo. Duraram pouco tempo, mas o seu vocalista prosseguiu com o legado, sofrendo poucas alterações na antiga proposta.
A diferença é que o Mercyful Fate chegou a voltar, enquanto que essa hipótese parece estar efetivamente descartada para o White Zombie. O líder Rob Zombie está muito bem em sua carreira solo e os antigos companheiros sumiram do mapa. Deixaram, porém, o norte criativo a ser seguido por Rob, pois é importante evidenciar aqui que o cantor era responsável pelas letras, mas a criação musical pertencia ao trio restante. Independente da contribuição de cada um, o importante é que a banda funcionava como uma unidade e seu sucesso veio daí.
Os anos noventa foram a época das fusões de estilos: Heavy Metal, Industrial, Punk, Rap, Progressivo, Funk, tudo sendo jogado dentro do caldeirão e sendo servido com novos sabores. Cada banda era o seu próprio subestilo. O White Zombie foi um dos conjuntos mais simbólicos do período e desenvolveu uma mistura um pouco complexa, onde música, imagem e temas se confundiam para formar o todo. O som era tendente para o Metal, e alguns gostavam de catalogá-la como Industrial. Tendo mais a discordar do que concordar com essa assertiva. O fato do grupo utilizar samplers em suas faixas não é suficiente para defini-lo dessa forma, até porque, em sua quase totalidade, os referidos samplers são trechos de filmes antigos ou sons tenebrosos, tudo combinando devidamente com o universo de antigos filmes de horror trash, que a banda homenageia não apenas em suas canções, mas em todo o seu conceito visual, rico e magnificamente desenvolvido – além de desenhado – pelo próprio Rob Zombie.
Zombie é um artista inquieto, que desconhece o significado de acomodação. Não é à toa que se aventurou em uma bem desenvolvida carreira de diretor de cinema, praticando um estilo que pode ser definido como um misto entre John Carpenter, Alice Cooper e Walter Hill. Essa definição cinematográfica não se distancia de sua produção musical e pode mesmo ser considerada sua tradução fiel para outra mídia. A música do White Zombie sempre se apresentou como violenta, perigosa e profana, tal qual o foram filmes como “O Despertar dos Mortos”, “Fantasma”, “Quadrilha de Sádicos”, “Os Ritos Satânicos de Drácula” ou “A Coisa”.
Embora tenha lançado quatro discos, o White Zombie só viu o sucesso comercial a partir do seu terceiro álbum. Os dois primeiros ficaram em um estado de esquecimento tanto dentro da discografia quanto do repertório das apresentações, mas o certo é que os dois últimos trabalhos foram marcantes e extremamente inspirados. Em “Astro Creep 2000”, o peso espontâneo da banda recebeu o reforço extraordinário de John Tempesta, baterista que já transitou pelo Exodus, pelo Testament, e hoje atua no Cult. Além dele, a força e o carisma extremo da baixista Sean Yseult e do guitarrista J. perfaziam a mística irresistível que essa banda exercia. Ambos estão, infelizmente, desaparecidos dos holofotes depois que a banda se desfez, mas Yseult passou por várias bandas, chegando a atuar por um tempo junto ao The Cramps e, hoje, atua com o Star & Dagger.
“Astro Creep 2000” não é, porém, um disco absoluto. Tem algumas faixas que não fariam falta caso fossem excluídas, mas quando a banda acertava a mão, valia a pena. “Super-Charger Heaven”, “I Zombie”, as duas partes de “Electric Head” e a clássica “More Human Than Human” são os melhores momentos. Se o final do grupo foi precipitado ou não, essa é uma discussão inócua. Importa a excelência e a relevância da obra deixada. Vinte e cinco anos após o seu lançamento, “Astro Creep 2000” preserva todo o apelo de sua temática vintage e de sua musicalidade única, que até possui um significativo séquito de imitadores, mas que apenas Rob Zombie consegue replicar com propriedade.
Astro-Creep: 2000 – Songs of Love, Destruction and Other Synthetic Delusions of the Electric Head – White Zombie
Data de lançamento: 11.04.1995
Gravadora: Geffen
Tracklist
01 Electric Head Pt. 1 (The Agony)
02 Super-Charger Heaven
03 Real Solution #9
04 Creature of the Wheel
05 Electric Head Pt. 2 (The Ecstasy)
06 Grease Paint and Monkey Brains
07 I, Zombie
08 More Human than Human
09 El Phantasmo and the Chicken-Run Blast-O-Rama
10 Blur the Technicolor
11 Blood, Milk and Sky
Formação
Rob Zombie – vocal
Jay Yuenger – guitarra
Sean Yseult – baixo
John Tempesta – bateria