A influência deve sempre ser um ponto de partida e nunca o destino final. Não existe músico, ou banda, sem influências. Desde Robert Johnson, Beatles, Bod Dylan, até Cannibal Corpse, Rammstein, Opeth. Todos são influenciados por alguém, mas só avança para o próximo nível aqueles que utilizaram suas influências como apoio para chegar em um novo local, diferente do ponto de partida.

O Vorgok é uma banda originária do Rio de janeiro e relativamente nova. Foi criada em 2014. Esse pouco tempo de atividade não foi, porém, empecilho para que desenvolvessem suas composições e fizessem a gestação do álbum “Assorted Evils”, que veio ao mundo no ano de 2016. Suas influências mais perceptíveis são Dark Angel e Slayer, principalmente esta última. Mas o Vorgok foi além.

Enquanto o Slayer rumou para alguns experimentos Nu Metal e, depois, partiu para reciclar a velha sonoridade, o Vorgok me parece ir para o caminho que aquela banda não percorreu. Seu Thrash Metal é muito denso, transmitindo uma forte obscuridade e, a pesada carga emotiva que ele transmite é reforçada pelo horror absoluto estampado nas letras.

Sim, o horror. Horror suficiente para lhe causar incomodo e perturbar seu sono. Horror verdadeiro e que deveria lhe extrair alguma reação, caso você entenda que é o próprio homem o causador dos males tão bem narrados nas faixas. Diabo? Ele sequer é mencionado por aqui. A fome no terceiro mundo, o holocausto, o extermínio das espécies, a questão dos refugiados e outros dramas sociais são mais assustadores que qualquer suposta força sobrenatural.

Toda a mensagem que o Vorgok transmite é reforçada pela excelente produção do disco, que ficou a cargo de Celo Oliveira. Tudo está bem alto e definido, com uma performance tão bem executada que nos causa imediata estranheza a visualização, no encarte, de apenas dois membros na banda. Edu Lopez, responsável pelas guitarras e vocais, e autor de todas as faixas, com exceção de “Drowning”, um breve interlúdio instrumental, composta e tocada ao violão pelo baixista João Wilson, que se torna o único momento de calmaria no meio da violência sonora do disco.

A bateria, na gravação, é um impecável trabalho de programação feito por Celo Oliveira, cujo resultado atingiu o nível de brutalidade que as composições necessitavam, deixando Edu Lopez livre para vociferar suas letras, com seu timbre de voz que lembra o de Tom Araya, principalmente naqueles momentos em que acelera a dicção, subindo o tom até parecer chegar ao limite do fôlego. Em outros momentos, quando canta de forma mais abafada, como o faz em “Hell´s Portrait” e em “Mass Funeral At Sea”, ele aproxima a sonoridade da banda ao puro Death Metal, balanceando as nuances sonoras apresentadas, que também passam por momentos mais Hardcore, como em “Last Nail In Our Coffin”. Entre as faixas essencialmente Thrash Metal, eu destacaria “Headless Children” como uma das melhores.

É extremamente salutar que tenhamos uma banda com a abordagem praticada pelo Vorgok, que consegue o raro equilíbrio de transmitir mensagens importantes sem esbarrar no panfletarismo. Por todas as qualidades presentes no disco “Assorted Evils” podemos vislumbrar uma bela trajetória a ser percorrida e, a depender da inequívoca capacidade humana para a autodestruição, não faltará inspiração para a criação de mais temas relevantes.

 

 

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