Resenha: Venomous Concept – Kick Me Silly – VC III (2016)

Sempre que músicos de peso do Metal se unem para formar um projeto paralelo, os fãs da música pesada ficam muito intrigados com os resultados que podem surgir de tal junção. Em meados de 2003, Shane Emburry e Danny Herrera, respectivamente, baixista e baterista do Napalm Death, se uniram ao guitarrista Buzz Osborne (Fantômas, Melvins, King Buzzo, ex-Fecal Matter) e o vocalista Kevin Sharp (Lock Up, ex-Brutal Truth) para formar um projeto absurdamente barulhento que combina Hardcore Punk com Grindcore.

Com um nome que faz homenagem a lendária banda norte-americana de Hardcore Punk Poison Idea, o Venomous Concept lançou em 2004 o seu primeiro álbum de estúdio, “Retroactive Abortion”, um disco que serviu como uma espécie de cartão de visitas completamente destrutivo. Em 2006, o guitarrista Buzz Osborne deixa a banda e os músicos recrutam o veterano Dan Lilker (ex-Nuclear Assault, ex-Brutal Truth e muitos outros), que passa a assumir o baixo, enquanto Shane Emburry passa a tocar guitarra. Com esse “line up” a banda lança “Poisoned Apple”, o seu segundo disco de estúdio, em 2008. Após um hiato de oito anos, o quinteto retorna ao estúdio e brinda os seus fãs com ““Kick Me Silly – VC III”.

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Lançado em oito de janeiro desse ano via Season of Mist e produzido por Russ Russell (Evile, Dimmu Borgir, Napalm Death, The Exploited), o álbum não apenas resgata os mesmos elementos anti-musicais que caracterizaram os trabalhos anteriores da banda, como consegue recuperá-los com mais energia e profissionalismo. Certamente, oito anos não são oito dias e esse período permitiu que os músicos amadurecessem ainda mais e retornassem ao estúdio descansados e prontos para devastar tudo o que estiver em seu caminho. Portanto, se você avistou essa arte de capa minimalista e achou que se tratava de algum disco de Rock Alternativo, prepara-se para ser trucidado por um legítimo rolo compressor…

O disco mal se inicia e os alto-falantes e os tímpanos do ouvinte são atacados de forma voraz com a pancadaria mortal de “Rise”, uma faixa recheada de palhetadas cruas e insanas, aliadas por uma “cozinha” debulhadora e vocais desesperados e enfurecidos. O massacre prossegue com a demente “Busy With Your Debt”, uma curtíssima faixa preenchida por “riffs” cortantes capazes de devastar vilarejos sem muito esforço.

Cadenciada e dona de uma veia totalmente Hardcore Punk, “Anthem” dá continuidade ao trabalho com muito vigor, sendo com certeza um dos destaques do trabalho. Os “riffs” explosivos de Shane Emburry e John Cooke introduzem a quarta faixa do registro, “Potters Ground”, uma composição que conta com passagens ora velozes, ora balanceadas. O trabalho de guitarras proporciona um clima bem diferente das faixas anteriores e a “cozinha” de baixo e bateria, encabeçada pelos monstruosos Dan Lilker e Danny Herrera é incapaz de decepcionar o ouvinte, sempre precisa, pulsante e truculenta na medida certa.

Igualmente destruidora, “Human Waste” convida o ouvinte a “pogar” ensandecidamente. Os berros enlouquecidos de Kevin Sharp estão ainda mais vertiginosos e banda não perde o mínimo de fôlego. “Leper Dog” traz “backing vocals” regurgitados de forma brutal, “riffs” novamente implacáveis e um solo de guitarra bastante eficiente. Outro belo destaque desse petardo.

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Em seguida, temos também “Farm Boy”, uma composição que se inicia lentamente e vai ganhando peso e velocidade à medida que caminha. Na primeira impressão, assim que o som se inicia, imaginamos que a banda está pisando no freio e entregando um som mais cadenciado que as faixas anteriores, no entanto, não demora muito para eclodir uma nova avalanche desgovernada de pura destruição. O baixo pulsante de Dan Lilker marca o início de “Head on a Stick”, que se inicia com uma levada bem Hardcore, contando com monstruosos “backing vocals” e palhetadas viscerais. Sem qualquer cerimônia, nossos tímpanos são novamente martelados por trechos totalmente voltados para o Grindcore, com direito a vocais cada vez mais escandalosos de Kevin Sharp.

Um urro de Sharp anuncia “Pretend”, a nona devastação anti-musical. O que temos aqui é mais uma pancadaria das boas, algo incapaz de desagradar qualquer fã de uma violência sonora. O trabalho prossegue com a hilária e curtíssima “Cheeseburger”, seguida de “Forever War”, a faixa mais cadenciada do álbum, dona de passagens percussivas bem interessantes e “riffs” certeiros e eficientes. A demência é tomada através da excruciante “Good Times”, outro grande momento do álbum, trazendo variações de andamento bem construídas, um solo de guitarra bem encaixado e um trabalho instrumental novamente competente.

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A banda convida o ouvinte para um “mosh” insano com “Pretty on the Inside”, uma aniquilação anti-musical com pouco menos de um minuto de duração. A essa altura, o ouvinte está bastante enfraquecido, tamanha a balbúrdia concebida pelo quinteto. Entretanto, a violência não tem fim e “Holiday in Switzerland” vem logo em seguida para comprovar isso. Apenas digo uma única coisa: tirem as crianças da sala!

O Hardcore energético e maravilhoso de “Fucked in Czech Repub!” invade os alto-falantes. Impossível ficar indiferente a algo desse porte, simplesmente! Imagine uma sequência devastadora de “riffs” pungentes, somada a um baixo sempre selvagem e pulsante, uma bateria calibrada e impiedosa e urros grotescos e angustiantes. Pois é, toda essa descrição é pouca para descrever o que temos aqui. Outro grande destaque!

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O quinteto permite o ouvinte recuperar um pouco o fôlego antes de trucidá-lo novamente com “Neck Tie”, outra desoladora hecatombe composta de arranjos esmagadores. Martelando tudo e todos, temos também “Frontal Lobe”, a décima sétima investida desses senhores insanos e impiedosos. Já em “Day Care”, a “podreira” prossegue de forma brutal, para variar. Essa faixa também conta com um trecho arrastado e repleto de “groove”, que estimula o ouvinte a “banguear” no mesmo ritmo do som.

“Quasimodo”, “Burning Fatigue” e “Rocket Science” recuperam os mesmos elementos das composições anteriores com a mesma intensidade e brutalidade, deixando o ouvinte completamente inconsciente. Contando com uma produção eficiente e que permite todos os integrantes se destacarem individualmente, “Kick Me Silly – VC III” traz um Venomous Concept tão criativo, brutal e sujo como nos trabalhos anteriores. Se você já é fã da banda ou é um apreciador de Grindcore, Hardcore Punk e afins e ainda não estraçalhou os seus tímpanos ouvindo esse material, faça um favor a si mesmo e confira isso agora mesmo!

Escrito por David Torres

Faixas:
01. Rise
02. Bust You with Debt
03. Anthem
04. The Potters Ground
05. Human Waste
06. Leper Dog
07. Farm Boy
08. Head on a Stick
09. Pretend
10. Johnny Cheeseburger
11. Forever War
12. Good Times
13. Pretty on the Inside
14. Holiday in Switzerland
15. Fucked in the Czech Repub
16. Neck Tie
17. Frontal Lobe Disorder
18. Daycare
19. Quazimodo
20. Burning Fatigue
21. Rocket Science (Extended Version)

Formação:
Kevin Sharp (vocal)
Shane Embury (guitarra, backing vocals)
John Cooke (guitarra)
Dan Lilker (baixo)
Danny Herrera (bateria)

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