Black metal e cenário norueguês, aqui está uma parceria infalível funcionando vigorosamente em seu estado bruto, aliás as vezes eu até tenho dúvida se o gênero não teria nascido aqui, afinal encontrar uma banda ruim na Noruega é tarefa difícil. Talvez isso responda a questão pela qual o país é conhecido preferencialmente pelo gênero, embora eu aposte as minhas fichas em muito mais do que isso.
Este como muitos foi um ano repleto em lançamentos para o setor norueguês, e se você acompanha as minhas resenhas então Arvas, Flukt e muito mais já estiveram por aqui com seus obscuros novos esforços em 2019, e hoje eu trago outra banda da cena do país que é mestre em abrir as portas da escuridão, estamos falando de UBUREN e o novo álbum ‘And The Mountains Weep‘ lançado no dia 13 de abril de forma independente.
Antes de falarmos de UBUREN nós precisaremos voltar no tempo e encontrar o nome ‘Skyggegjemsel‘, este foi o ponto de início desta banda fundada em 2006 pelo baterista Thord Olavson, o baixista Bior Kjetilson e o guitarrista Ask Kjetilson em Sandnes, Noruega. Eles passariam a se chamar UBUREN apenas em 2010, mas mantendo uma linha feroz de Black/Viking metal mergulhada no folclore em sua vastidão mais sombria, disparando em linhas melodiosas em contraposição ao metal mais profundo e enegrecido.
A palavra “UBUREN” provém do idioma norueguês antigo e significa algo como “rejeitado“, que no passado seria o destino de crianças ainda bebês que foram consideradas fracas e que teriam um triste fim jogadas dos rochedos nas montanhas por suas mães em total desespero, exatamente disso vem o nome do álbum e da faixa “The Mountains Weep“(As montanhas choram).
UBUREN é uma banda contrastante em palco e em estúdio, tanto visualmente quanto musicalmente, faixas como “Huldra” são o puro peso de guitarras esculpidas e latentes, enquanto “Entrance to Valhalla” agrega riffs massacrantes e atmosferas abissais em um poderoso paredão vocal que eleva o gênero a um nível magnificente. Bior possui um tom vocal bastante bruto mesmo quando aplicado a rosnados e partes faladas, um diferencial se notarmos que a grande maioria aplica a voz sobre tons mais agudos, esse fator fortece bastante peso a faixas como “Fimbul” por exemplo, que ainda conta com breves acelerações.
‘And The Mountains Weep‘ possui uma agonia latente progredindo agressivamente faixa-a-faixa, isso amplifica muito as sensações e leva o ouvinte por uma trama oscilante que desperta os mais tenebrosos pensamentos. Se você refletir mais a respeito do título e da própria essência do nome UBUREN então você pode confirmar que isto é a espinha dorsal neste álbum, uma mescla sombria de sofrimento com a animosidade da própria cultura e “Valkyri” funcionará como uma constatação impiedosa e enigmática.
Entre todas as bandas que eu tive o prazer de revisar os álbuns este ano UBUREN é a que mais se destaca na minha opinião, não apenas por ser um álbum com um teor de qualidade excelente mas também por ser o mais próximo dos primórdios do black metal.
Este é um álbum impiedoso difundindo a própria identidade destes músicos a muitos elementos clássicos do gênero, eu sei, muitos dizem isso, mas abra o álbum em “Oskoreia” ou passe a “Huldra” e sinta a imponência que está banda gera sobre o próprio estilo. Entenda, black metal não foi feito para soar sujo e desconexo, nem os deus demoníacos querem ouvir música ruim, comparar a falta de recursos do passado com o presente tecnológico é a verdadeira blasfêmia, até para o black metal.
De “Fredlaus” a “Into the Void“, UBUREN entrega um trabalho contundente no instrumental, voraz para o vocal e intrigante tematicamente. Estes músicos já conhecem bem o terreno que pisam e você não deve esperar nada a menos de “And The Mountains Weep“.
Nota: 9.5/10
Track listing
1 – Oskoreia
2 – Remembrance
3 – Entrance to Valhalla
4 – Fimbul
5 – Fredlaus
6 – The Mountains Weep
7 – Valkyri
8 – Huldra
9 – Into the Void
Membros da banda
Ask Kjetilson – Guitarra
Bior Kjetilson – Baixo e vocal
Thord Olavson – Bateria