Com duas décadas de existência, o Trivium ganhou notoriedade no início dos anos 2000 com seu Metalcore técnico, agressivo e melódico, principalmente com seu álbum de 2005, “Ascendancy“. Com os álbuns seguintes, a banda foi explorando territórios diferentes, mas com uma qualidade e técnica incríveis e surpreendentes, ainda mais por conta da idade de seus integrantes, o vocalista e guitarrista Matthew Heafy com apenas 19 anos na época e Paolo Gregoletto, baixista, com 20. Corey Beaulieu e Travis Smith, guitarrista e baterista, eram os mais velhos, com 23 e 25.
As coisas foram evoluindo, com “The Crusade“, a banda explorou o Thrash Metal com mais ênfase, onde os guturais quase não apareciam e palhetadas rápidas juntamente com pedais duplos incríveis se destacavam. Em “Shogun” predomina um Metal mais técnico, onde tínhamos faixas longas, épicas e com riffs complexos como “Kirisute Gomen“, “Torn Between Scylla and Charybdis” e “Into the Mouth of Hell We March“, além da clássica “Down From The Sky” e a épica faixa-título.
Pois bem, a banda teve uma caída na parte técnica, porém atingiu um sucesso comercial com “In Waves“, já em “Vengeance Falls“, críticas ruins e não tanto sucesso, e com “Silence In The Snow“, um território mais inexplorado ainda, com vocais limpos e fortes influências do Heavy Metal mais melódico e até do Power Metal.
A volta ás raízes, com um som mais técnico e complexo, apareceu no álbum “The Sin and the Sentence“, onde a banda teve a adição de um novo baterista, Alex Bent, que deu um baita gás para a banda. E o álbum foi super bem recebido e trouxe de volta os guturais, riffs maravilhosos e a energia que faltava.
Naturalmente, o próximo álbum deve ser uma evolução do anterior, e eis que chegamos ao sujeito, “What the Dead Men Say“, lançado dia 24 de Abril de 2020, via Roadrunner. Com os singles, já dava pra ver que vinha coisa boa por aí, mas será que é isso tudo mesmo? Bora ver o que nos espera?
“IX“, a introdução do álbum, é bastante sombria, vai crescendo aos poucos e ganha peso em sua metade, criando a atmosfera para a faixa-título, diretamente ligada a primeira faixa. “What the Dead Men Say” é épica, com riffs característicos do Trivium, apresenta versos melódicos e com viradas de bateria de cair o queixo, seu refrão rapidamente cola na sua cabeça. Uma das melhores faixas de abertura da banda. Sua ponte lembra muito o Gojira, com efeitos da guitarra iguais aos que os franceses usam. Em seguida vem o primeiro single, “Catastrophist“, essa menos agressiva, porém com riffs ainda mais técnicos e uma ponte ótima, os guturais de Heafy estão cada vez melhores.
Ainda com muita agressão (boa) aos ouvidos, vem “Amongst The Shadows & The Stones“, uma das melhores dos últimos tempos e quiçá da banda em geral. A faixa remete a um Metalcore que a banda faria em “Ascendancy“, porém com a técnica e qualidade vocal que os caras tem feito atualmente. Ficou na medida, tanto peso quanto melodia.
Após isso temos a faixa que dá aquela quebrada boa, “Bleed Into Me“, que não chega a ser uma balada, mas é bastante cadenciada. Conta com um Groove de Paolo no baixo, vocais mais limpos e elementos mais melódicos. Uma música certamente feita para rádios.
Mais uma vez com um pé no que era feito antigamente, vem “The Defiant“, até lembrando “The Deceived” em alguns momentos. Sua estrutura consiste em versos com guturais, pré-refrão e refrões melódicos e limpos, com coro em gutural. Literalmente uma estrutura de Metalcore. Mas isso é ruim? Óbvio que não! Amamos isso! Isso é o que o Trivium sempre fez de melhor e com o amadurecimento da banda, a fórmula apenas melhorou.
De forma dark e melódiosa começa “Sickness Unto You“, que vai crescendo, ganhando corpo com performance esmagadora de Bent, pra variar. Me agrada muito o modo limpo, porém agressivo de Heafy cantar, o rapaz evoluiu de forma incrível nos últimos cinco anos. Prepare-se para a ponto mais incrível do álbum, onde vêm um Thrash Metal técnico maravilhoso, cheio de guturais, viradas espetaculares na bateria e coros que casam perfeitamente com o clima da faixa.
“Scattering The Ashes“, bem, podemos dizer que essa é a balada do álbum, pois se assemelha a “Dying In Your Arms“, “Until The World Goes Cold” e “Endless Night” em sua estrutura, mais simples comparada ao restante do álbum. Conta com grande performance de Paolo Gregoletto, tanto no baixo quanto nos backing vocals, que aparecem com o volume um pouco mais alto aqui, justamente para destacar o baixista. Já Heafy canta limpo e mais arrastado. Uma boa faixa que nos encaminha para a parte final.
Mais porrada nos ouvidos vem com “Bending The Arc To Fear“, uma explosão de técnica, onde a banda abusa da complexidade em certas partes, o que é ótimo. Blast Beasts acompanham o pré-refrão, que explode com guturais incríveis do vocalista. Seu final ainda conta com um groove impressionante do baixo .
Pra fechar o álbum, temos “The Sin and the Sentence Part 2“, ou melhor, “The Ones We Leave Behind“. A influência da faixa-título do último álbum é tanta nesta faixa, que se esse fosse mesmo o título, sugerindo uma segunda parte, não seria nada surpreendente. Bent simplesmente destrói os pedais duplos, Heafy canta de forma rasgada, como em “The Crusade“, e cada momento da faixa conta com um feeling impressionante. O único pecado é acabar com um fade out ordinário, algo que odeio com toda alma.
Enfim, infelizmente chegamos ao fim do álbum, cujo maior defeito é esse> acabar. Nesse play o Trivium simplesmente abusou da técnica e complexidade e nos entregou algo incrível. A evolução do último álbum para esse foi sutil, porém notável, com um balanceamento melhor em relação aos momentos de peso e calmaria. Bent não abusou de Blast Beats em momentos em que não eram necessários, Paolo teve mais destaque e só reafirmou porque é um dos grandes baixistas da atualidade. Corey Beaulieu ás vezes é discreto, porém sempre competente nos seus solos e Matt heafy é simplesmente um gênio, o cara evoluiu muito nos vocais e é um guitarrista completo, tanto nos riffs quanto em seus solos.
A banda definiu que não haveriam regras para esse novo álbum, apenas que pagariam tudo o que deu certo na carreira e implementar nas composições, algo que deu muito certo. A escolha do mesmo produtor do álbum anterior, Josh Wilbur (Korn, Lamb Of God), ainda ajudou a criar uma identidade maior no som, já que tudo está engatilhado e dentro dos trilhos. Então, respondendo a questão lá do início da resenha: Sim! O álbum é tudo isso mesmo! Então pare o que está fazendo e vá ouvi-lo agora mesmo!!!
What the Dead Men Say – Trivium
Data de lançamento: 24/04/2020
Gravadora: Roadrunner Records
Tracklist:
01. IX
02. What the Dead Men Say
03. Catastrophist
04. Amongst The Shadows & The Stones
05. Bleed Into Me
06. The Defiant
07. Sickness Unto You
08. Scattering The Ashes
09. Bending The Arc To Fear
10. The Ones We Leave Behind
Formação:
– Matthey K. Heafy (Vocais/guitarra)
– Paolo Gregoletto (Baixo/backing vocals)
– Corey Beaulieur (Guitarra/backing vocals)
– Alex Bent (Bateria)