Resenha: Trees Of Eternity – Hour Of The Nightingale (2016)

A vida imita a arte…

O álbum de estreia do Trees Of Eternity, projeto paralelo de Juha Raivio (guitarra, Swallow The Sun), foi, sem sombra de dúvidas, o melhor lançamento do gênero Gothic/Doom do ano de 2016. Um álbum cheio de introspecção, etéreo, que, sem exageros hiperbólicos, toca no fundo da alma do ouvinte. Ainda mais quando se faz a audição sabendo que a vocalista, Aleah Starbridge, morreu pouco depois das gravações do álbum, vítima de câncer à tenra idade de número 38.

Dona de uma voz ao mesmo tempo doce e melancólica, Aleah é a grande destaque da gravação. Tudo começou em 2009, quando a cantora, que já trabalhava em um projeto solo de Folk/Gothic Rock, foi convidada por Juha para uma participação no álbum New Moon, do Swallow The Sun, mais precisamente na faixa 5, Lights On The Lake (Horror, Part III). Daí nasceu a parceria entre Aleah e Juha, que rendeu a fundação do Trees Of Eternity. Um projeto de Atmospheric Doom Metal. O que se nota no trabalho da banda é um foco no sentimento, na verdadeira intenção de excitar a mais escondida das reações internas do fã. Em 2013 a banda lança de forma independente a demo Black Ocean, com quatro músicas, que seriam reaproveitadas no debut Hour Of The Nightingale, que é o objeto de análise desta resenha.

Aleah Starbridge e Juha Raivio

O play abre com My Requiem, uma ótima amostra do que se descobrir no restante do álbum. Ritmo lento imprimido pelo baterista Kai Hahto (Nigthwish), guitarras densas, orquestrações que não passam do limite do necessário e a bela e triste voz de Aleah, que traz ao mesmo tempo melancolia e um sentimento de paz, tamanha a leveza de seu timbre. Segue-se a pesada Eye Of Night e depois Condemned To Silence, esta com a participação do cantor Mick Moss (Antimatter, Sleeping Pulse).

O próximo destaque fica por conta de A Million Tears, que força o ouvinte a entrar em total estado de introspecção ao longo de sua progressão em pouco mais de sete minutos. Passeios em meio a incursões acústicas surgem durante a audição do disco, além de melodias de guitarra que dão as mãos à voz de Aleah, tal qual Gregor Mackintosh faz no Paradise Lost. Chega então a faixa-título com a força para derrubar por terra qualquer resquício de resistência emocional. Neste momento, não tem como não se entregar a atmosfera criada pelo canto suave de Aleah e pelas melodias tristes compostas por Juha, tal como navegante que não resiste aos chamados das sereias.

O peso volta a dar as caras em The Passage e em Broken Mirror, afinal, ainda estamos em território de Heavy Metal, não é mesmo? Mas quando você pensa que está se recuperando do baque emocional provocado pelas primeiras músicas, chega Black Ocean, que com seus sete minutos esmaga seu orgulho e traz lágrimas aos seus olhos, tamanha a carga emocional imprimida por esta peça musical. Depois da faixa acústica Sinking Ships, o álbum se encerra com os nove minutos de Gallows Bird, um Doom marcante, com um pé no Funeral. Aqui ocorre a participação do vocalista Nick Holmes (Paradise Lost), que, sob o título de criador do Metal Gótico, chega para atestar a qualidade do álbum com sua voz grave e melancólica.

Não ouça este álbum esperando aquele Gótico “Bela e a Fera” só porque se trata de Doom Metal com vocal feminino. Não há vocais guturais aqui, nem fraseado de guitarra beirando o Death Metal. Aqui, o enfoque é passional, perseguindo o contraste da beleza com a tristeza. Um disco para ser apreciado do começo ao fim, pois não há uma música que se destaque muito sobre as outras.

A formação que gravou Hour Of The Nightingale é uma verdadeira seleção do Doom Metal. Fora a dupla já citada, o álbum conta com os irmãos Fredrik e Mattias Norrman, respectivamente na guitarra e no contrabaixo e ambos membros do October Tide. Na bateria, temos o já conhecido Kai Hahto (Nightwish, Swallow The Sun, Wintersun). Para não deixar o peso de lado, o álbum foi produzido, mixado e masterizado por ninguém menos que Jens Bogren (Amon Amarth, Paradise Lost, Kreator, Sepultura, dentre outros), o homem que arranca de qualquer banda todo o peso que é possível ser arrancado.

Parece até que o álbum foi composto prevendo o que aconteceria depois. O disco foi gravado em 2014 e ficou engavetado por um tempo. Em 18 de abril de 2016, um câncer leva Aleah Liane Starbridge, 38, para além dos horizontes da vida. Para honrar o legado da amiga e aproveitar as letras que a mesma deixou na Terra, Juha Raivio criou a banda Hallatar, que lançou o álbum No Stars Upon The Bridge, um dos melhores álbuns de Doom Metal de 2017. O álbum Hour Of The Nightingale representa então um epitáfio e uma perfeita ornamentação de sua partida, que nos faz ter a certeza de que o pouco que ela gravou em vida será sempre presente nas mentes de qualquer um que ouse ouvir sua voz, mesmo após sua morte. Como ela mesma previra na letra da música My Requiem: “À noite, as cortinas descem / Dentro da escuridão eu vagueio / Perdendo tudo que encontrei / Para o meu próprio desânimo / Meu tempo chegou a um fim.” (“Requiem” significa “descanso” em latim).

A vida imita a arte…

Hour Of the Nightingale – Trees Of Eternity (Svart Records, 2016)

Tracklist:
01 – My Requiem
02 – Eye Of Night
03 – Condemned To Silence
04 – A Million Tears
05 – Hour Of The Nightingale
06 – The Passage
07 – Broken Mirror
08 – Black Ocean
09 – Sinking Ships
10 – Gallows Bird

Line-up:
Aleah Starbridge – vocais
Juha Raivio – guitarras
Fredrik Norrman – guitarras
Mattias Norrman – guitarras
Kai Hahto – bateria

Participações:
Mick Moss – vocais em Condemned To Silence
Nick Holmes – vocais em Gallows Bird

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