Há pouca controvérsia em afirmar que a formação mais aclamada daquilo que veio a ser conhecido por G3, foi aquela que uniu Joe Satriani, Steve Vai e Yngwie Malmsteen. Cada um deles representou uma faceta dessa tendência de discos instrumentais, baseados na guitarra, que ganhou força na segunda metade dos anos 80. Sob vários aspectos, esse trio delimitou as principais orientações que foram seguidas dentro desse estilo denominado de Shred: o trabalho essencialmente instrumental, como o que faz Joe Satriani; o trabalho instrumental mas salpicado de vinhetas, vozes, ruídos, na linha Steve Vai; e o trabalho meio instrumental/meio cantado, com toques neoclássicos como o de Yngwie Malmsteen.
Esse “Maximum Security”, segundo álbum da carreira do guitarrista Tony MacAlpine, se aproxima mais da linha de Satriani, não por questões de estilo, bem distintos entre si, mas pela forma sóbria e variada que usa para apresentar sua música, fazendo com que o trabalho possa transitar por climas diversos sem perder a identidade e o equilíbrio. Essa versatilidade permite que o disco se comunique bem com o ouvinte médio que não seja necessariamente um entusiasta da guitarra, possuindo uma fluência agradável, alternando as levadas e fazendo com que o tempo passe quase sem que se perceba.
A pegada predominante de Tony, no álbum, não resvala tanto para o lado do Rock, apesar de conter a participação de alguns artistas ilustres do gênero, como o guitarrista George Lynch e o baterista Deen Castronovo. É claro que esse ritmo está presente, surgindo em algumas músicas mais rápidas, como “Hundreds of Thousands” e “The Vision”, mas, no geral, muito do que se ouve no álbum aproxima-se mais de um estilo de música contemplativa, feita para se ouvir de forma relaxada, com calma e atenção. A sensação mais preemente é de estar desfrutando de uma trilha sonora e, assim, percebe-se que a musicalidade do sujeito bebe muito do universo da música erudita. Não naquela linha clássica praticada por Malmsteen, que evoca os gênios do passado, mas sim a música erudita contemporânea, com alguma leve queda para o Jazz moderno também. As faixas “Tears of Sahara”, “Key to the City”, “Sacred Wonder” e “Dreamstate” tendem mais para esse espectro sonoro e, curiosamente, a música que abre o disco, “Autumn Lords”, fica em um meio termo entre essas duas facetas – a clássica e a pesada -, como se, inconscientemente, houvesse a vontade de logo de início mostrar a carta de intenções do trabalho, com um breve amálgama de suas características predominantes.
É um bom disco, sem dúvida e MacAlpine merece ter mais visibilidade dentro desse cenário do que já possui. Talvez o problema tenha sido o fato de surgir no meio do turbilhão de artistas do gênero que estavam lançando seus próprios álbuns solos, saturando um pouco o mercado. Ou talvez tenha sido a meta de estabelecer um certo grau de sobriedade que o distanciou da faixa mercadológica ocupada pelos artistas que flertaram mais fortemente com o Hard Rock, agregando, nesse processo, mais multidões em suas fileiras de seguidores. A música de MacAlpine não cede a classificações autocontidas e, por isso, sobrevive independentemente da mídia.
Formação
Tony MacAlpine – guitarra, teclado, baixo
George Lynch – solos de guitarra adicionais (músicas 3 e 9)
Jeff Watson – solos de guitarra adicionais (música 6)
Mike Mani – teclados
Deen Castronovo – bateria (músicas 1–3, 5, 6)
Atma Anur – bateria (músicas 4, 7, 9–11)
Músicas
01.Autumn Lords
02.Hundreds of Thousands
03.Tears of Sahara
04.Key to the City
05.The Time and the Test
06.The King’s Cup
07.Sacred Wonder
08.Etude #4 Opus #10 (Frédéric Chopin)
09.The Vision
10.Dreamstate
11.Porcelain Doll
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9/10