Apesar de ter sido bastante veiculado no Brasil, na época da MTV, os norte irlandeses do Therapy? nunca chegaram a conseguir formar um grande público por aqui. Para mim, a banda surgiu através da recomendação de um amigo e devo agradecê-lo até hoje por isso, pois ainda é um de meus discos favoritos. É impressionante como eu gosto desse álbum e não me canso de escutá-lo! Poderia separar um dia, em todas as semanas, para tocá-lo no som do carro e não deixaria nunca de me empolgar com os refrões ou bater a mão na perna, marcando o tempo das músicas, enquanto dirijo. “Troublegum”, lançado em 1994, pode ser considerado o seu ápice criativo e comercial, mas a banda continua ativa, gravando e fazendo shows, embora sem conseguir replicar os resultados que obtiveram aqui.
Não dá pra rotular com exatidão o estilo que o Therapy? pratica. Tem um pouco de metal, misturado com doses de punk, noise, industrial e rock alternativo, além de algum tempero mais voltado para o pop. Essa fórmula foi sendo consolidada paulatinamente através de seus primeiros discos, sendo que “Troublegum” pode ser tanto considerado o terceiro como o quarto lançamento, dependendo de qual mercado você esteja observando, pois, para os Estados Unidos, os dois primeiros discos foram compilados e lançados como um único trabalho.
De qualquer modo, “Troublegum” tem uma merecida posição de destaque dentro de sua discografia, que já comporta catorze álbuns. Trata-se daqueles discos que, de tão bons, acabam soando como se fossem uma coletânea. Cada música tem um gancho envolvente que lhe puxa pra dentro dela. Um dos grandes destaques de seu repertório foi a cover de “Isolation”, do Joy Division, cuja audição reafirma o quanto as canções daquela banda ainda funcionam tão bem e o quanto elas crescem na reinterpretação de outros artistas.
Mas o que importa mesmo, e chama a atenção, é a qualidade das faixas próprias. A produção do disco, que já merece elogios pela forma como conseguiu deixar todos os instrumentos bem altos e límpidos, também acrescenta um ritmo dinâmico na maneira como elas vão surgindo para o ouvinte, estando o final de algumas praticamente ligados com o início de outras, sem pausa para respirar. É dessa forma que, logo após a abertura com “Knives”, seguem-se as excelentes “Screamager” e “Hellbelly”. O carisma de Andy Cairns como intérprete ajuda a ampliar o destaque de canções inspiradas como “Stop If You´re Killing Me”, “Nowhere”, “Die Laughing”, “Trigger Inside” e “Brainsaw”, todas perfeitas para serem executadas em uma apresentação ao vivo. Com um andamento mais pausado, para a necessária mudança de climas que o disco necessita, vem à frente as faixas “Unbeliever”, que traz a participação do guitarrista Page Hamilton, do Helmet, em seu solo, “Lunacy Booth”, “Turn” e “Femtex”.
Apesar de sua qualidade, o disco permanece como uma espécie de pérola escondida e esse status não deve mais sofrer alterações. Caso você seja do tipo que gosta de garimpar e não se prenda a rótulos, vale a pena procurar conhecer. O legal de “Troublegum” é que é aquele tipo de disco que você pode indicar para diversas pessoas, e todas ficarão com o pé atrás na hora de fazer a audição. Algumas permanecerão indiferentes, mas uma boa parte vai se surpreender e curtir. Eu sei. Foi assim que aconteceu comigo.
Formação
Andy Cairns – vocal/guitarra
Fyfe Ewing – bateria
Michael McKeegan – baixo
Músicas
01.Knives
02.Screamager
03.Hellbelly
04.Stop It You’re Killing Me
05.Nowhere
06.Die Laughing
07.Unbeliever
08.Trigger Inside
09.Lunacy Booth
10.Isolation
11.Turn
12.Femtex
13.Unrequited
14.Brainsaw
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9/10