Eu sei que essa ladainha de “os anos 80 isso”, “os anos 80 aquilo”, pode até já soar meio maçante para algumas pessoas, mas não tem como falar sobre alguns discos sem que haja essa contextualização, principalmente quando se trata de discos com características mais encapsuladas dentro do referido período.
A dicotomia Metal verdadeiro/falso Metal, que ainda sobrevive hoje em dia, de forma muito tênue, era fortíssima naquela época. Com o passar do tempo, e a diminuição de posturas radicais, a audição de alguns trabalhos nos faz questionar quais seriam exatamente os critérios de avaliação para indicar se um artista deveria ser exaltado ou crucificado, dentro desses parâmetros. Na maioria dos casos, a diferença era bem óbvia, com algumas coisas extremas de um lado, e outras pasteurizadas em excesso do outro, mas existiram discos, bandas ou canções que nossa perspectiva atual pode encaixar dentro de uma zona intermediária nesse espaço amostral.
Não estou chegando até aqui para insinuar que o The Rods era uma banda de “falso Metal”, longe disso! Mas músicas como “Too Hot To Stop” e “Burned By Love” não são, em essência, muito diversas de tantos trabalhos lançados naquela época e que, em sua maioria, eram arremessados diretamente no nicho “não ouvi e não gostei”, em favor de alguma suposta pureza do estilo. Eu faço o meu “mea culpa” e admito que tem muita coisa que ainda não me desce, mas, por outro lado, não dá para deixar de lado bandas como Dokken, Motley Crüe, Ratt e algumas outras. Discos recentes de Winger e King Kobra também têm se destacado em qualidade inquestionável e me incentivaram a efetuar uma reaudição de seus primeiros álbuns.
Onde estaria, portanto, o ponto de corte? Seria a produção? Os temas das letras? O visual? Provavelmente um pouco de tudo isso e mais um ou outro detalhezinho. The Rods era – e continua sendo, pois retornaram à atividade – uma banda autêntica, séria, pesada e com legitimidade no underground, praticante de um Hard Heavy vigoroso, bem característico de seu tempo. “Too Hot To Stop” e “Burned By Love” são duas excelentes faixas, que engradecem o disco e que beberam da mesma influência que alimentou uma boa parte de todo o cenário Hard/Glam Metal do começo dos anos 80 e que ainda precisa ser revisto por muita gente, pois gerou coisas fantásticas.
O álbum “Wild Dogs”, que foi lançado no Brasil em vinil, tem a seu favor a diversidade que caracteriza as melhores obras. “Waiting For Tomorrow” e “Violation” são canções que refletem a retroalimentação existente entre as bandas novaiorquinas, lembrando, respectivamente, um pouco de Riot e Twisted Sister. “You Keep Me Hangin’ On”, por outro lado, é uma meio-balada que remete diretamente ao Cheap Trick. David Feinstein, que formou o Rods após deixar o Elf, onde acompanhava seu primo, Ronnie James Dio, é um guitarrista nos moldes clássicos setentistas, capaz de fazer solos concisos nas canções em disco, e transformá-las em longas jams ao vivo, apoiado pelas habilidades de seus parceiros Gary Bordonaro, no baixo, e Carl Cannedy, na bateria.
De uma faixa descompromissada como “Rockin’ And Rollin’ Again”, o trio passa para canções mais dinâmicas como “End Of The Line”, “No Sweet Talk Honey” e “The Night Lives To Rock”, mas o momento crucial do disco é mesmo a faixa-título, “Wild Dogs”, que faz a devida honra à sua antológica capa, em um momento de Metal cru e ríspido. “Wild Dogs”, o álbum, é um belo exemplo da transição entre o Hard Rock e o Heavy Metal americanos, que ia assimilando as mudanças que vinham da Bretanha, antes de regurgitá-las na revolução que dominaria o restante da década.
Formação:
David “Rock” Feinstein (vocal e guitarra);
Gary Bordonaro (baixo);
Carl Canedy (bateria).
Faixas:
01. Too Hot To Stop
02. Waiting For Tomorrow
03. Violation
04. Burned By Love
05. Wild Dogs
06. You Keep Me Hangin’ On
07. Rockin’ And Rollin’ Again
08. End Of The Line
09. No Sweet Talk, Honey
10. The Night Lives To Rock