“Nós somos o Motorhead e nós tocamos Rock’n’Roll”. Quem será algum dia capaz de esquecer essa frase e o seu significado? Mas, por mais que não temos vontade de contestar o saudoso Lemmy, é certo que as canções do Motorhead extrapolavam um pouco o conceito de Rock’n’Roll. “Overkill”, “Orgasmatron”, “Iron Fist”…. Bem, independente dos modos motorheadianos de fazer suas releituras do estilo, as raízes mais literais deste – com as quais Lemmy cresceu e pelas quais nutria verdadeiro amor – foram revisitadas pelo artista em um projeto paralelo dentro de sua carreira, a banda The Head Cat.
A parte “Head” do nome, vocês já sabem de onde veio, mas o “Cat” faz menção à banda principal do baterista Slim Jim Phantom, os Stray Cats, provavelmente o conjunto mais reconhecível de Rockabilly a partir da década de 80. Juntos ao guitarrista texano Danny B. Harvey, eles gravaram este álbum originalmente em 1999, mas que foi relançado em 2006 com outra capa, título e alteração na ordem das músicas. Nada aqui tem o condão de causar qualquer tipo de estranheza, muito pelo contrário, é um álbum genuíno e verdadeiro como poucos, pois é executado por músicos que realmente tem paixão e afinidade pela musicalidade que os inspirou a criar esse projeto.
A década de 50 é a grande representada aqui e, entre versões de músicas de alguns dos monstros sagrados daquela geração, o maior homenageado é o ícone precocemente falecido Buddy Holly, cuja assinatura estampa oito das quinze composições presentes, além da faixa título que fazia parte de seu repertório clássico. Escutar “Not Fade Away”, “Take Your Time”, “Learning The Game”, “Peggy Sue Got Married” e “Crying, Waiting, Hoping” evoca uma série de sentimentos que vão muito além da simples nostalgia e que manter-se-ão incólumes por muitas décadas à frente.
Estilos ancestrais ao próprio Rock’n’Roll são lembrados com toda a legitimidade aqui, como o Blues do Mississippi, representado na canção “You Got Me Dizzy”, de Jimmy Reed, ou o Country do homem de preto, Johnny Cash, na faixa “Big River”. “Cut Across Shorty”, de Eddie Cochran, também se aproxima do território Country, embora o nome do artista esteja mais associado ao Rockabilly. Transcendendo a necessidade de classificações, a presença do Rei é lembrada com o devido respeito, nas faixas “Lawdy Miss Clawdy” e “Trying To Get To You”, que receberam as insígnias da interpretação de Sua Majestade, Elvis Presley, em suas versões primordiais.
A última música presente é “Matchbox” de Carl Perkins, encerrando essa celebração em tom incendiário. Danny acumulou funções na gravação e gravou as partes de baixo em acréscimo as suas intervenções na guitarra. Lemmy assumiu os vocais e tocou guitarra no álbum, recuperando o passado para um disco que o vivencia, pois sua função original, nas primeiras bandas das quais participou, era de guitarrista. E se você sentiu falta de nomes como Chuck Berry, Jerry Lee Lewis ou – porque não? – os Beatles, saiba que eles viriam a ser lembrados em um álbum subsequente, lançado em 2011, tão válido quanto este.
O Head Cat era o momento de lazer de caras que não sabem fazer outra coisa na vida que não seja música. Um respiro de seus trabalhos principais, onde podiam se encontrar para tocar e curtir, sem grandes preocupações empresariais como divulgação, vendagens e turnês. Um ensaio informal de fim-de-semana para tocar as preferidas. Sorte nossa que era um ensaio a portas abertas!
Formação
Danny B.Harvey – guitarra, baixo
Lemmy Kilmister – guitarra, violão, harmonica
Slim Jim Phantom – bateria
Músicas
01.Fool’s Paradise
02.Tell Me How
03.You Got Me Dizzy
04.Not Fade Away
05.Cut Across Shorty
06.Lawdy Miss Clawdy
07.Take Your Time
08.Well…All Right
09.Trying to Get to You
10.Learning the Game
11.Peggy Sue Got Married
12.Crying, Waiting, Hoping
13.Love’s Made a Fool of You
14.Big River
15.Matchbox