Resenha: The Cure – Nunca É O Bastante

Na contracapa desta biografia dedicada ao The Cure, escrita pelo jornalista Jeff Apter, consta uma avaliação emitida pela Revista Classic Rock inglesa, em que considera a obra como “Abrangente e sólida”. Perfeito em sua síntese, não temos nenhuma discordância de que esses adjetivos correspondem ao conteúdo do tomo. Porém, a fidelização do texto com a trajetória da banda findou por acrescentar alguns outros conceitos que não favorecem a fluência das palavras escritas.

È constante encontrarmos referências de como as músicas do grupo inglês progridem lentamente, avançando sem pressa em longas texturas melódicas que nos fazem imaginar que não haverá voz em uma ou outra canção. O livro parece ter embarcado também nessa forma de narrativa. Ele é completo e minuncioso, mas avança de forma um pouco burocrática e lenta, de uma maneira que os fatos vão passando e, sem percebermos, já estamos tratando sobre o disco seguinte. Um show, uma entrevista, a reação a uma crítica e o ciclo sempre se reiniciando.

Redundante dizer que a história do Cure é a história de seu líder, Robert Smith. No entanto, é curioso perceber que as diversas mudanças de formação sofridas pela banda ocorreram em sua maioria dentro da órbita ocupada pelos seus ex-membros, que retornavam, saiam e voltavam mais à frente. Por mais válidas, porém, que fossem suas contribuições, sempre foi a visão de Smith que determinou os rumos a serem seguidos. E se há algo que pode ser dito do artista, que começou a carreira estimulado pelas visões de Jimi Hendrix, Alex Harvey e David Bowie, que via na TV, é que ele fez tudo com coerência ímpar, merecendo ter conquistado o status, para seu grupo, de um dos mais importantes e influentes da música contemporânea.

Dentre os colaboradores mais próximos, não há dúvidas de que o diretor de vídeos Tim Pope foi um dos mais atuantes, pois ajudou a definir um conceito visual para a banda que perdura até hoje. A parceria estabelecida ajudou a fazer do álbum “The Head on the Door” o grande sucesso comercial que se tornou, mas também criou para o The Cure o estigma de ser uma banda Pop, o que não corresponde bem à realidade. Em sua discografia encontram-se diversos hits, não há dúvidas, mas a morte, religião, depressão e a angústia são os temas que norteiam o seu autor. A exarcebação na transmissão desses conceitos, no álbum “Pornography”, foi tão além da conta que ameaçou afetar a psiquê dos músicos e levá-los a sucumbir perante a própria obra. A guinada para um clima mais leve foi essencial para que a banda ressurgisse e respirasse, permitindo que, no futuro, retornassem à sua linha mestra, na perfeição do disco “Disintegration”.

Nunca foi o mercado, a gravadora ou os empresários que ditaram os direcionamentos do Cure. As variações sobre um disco ou outro sempre refletiram os sentimentos de Robert Smith em cada fase. Apesar de faltar ritmo à leitura, ela consegue transmitir a integridade artística de seu biografado, um compositor cujas ideias inspiraram artistas de tendências tão distintas quanto o Nu Metal, o Rock Alternativo ou o Black Metal. Apesar de sua influência, a banda vai, aos poucos, se despedindo dos holofotes, embora nunca tenha dependido muito deles.

As luzes, sobre o The Cure, sempre revelaram o mínimo.

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