As bandas inglesas sempre adoraram flertar com a América. Na maior parte dos casos, com intenções de mercado mesmo, fazendo pequenas saudações em títulos de músicas com o intuito de chamar atenção. No caso do Cult, parece ser diferente. Embora também tenham feito seus acenos, tal qual ocorreu na faixa “New York City”, do disco “Sonic Temple”, há um fator de paixão genuína pela cultura americana, expresso em sua musicalidade. Essa paixão, porém, está mais direcionada para uma outra América, deixando a vida urbana em escanteio e adentrando em territórios indígenas.
Todos os discos da banda têm referências nesse sentido, tanto gráficas – em ilustrações das capas – quanto nas letras. Não se trata de conceito de um disco só. Tanto a temática, quanto a pegada mais roqueira, ajudaram a afastar o Cult da imensa leva de bandas do movimento pós-punk inglês que surgiram concomitante a sua geração e que estavam mais voltadas para os assuntos políticos ou de síndromes depressivas.
“Love” é um disco de transição. Se for escutado na ordem da discografia, entre “Dreamtime” e “Electric”, percebe-se claramente o percurso que a banda estava fazendo. De onde ela vinha e para onde estava se dirigindo. Os elementos de Gótico e de Hard Rock se encontravam dentro da mesma capa e formataram aquele que ainda é, para mim, o melhor disco do grupo liderado pelo vocalista Ian Atsbury e pelo guitarrista Billy Duffy, sendo que, nessa primeira fase da carreira, até o lançamento do disco “Sonic Temple”, eles eram acompanhados pela presença permanente do excelente baixista Jamie Stewart, que, depois que deixou a banda, trabalhou com produção e chegou a participar brevemente de um projeto do guitarrista Adrian Smith, quando esse estava fora do Iron Maiden.
Às vésperas de exibir com mais vigor influências de Led Zeppelin e AC/DC, no consagrado álbum “Electric”, o Cult registrou, em “Love”, um conjunto de canções emocionantes e climáticas, das quais eu sou forçado a destacar as faixas “Revolution” e “Rain”, que considero ser os dois maiores momentos de toda a obra da banda. Músicas de uma simplicidade espartana, mas que absorvem toda a sua atenção, contagiado pela emoção transmitida tanto pela interpretação quanto pelas melodias maravilhosas. Com poucos graus de diferença, vem as canções seguintes, de qualidade homogênea, como “Nirvana”, “Brother Wolf Sister Moon”, “Love”, “Black Angel” e “She Sells Sanctuary”, sendo que esta última poderia muito bem ser tida como a primeira música do Electric, já que é a que está mais sintonizada com o clima do disco seguinte.
Todo o álbum foi composto em dupla por Duffy e Atsbury e, tanto a parceria, quanto a fórmula, se mantém intacta até hoje. Tal qual tantas carreiras musicais, o Cult agigantou-se e depois encolheu, mas nunca deixou de ser relevante e nem de fazer a melhor música dentro de seu universo. Mesmo quando inseriu alguns elementos eletrônicos em seu som, nos meados dos anos noventa, o fez sem se descaracterizar. “Dreamtime” não teve tanto impacto, mas, a partir de “Love”, o Cult vivenciou uma merecida história de sucesso. Não poderia ser diferente, pois o próprio título do álbum denuncia que é uma história de amor.
Formação
Ian Astbury – vocal
Billy Duffy – guitarra
Jamie Stewart – baixo
Mark Brzezicki – bateria, exceto em “She Sells Sanctuary”
Nigel Preston – bateria em “She Sells Sanctuary”
Músicas
01.Nirvana
02.Big Neon Glitter
03.Love
04.Brother Wolf, Sister Moon
05.Rain
06.The Phoenix
07.Hollow Man
08.Revolution
09.She Sells Sanctuary
10.Black Angel