Antigamente fazia sentido falar em um cenário brasileiro mais, digamos, compartimentalizado. Minas Gerais, mais extrema, São Paulo, mais melódico, e por aí vai…. Hoje isso não tem mais propósito. Cada estado, cada localidade, é o seu próprio microuniverso de música pesada, onde você pode encontrar qualquer segmento, qualquer subestilo que lhe agrade.
Da ensolarada cidade de Aracaju, surge a pesada banda Stonex, que estreou, em 2014, com seu ótimo EP intitulado “Seeds OF Evil”. A banda, formada por Ramon Guerreiro (vocal), Marcelo Hazz (guitarra), Atilio Bass (baixo) e Adriano Cardoso (bateria) disponibilizaram quatro faixas cativantes, cujo único ponto negativo realmente relevante é a ilustração da capa, um pouco primária em sua concepção.
Mas esse é um detalhe que não interfere no principal, que é a fruição das músicas. A primeira faixa “Dressed In Black” começa indo direto ao que interessa, remetendo-nos ao tempo em que os discos eram mais objetivos, sem enrolação. A gravação poderia ser melhor, mas não compromete e evidencia a sujeira que é necessária para o tipo de som que o Stonex faz. Um Heavy Metal que transita entre as lições obtidas nos primeiros discos do Black Sabbath, misturado com a sonoridade dos anos finais da NWOBHM, lembrando, em certos momentos, algo de Grim Reaper.
Os créditos de composição são dados para a banda como um todo, e as letras são de autoria de Marcelo Hazz, mas, em termos de execução, não é justo evidenciar um ou outro músico, pois todos tem seu momento de destaque. É, porém, necessário apontar o acerto das inserções melódicas e dos solos bem colocados de Hazz, além do efeito que a voz de Ramon acrescenta nas faixas, com um timbre rouco que, se fosse mais gritado, aproximar-se-ia do que praticavam alguns vocalistas do começo do Thrash Metal.
Embora o Black Sabbath seja uma influência fortíssima, sua presença nas composições pode ser mais percebida nas faixas em momentos pontuais, como no trecho intermediário de “Electric Sky”, quando o baixo, e depois a guitarra, um de cada vez, chamam a música de volta, encaminhando-a para o seu final, onde o refrão e os solos vão se intercalando dentro do arranjo. O peso que permeia “Maggots In My Brain”, ressaltado pelas viradas e pelos ataques nos pratos, antecede a última faixa, “Master Of The Pit”, com um refrão final simples e eficiente, do tipo que basta escutar uma única vez e, na próxima, você já está repetindo.
As últimas informações sobre o Stonex nos apresentam um novo e mais moderno logo, muito bonito e imponente, e também o acréscimo de mais um guitarrista na formação. Ficamos no aguardo para ver como será essa interação e no que ela modificará a musicalidade que foi apresentada nesse EP. Certamente o que virá será muito interessante, pois daqui pra frente a banda só tende a evoluir e ampliar o que mostrou até agora. O saldo artístico de seu primeiro EP já repousa no lado positivo.
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7/10