Estamos diante do 11º álbum de estúdio do SOULFLY, uma banda que nos seus primórdios, parecia um projeto que não teria muito futuro. As ideias de Max Cavalera eram de sempre gravar um álbum com músicos diferentes e isso pareceu não dar muito certo, até que as coisas se estabilizaram e a formação atual saiu do estúdio com este excelente disco.
Ritual é um disco que me levou a querer escutar novamente o SOULFLY, pois o último play da banda pelo qual eu me interessei fora o “Omen” (2010), este eu considero a verdadeira obra-prima de Max pós-SEPULTURA.
Com produção de Josh Wilbur (LAMB OF GOD), a banda entrou no Hybrid Studios, na California, Ritual foi lançado pela Nucelar Blast em 19 de outubro deste ano (N. do R: curiosamente, na mesma data em que “Chaos A.D.” do SEPULTURA completava 25 anos de lançamento).
A abertura do play se dá com a faixa título, que tem uma intro meio tribal e logo dá lugar a riffs bem legais, pesados. Não poderíamos esperar algo diferente de Max Cavalera, uma autoridade quando se trata de compôr riffs insanos. A música transita por mudanças interessantes de andamento, não chega a ficar rápida, apenas um breve flerte com a velocidade, mas ela ficou excelente do jeito que está.
Que coisa maravilhosa é essa “Dead Behind the Eyes“? os riffs dela me remetem ao SEPULTURA da fase Schizophrenia. Com algumas quebradas no meio, dando direito a muito groove e um solo bem legal executado por Marc Rizzo, cada vez mais mostrando que se tornou a figura certa para, digamos assim, substituir Andreas Kisser neste caminho que Max optou por trilhar a partir de 1997. Esta faixa tem também Randy Blythe, do LAMB OF GOD, abrilhantando mais.
“The Summoning” não tem invencionices, é Thrash Metal moderno, ganhando uma pegada mais core do meio para o final, mas tudo guiado pelos riffs mortais de Max. “Evil Empowered” mantém o foco nos riffs, que desta vez são hipnotizantes, com mudanças de andamento e um refrão que gruda na sua mente. Impossível você escutar e não sair cantando “Rise above, Rise above!” Uma das melhores do disco.
“Under Rapture” tem um início bastante agressivo, mas que depois dá espaço a um andamento mais cadenciado, com espaço para que Marc Rizzo possa brilhar no solo e tudo descamba para o Death Metal quando da participação do vocalista do IMMOLATION, Ross Dolan.
“Demonized” começa com um violão aparentemente inofensivo e com Max recitando as primeiras letras, mas depois tudo descamba para a velocidade das guitarras e a bateria core de Zyon Cavalera acompanhando tudo por perto e no final a quebrada de ritmo, trazendo a banda de volta ao Groove.
“Blood on the Street” tem em sua intro uma flauta inca e você acha que aqui Max irá trazer de volta os elementos tribais (leia-se macumba), mas não: a música se desenvolve e passa por muitas vertentes, incluindo Punk, Hardcore, Death Metal, mas tudo desembocando no bom e velho Groove, que Max sabe fazer como poucos. O final tem uma tentativa de levada tribal de Zyon, juntamente com os convidados Chase Numkena, Gary Elthe, Josh Lomatewaima e Ron Thamo, mas fica só na tentativa, pois somente o tio de Zyon sabe fazer isso da melhor forma.
“Bite the Bullet” é mais modernosa, com Rizzo demonstrando todo seu virtuosismo solando na intro, com um refrão forte, pesado, perfeito para o ouvinte banguear sem querer saber do amanhã. Aqui também temos uma pincelada, uma tentativa de misturar batucadas, mas que bom que fica só na tentativa.
Em “Feedback!“, temos a banda tocando Punk Rock, em 1/3 da música. É como se Max tivesse tomado o DEAD KENNEDYS de Jello Biafra. Ficou legal essa pegada mais simples, porém, no final, a rapaziada traz tudo de volta ao Groove. Aqui temos a participação de Iggor Cavalera nos vocais.
E no final, como de praxe nos discos da banda, espaço para o tribalismo, com a faixa “Soulfly XI“, que a cada disco ganha no seu título o número de acordo com a ordem dos discos lançados. As faixas nada tem a ver com Metal, mas fazem com que o ouvinte sinta um pouco de paz e relaxe ao escutá-las.
E chega ao fim um dos melhores lançamentos do ano que está chegando ao fim. Tudo aqui é bem caprichado, bem executado, apenas faço uma ressalva para a voz de Max Cavalera, que se ao vivo já sofre, no estúdio, mesmo com todas as técnicas disponíveis, percebemos que já não é mais a mesma coisa. Mas ele ainda tem muita lenha para queimar. A impressão que tenho ao escutar “Ritual” é que se hoje a formação clássica do SEPULTURA estivesse junta, seria mais ou menos assim que a banda soaria.
Line up:
Max Cavalera – Vocal/Guitarra de 4 cordas
Marc Rizzo – Guitarra
Zyon Cavalera – Bateria
Mike Leon – Baixo
Tracklisting:
01 – Ritual
02 – Dead Behind the Eyes
03 – The Summoning
04 – Evil Empowered
05 – Under Rapture
06 – Demonized
07 – Blood on the Street
08 – Bite the Bullet
09 – Feedback!
10 – Soulfly XI