Power/Doom. Um híbrido que mais parece um paradoxo. De um lado, um gênero que tem dentre suas principais características o ritmo veloz, movido a bumbos duplos. Do outro, o Gênero Maldito, que preza pelo ritmo lento, bem arrastado às vezes. Pois bem. O Power Metal não tem na velocidade sua única característica. As dobras de guitarra, as harmonias vocais e a velocidade das palhetadas também são características do estilo cuja criação a maioria dos entendidos atribui ao Helloween. Nada tão incomum ao Doom Metal. O debut do Candlemass apresenta todas estes elementos, por exemplo.

Você ainda estranha? Mas é simples, meu bom jovem: pegue o ritmo do Power Metal e retire uma ou duas batidas no caixa da bateria. Pronto. Você tem um Epic Doom com todas os elementos do Power preservados. Mais tecnicamente falando, deixe os bumbos em semicolcheia e o caixa em mínima ou em semibreve.

A banda grega Sorrows Path pratica o Power/Doom Metal. Em suas composições, em particular as do seu álbum mais recente, Touching Infinity, trazem as características do Power Metal, no ritmo do Doom. A banda fundada em 1994 chega agora ao seu terceiro álbum de estúdio (o primeiro só foi ser lançado em 2010) com a formação estabilizada nos músicos de longa data, o guitarrista Kostas Salomidis, o vocalista Angelos Ioannidis e o baixista Stavros Giannakos, que se fazem acompanhar do novato George Vichos (guitarras) e Fotis Mountouris (bateria), que deixou recentemente a banda, sendo substituído por Thodoris Christodoulou. Temos aqui latente o DNA do Metal helênico, algo das melodias que nos acostumamos a ver em Rotting Christ, Septicflesh ou Varathron, mas adaptadas ao Metal melódico, coisa que os conterrâneos do Doomocracy também fazem com primor.

Touching Infinity é um álbum curto. 37 minutos, somados aí a intro Intro To Infinity e o outro que dá nome ao álbum. Nas oito faixas regulares, encontramos bases pesadas de guitarra, solos virtuosos e contrabaixo bem presente, executando linhas marcantes e com timbre gordo! Na faixa Fantasies Will Never Die (que ganhou clipe) já se vê também outro destaque do álbum que são as levadas de bateria, do modo como está descrito dois parágrafos acima. O ritmo quebrado de Leneh mostra variedade nas possibilidades de arranjo que a banda é capaz de trabalhar. My Chosen God é a música mais curta do álbum, mas é um dos destaques graças as habilidades dos músicos, a agressividade em sua metade e os arranjos de guitarra. Metaphysical Song começa com timbres limpos, meio Moonspell, se tornando depois num Doomzão pesado moldado em escalas árabes, dando um toque étnico à música da banda das terras de Alexandre, o Grande.

O Power Metal toma conta do espaço em The Subconscious, emergindo aqui influências de Helloween fase Andi Deris (as linhas vocais de Ioannidis até lembram as do cantor citado). O híbrido Doom/Power Metal volta a prevalecer em Beauty, com destaque para os solos de guitarra que servem de base para os vocais de Ioannidis no melhor estilo Nevermore. Forgiveness mais parece uma mistura de Running Wild com Paradise Lost, pavimentando o caminho para a mid-tempo Revival of Feminine Grandeur encerrar os trabalhos de acordo com os ensinamentos de Doom Metal de escalas orientais do Solitude Aeturnus.

Devo admitir que o ponto de esforço em se ouvir Sorrows Path é o vocalista. O cara lidera a banda a mais de vinte anos, certo. Mas em vários momentos é dose tentar suportar suas tentativas forçadas de vibrato, lançando mão de uma técnica errada. Melhor seria se ele não arriscasse vibratos a todo fim de verso e apostasse mais em suas regiões graves, onde ele se sai bem. A dupla de guitarristas dá um show a parte, e a cozinha segura a barra com força. Dá gosto de ouvir uma banda soando tão coesa e forte em conjunto, com o lado técnico sendo usado em prol dos arranjos musicais, não para auto-exibição.

Lembra do paradoxo Power/Doom? O álbum anterior do Sorrows Path, lançado em 2014, se chama Doom Philosophy. Ninguém melhor para falar de filosofia do que os gregos, que foram os primeiros na história a pensar no assunto. E se a Filosofia grega do Doom outorga que o Doom e o Power podem conviver em harmonia, nos esbaldemos com esta mescla rica de estilos, e que o Sorrows Path continue sempre nos dando insumos para tal.

Touching Infinity – Sorrows Path (Pure Steel Records, 2017)

Tracklist:
01. Intro To Infinity
02. Fantasies Will Never Die
03. Leneh
04. My Chosen God
05. Metaphysical Song
06. The Subconscious
07. Beauty
08. Forgiveness
09. Revival Of Feminine Grandeur
10. Touching Infinity

Line-up:
Angelos Ioannidis – vocais
Kostas Salomides – guitarras
George Vichos – guitarras
Stavros Giannakos – contrabaixo
Fotis Mountouris – bateria

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