Existe um pensamento errôneo, a respeito do Smashing Pumpkins, que o inclui no lugar comum do estilo que estourou com as bandas de Seattle. Uma espécie de lei do menor esforço mental: por serem contemporâneas, seriam semelhantes.
Nada poderia ser mais equivocado. Rock Alternativo? Sim, mas esse é um termo que finda por ser preciso pela imprecisão, pela abrangência ampla de interpretação de significado e que, no fim das contas, também não diferencia o grupo de Chicago daqueles provenientes do norte dos Estados Unidos. A música do Smashing Pumpkins é uma mescla equilibrada de suavidade e Noise, onde o Rock Progressivo se intercala com o Hard Rock, o Shoegaze e o Pop Rock. Menos afeita ao ímpeto Punk, a banda revela fortes influências de Psicodelia e dos conjuntos ingleses do cenário que gestou nomes como The Cure ou Echo and the Bunnymen, com o diferencial da utilização de distorções de guitarra em um nível não explorado por aqueles artistas. Billy Corgan merece os créditos pela manipulação dos elementos contidos em sua bagagem, devolvendo-os para o mundo exterior na forma de um som apropriadamente único.
“Gish” é um disco que exala os aromas de estreia, soando fluido e criativo, com arranjos que pairavam acima da tendência minimalista do período. A belíssima faixa “Rhinoceros”, que rapidamente ganhou um clip, é uma balada pontuada por trechos de impacto sônico e que tem o curioso poder de diminuir o metabolismo corporal do ouvinte. Você esvazia a cabeça de outras distrações e passa a pensar somente na música, passando também a mover-se de forma mais lenta durante a sua duração. Sensação oposta daquela gerada pelas duas músicas que abrem o disco, “I Am One” e “Siva”, mais dinâmicas e que precisavam ser apresentadas em posição anterior, para a devida ocupação de terreno pelo conjunto.
“Crush”, “Suffer” e “Tristessa” são da mesma natureza de “Rhinoceros”, carregadas de harmonias e texturas e representando a faceta mais melódica e melancólica da banda, fazendo um contraste tênue com o seu lado mais vigoroso – não dá pra usar a palavra “agressivo” aqui – já que, mesmo quando ataca com mais força, como em “Bury Me”, o Smashing ainda continua soando melódico e melancólico. A fase inicial, envolvendo esse primeiro álbum e os subsequentes “Siamese Dream” e “Mellon Collie and the Infinite Sadness”, estão entre os melhores trabalhos lançados, sob a nomenclatura Rock, nos turbulentos anos noventa. Essa é a fase em que a banda era realmente uma banda. Posteriormente, a obra do conjunto não chegou a mudar radicalmente, mas transitou por conduções mais acessíveis, sem perder a elaboração, e, após, retornou para modos mais herméticos, mas com profundidade translucida. O que veio depois deixou claro que o grupo tornou-se efetivamente o projeto solo de Billy Corgan, mantendo um saldo muito positivo em níveis de qualidade, apesar de um ou outro pequeno equívoco de trajetória, podendo se assentar ao lado de nomes desafiadores e inclassificáveis por natureza, tal qual Tool, Radiohead, Sigur Rós ou Neurosis…
Não obstante o talento de seus colaboradores, principalmente do pesado baterista Jimmy Chambelin, a banda representa a visão de Billy Corgan e sua continuidade depende de seus humores. Ele já ameaçou, no passado, um encerramento de atividades e voltou atrás. Enquanto ainda tiver algo a dizer que continue a se pronunciar. Eu estou interessado em escutar.
Formação
Billy Corgan – vocal, guitarra, teclado
James Iha – guitarra
D’arcy Wretzky – baixo, vocal em “Daydream”
Jimmy Chamberlin – bateria
Músicas
- I Am One
- Siva
- Rhinoceros
- Bury Me
- Crush
- Suffer
- Snail
- Tristessa
- Window Paine
- Daydream